Milhares de líbios celebraram a libertação da cidade de Benghazi do controle de Muammar Kadafi, apesar dos rumores de que o líder teria enviado um avião para fazer um bombardeio contra os revoltosos.
Mas a tripulação se ejetou do avião depois da sua decolagem em Trípoli, a capital, e o aparelho acabou caindo a sudoeste de Benghazi, segunda maior cidade do país, segundo relato de uma fonte militar ao jornal local Quryna.
Trípoli e o restante do oeste líbio continuam sob o domínio de Kadafi, e moradores da cidade disseram estar com muito medo de milícias pró-governo e, por isso, evitam sair de casa desde um discurso em que o ditador ameaçou usar a violência contra manifestantes, na noite de terça-feira.
Até mil pessoas já morreram desde que a revolta começou na Líbia, cerca de uma semana atrás, disse o chanceler italiano, Franco Frattini, enquanto governos do mundo todo se apressam para retirar seus cidadãos.
Autoridades, militares e diplomatas previamente leais a Kadafi parecem estar abandonando o líder, no poder desde 1969. Um pequeno avião líbio impedido de pousar em Malta na quarta-feira levava uma filha de Kadafi, disse a TV Al-Jazira.
O preço do petróleo ultrapassou os 110 dólares por barril, refletindo o receio de que o caos se espalhe para outros países produtores e afete o fornecimento. Mas fontes do setor disseram que petroleiros carregados conseguiram deixar os portos líbios nas últimas 24 horas.
MERCENÁRIOS
Um oficial da Força Aérea líbia em Benghazi, major Rajib Faytouni, disse ter visto até 4.000 mercenários chegando à cidade, berço da revolta contra Kadafi, em aviões de transporte militar entre os dias 14 e 16 de fevereiro.
"Por isso nos voltamos contra o governo. Isso e o fato de que havia uma ordem de usar aviões para atacar pessoas", disse ele ao jornal britânico Guardian.
Hossam Ibrahim Sherif, diretor do centro de saúde de Benghazi, disse à Reuters que cerca de 320 pessoas foram mortas na cidade.
Grande parte do leste do país, importante região produtora de petróleo, está agora nas mãos dos rebeldes. Uma prisão vazia estava em chamas em Benghazi, e as pessoas soltavam rojões e buzinavam para celebrar o fim da violência dos últimos dias.
O canal britânico Sky News exibiu imagens de mísseis antiaéreos no que disse ser um quartel abandonado perto de Tobruk, também no leste.
Países que mantêm relações comerciais intensas com a Líbia se empenham em retirar milhares de cidadãos seus, especialmente depois de um trabalhador turco ser morto em uma construção perto da capital, segundo autoridades de Ancara.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou o uso da violência e pediu punição aos responsáveis por abusos contra civis.
A Grã-Bretanha disse estar pressionando as autoridades líbias a reabrirem um aeroporto militar a fim de ajudar nas retiradas, e propôs uma resolução do Conselho de Segurança que condene mais formalmente a violência.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está muito preocupado com os cidadãos norte-americanos na Líbia, segundo a Casa Branca, e avalia a possibilidade de sanções da ONU a Trípoli.
A França se tornou o primeiro país a defender abertamente esse recurso. "Eu gostaria da suspensão das relações econômicas, comerciais e financeiras com a Líbia até segunda ordem", disse o presidente Nicolas Sarkozy.
TROPAS NO OESTE
Gaddafi mobilizou tropas a oeste da capital para tentar conter a revolta que começou no leste, onde muitos soldados desertaram.
Em Tobruk, o general Soliman Mahmoud al Obeidy disse à Reuters que Gaddafi não é mais confiável. "Tenho certeza de que ele cairá nos próximos dias", afirmou.
O líder líbio, que já foi muito respeitado pela população do país apesar do seu regime repressor, convocou uma grande manifestação de apoio na quarta-feira, mas apenas cerca de 150 pessoas foram à praça Verde, no centro de Trípoli, levando a bandeira líbia e o retrato de Kadafi.
A maioria das ruas esteve quase deserta, e alguns poucos cafés pareciam ser os únicos negócios em funcionamento, apesar do apelo do governo pela volta da população ao trabalho, enviado aos assinantes das duas estatais de telefonia celular.
"Muita gente está com medo de sair de casa em Trípoli, e atiradores pró-Gaddafi estão vagando por aí, ameaçando quaisquer pessoas que se reúnam em grupos", disse o tunisiano Marwan Mohammed, que cruzou a fronteira de volta para o seu país.
Estima-se que 1,5 milhão de estrangeiros estejam na Líbia a trabalho ou de passagem, e que um terço da população de 7 milhões seja de imigrantes da África Subsaariana. Testemunhas descreveram cenas caóticas durante a tentativa de partida.
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