A polícia australiana anunciou nesta terça-feira a detenção em Brisbane de um médico indiano supostamente ligado aos outros sete suspeitos detidos na Grã-Bretanha na investigação dos atentados fracassados em Londres. O procurador-geral Philip Ruddock disse em entrevista coletiva que o detido é um homem de 27 anos. Ele foi preso na noite de segunda-feira no aeroporto de Brisbane, capital do estado de Queensland, quando tentava embarcar num vôo com destino a outro país. Ruddock acrescentou que a equipe antiterrorista da polícia de Queensland agiu em colaboração com agentes da Polícia Federal. As duas forças receberam informações fornecidas pelas autoridades britânicas.
O chefe do estado de Queensland, Peter Beattie, não revelou a identidade do detido. Mas disse que ele é um médico, empregado no hospital Gold Coast. Em entrevista coletiva, o primeiro-ministro australiano, John Howard, anunciou que o detido é indiano e chegou à Austrália recomendado pelo departamento de saúde do estado de Queensland.
Segundo Beattie, o suspeito começou a trabalhar no hospital em setembro de 2006. Ele era considerado no hospital um excelente" profissional, com ótimas referências.
- Segundo o hospital, ele tem sido um bom funcionário. Atuava nos setores de clínica geral e emergências - acrescentou Beattie, revelando que existe uma relação entre o detido e os atentados fracassados do fim de semana nas cidades britânicas de Londres e Glasgow.
Mas Ruddock preferiu não confirmar a suposta ligação, para não atrapalhar a investigação em andamento, que avançou nesta terça com o interrogatório de um segundo médico. Beattie não esclareceu se o outro suspeito também trabalha no Gold Coast e nem se ele conhece o indiano detido.
Beattie acrescentou que o médico interrogado não é australiano e chegou ao país vindo de Liverpool, assim como o detido. Mick Keelty, chefe da Polícia Federal, afirmou que o detido não se encontrava na lista de possíveis terroristas elaborada pela polícia.
Oito pessoas já foram detidas pelos atentados fracassados em Londres e Glasgow. Entre elas estão dois médicos muçulmanos que trabalham em hospitais do Grã-Bretanha.
Ruddock disse aos jornalistas que Canberra não elevará seu nível de ameaça terrorista após a detenção. Ele explicou que não há informações sobre ataques terroristas específicos.
A Austrália não sofreu até o momento nenhum ataque terrorista em seu território. Mas seus interesses e cidadãos foram alvo de atentados na Indonésia. O mais grave foi o de 2002 na ilha indonésia de Bali, onde morreram 202 pessoas, entre elas 88 turistas australianos. O ataque foi atribuído à Jemaah Islamiya, braço da Al Qaeda no sudeste asiático.
No entanto, nove pessoas estão sendo processadas na Austrália por planejar delitos terroristas no país com bombas semelhantes às usadas nos atentados de julho de 2005, em Londres.
Diante das ameaças de atentados que levaram a Grã-Bretanha ao alerta de terrorismo "crítico", já se fala numa nova tática usada por terroristas para atacar alvos na região . Se os atentados de 7 de julho e planos desbaratados em 2004 chamaram a atenção para o crescimento do extremismo doméstico, há quem tema agora que os radicais estejam usando brechas na infra-estrutura britânica para se infiltrar no país. Entre os sete presos por suspeita de tentar atacar o centro de Londres, na sexta, e o aeroporto de Glasgow, no sábado, estão dois médicos. E o Sistema Nacional de Saúde é um ponto ideal para entrar na Grã-Bretanha, uma vez que a escassez de funcionários e médicos abriu as portas britânicas para mais de 20 mil profissionais do exterior, inclusive centenas vindos de países árabes.
Polícia detona artefatos em hospital onde suspeito está internado
Na segunda-feira, uma unidade do esquadrão antibomba escocês detonou pelo menos dois dispositivos suspeitos no Hospital Royal Alexandra, onde um dos homens que atacou o aeroporto de Glasgow está internado. De acordo com a polícia, o iraquiano Bilal Abdulla, outro dos acusados, trabalhou no hospital e foi treinado no Iraque. Ele seria um dos dois homens a bordo do jipe que se chocou contra uma das entradas do saguão do aeroporto escocês.
A polícia informou que o jordaniano Mohammed Asha, de 26 anos, que foi detido com sua esposa, também seria médico. Asha, segundo o governo jordaniano, é de origem paquistanesa. Mas o pai do médico, que mora na Jordânia, disse que vai pedir à família real do país que interceda pelo filho, que ele garante não ter qualquer ligação com o extremismo islâmico, apesar de classificar Asha como devoto. Autoridades informaram que oitos suspeitos de envolvimentos nas tentativas de atentados em Londres e Glasgow foram presos, sendo o último na noite de segunda-feira.
Segundo o Ministério da Saúde britânico, Abdulla se formou como médico em 2004 e se licenciou na Grã-Bretanha logo depois. Já Asha, se formou em medicina na Jordânia em 2004 e seguiu o mesmo caminho do 'colega'. Asha teria trabalhado num hospital da Inglaterra.
Desde a tentativa de atentado em Glasgow , a Grã-Bretanha está sob o alerta de terrorismo "crítico", seu nível máximo.