"Vi a morte tão perto... Nunca me esquecerei das botas negras se aproximando. Tive a impressão de que era a morte que chegava." Shahrukh Khan, de 16 anos, é um dos alunos que escaparam do massacre na Escola Pública do Exército, em Peshawar, no Paquistão. Mas, para se salvar, teve que se fingir de morto.
Em uma cama de hospital, Khan contou como foi o ataque do Talibã, vivido horas antes e que deixou mais de 140 mortos a maioria, estudantes como o adolescente. O jovem estava no auditório quando entraram quatro homens armados. "Alguém gritou para que nos abaixássemos e nos escondêssemos embaixo das mesas", relatou.
Membros do grupo fundamentalista islâmico Talibã no Paquistão haviam invadido a escola, mantida pelo Exército em um bairro de classe média alta e frequentada por filhos de militares e de civis. Um homem gritou "Deus é grande" e os tiros começaram, relembra Khan. O esconderijo não durou por muito tempo.
Um deles gritou: "Há muitos meninos debaixo dos bancos. Vão buscá-los. Vi um par de botas pretas vindo na minha direção". Esse homem provavelmente estava procurando alunos escondidos embaixo dos bancos.
A dor foi intensa quando as duas pernas foram atingidas por tiros, logo abaixo dos joelhos. Mesmo assim, o adolescente conseguiu permanecer em silêncio, como se estivesse morto.
"Dobrei minha gravata e coloquei na boca para não gritar. O homem de botas pretas continuou procurando estudantes e atirando neles. Fiquei o mais quieto possível, esperando que voltassem a atirar em mim. Meu corpo tremia. Vi a morte tão de perto...", disse.
Ao lado da cama, o pai, um comerciante, consola o jovem. Os lençóis do hospital estão manchados de sangue. "Um pouco depois, os homens saíram, e eu fiquei ali mais uns minutos. Quando tentei me levantar, caí. Eu me arrastei até o salão seguinte. Foi horrível. Vi o corpo da nossa secretária em chamas. Estava sentada na cadeira, o sangue escorria enquanto o corpo queimava". Shahrukh Khan diz que nunca se esquecerá das botas negras se aproximando.