A sátira à crise migratória usando imagens da morte do menino sírio Aylan Kurdi, feita pelo jornal francês ‘Charlie Hebdo’, tomou as páginas de jornais e causou comoção nas redes sociais. Embora os desenhos sejam pesados -- por lembrar uma das cenas mais tristes da recente crise migratória na Europa --, seu teor tem divido opiniões.
Aylan Kudi foi encontrado morto em uma praia turca no início do mês. Sua família tentava escapar da guerra civil síria e chegar à Europa.
Na segunda-feira (14), o advogado Peter Herbert, diretor da Sociedade de Advogados Negros do Reino Unido, afirmou que o órgão abrirá uma medida contra o periódico. “O jornal é uma publicação racista, xenofóbica e ideologicamente falida que representa o decaimento moral da França”, escreveu no Twitter.
Com um tom um pouco mais suave, ele completou em outro tweet: “Humor e sátira devem ser aplaudidos, mas com a morte de uma criança, jamais. Nós fazemos piadas sobre o Holocausto ou genocídios?”.
Nos desenhos publicados pelo jornal, o menino que se tornou símbolo da crise migratória aparece morto na praia diante de um anúncio da rede de fast food McDonald’s, que diz “dois menus de criança pelo preço de um”. A legenda diz “Tão perto da meta”.
Em outro cartoon, legendado com “A prova de que a Europa é cristã”, o menino aparece como uma figura martirizada como Jesus, com mensagens dizendo que “os cristãos andam na água e crianças muçulmanas afundam”. E, em outra, ele aparece com um personagem de um programa de TV infantil e a mensagem mostra “Bem-vindo à ilha das crianças”.
Por outro lado, muitos enxergaram nas charges uma crítica válida. “Companheiros muçulmanos, gosto é uma questão relacionada aos olhos de quem vê. Mas estes cartoons são uma condenação a nosso sentimento contra refugiados. A imagem do McDonald’s tece uma crítica ao consumismo sem coração dos europeus enquanto encaramos uma das piores tragédias humanitárias de nossos tempos”, escreveu o político e ativista britânico, filho de paquistaneses, Maajid Nawaz em seu Facebook.
“A charge de Cristo andando sobre as águas enquanto um muçulmano afunda é (tão obviamente) uma crítica à hipocrisia do ‘amor’ cristão europeu”, completou.
O colunista da rede de notícias ‘Bloomberg’ Leonid Bershidsky aprofunda o argumento. “Se as pessoas que agora estão se mostrando indignadas com a caricatura de Aylan Kurdi apoiaram o ‘Charlie Hebdo’ no passado usando a frase ‘Je Suis Charlie [somos todos Charlie], certamente o fizeram pelos motivos errados. A revista foi atacada por jogar símbolos poderosos no moedor. E o fez novamente com a agora icônica imagem do menino morto”, diz.
Em janeiro, o ‘Charlie Hebdo’ foi atacado por extremistas islâmico que entraram em sua redação e mataram jornalistas e chargistas . As sátiras aos Islamismo feitas pelo jornal são apontadas como motivação. A hashtag #JeSuisCharlie, em apoio ao jornal e à liberdade de expressão, foram amplamente usada nas redes sociais.
“Como de costume, a mensagem do ‘Charlie’ é transparente: ‘não ouse usar esta imagem para discussões rasas, caridade ineficiente; não seja omisso porque não é seu filho ou filho de um europeu; não transforme esta imagem em um clichê político”, completa Bershidsky.