A policial Angela Morris reconhece a importância de agentes mulheres destacadas para trabalhar com outras mulheres que sofreram algum tipo de violência| Foto: RICHARD PERRY/NYT

Espalhando-se pela plataforma da estação de metrô City Hall em Manhattan, policiais à paisana se misturavam a quem viajava pela manhã. Enquanto se preparavam para embarcar em um trem com destino à zona norte, observavam atentos, passageiro por passageiro.

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A equipe de sete policiais procurava homens que usam os recintos fechados do metrô para ficar próximo de mulheres. Alguns tocam furtivamente as passageiras enquanto outros se esfregam naquelas que escolheram como alvo.

Na Union Square, o detetive Marquis Cross viu um homem que reconheceu de uma prisão anterior por crime sexual parado de forma suspeita perto de uma passageira. Enquanto a mulher saía do trem, Cross foi atrás dela perguntar se sentira algo diferente. Ela contou que não, mas afirmou que o homem parecia próximo demais.

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Os policiais, todos do departamento de trânsito, trabalhavam na linha da Lexington Ave., uma das mais superlotadas de um sistema metroviário cada vez mais apinhado. Segundo a polícia, a lotação maior dá aos homens a chance de atacar as mulheres.

O policial Jonathan Correa, de boné, faz parte da equipe de policiais que trabalha à paisana na procura por agressores 

Os criminosos costumam sair e voltar a entrar no vagão na hora em que as portas fecham para terem a chance de se apertarem nos outros passageiros, explicou Cross. “Eles procuram um tipo determinado de aglomeração ou pessoa que querem seguir.”

O crime sexual oportunista no metrô não é novidade, muito menos para as mulheres. Algumas foram agarradas ou encaradas por um homem se masturbando. Muitas outras ouviram relatos de uma amiga que sentiu um toque incômodo, mas não sabia se deveria dizer alguma coisa.

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Todavia, câmeras de celular e as mídias sociais deram às mulheres uma ferramenta para contra-atacar e uma maneira de a polícia identificar alguns criminosos. No ano passado, em uma tentativa de incentivar mais vítimas a se manifestarem, a polícia começou a treinar mais agentes mulheres para trabalhar nos casos.

Agora, a polícia divulga um fluxo contínuo de alertas sobre tais crimes usando fotos dos telefones das vítimas para tentar identificar os suspeitos. Um tuíte recente compartilhou a foto de um homem suspeito de passar a mão nas nádegas de uma mulher de 27 anos no trem número sete no Queens. Dois dias antes, a polícia publicou a foto de um homem que teria se exibido para mulheres em dois trens na estação Grand Central.

Crimes relatados aumentaram 19% em um ano

Os crimes sexuais relatados no metrô subiram 19% no ano passado, de 620 denúncias em 2014 para 738 em 2015. Muitos desses crimes envolviam toques forçados e indecência pública, os tipos de crimes sexuais mais comuns que Cross e equipe investigavam naquela manhã na linha da Lexington.

O detetive Marquis Cross faz parte do time de policiais que está de olho no comportamento de homens no metrô 

Joseph Fox, chefe do departamento de trânsito da polícia, disse acreditar que o aumento das denúncias tinha a ver com mais mulheres se manifestando. Ele acredita que esse número continuará crescendo com o trabalho da polícia.

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“Muitos homens não sabem que esse problema existe, mas muitas mulheres sabem. É um crime que em grande medida não é denunciado”, declarou Fox durante entrevista.

Não é de hoje que anúncios no sistema de som do metrô alertam os passageiros quanto a transgressões sexuais, e a mídia social e a cultura popular chamaram mais atenção para o fato. O fenômeno virou trama da série “Master of None”, da Netflix, quando o personagem de Aziz Ansari confronta um criminoso no metrô.

A polícia efetuou perto de 400 prisões no ano passado por crimes sexuais no metrô de Nova York; quase 75% delas ocorreram quando policiais testemunharam um episódio ou uma vítima procurou um policial próximo que localizou o suspeito. “As vítimas costumam se sentir envergonhadas, confusas ou estão correndo para o trabalho, então nem sempre param para avisar um funcionário nem vão à delegacia”, disse Fox.

Uma das duas policiais da patrulha recente, a tenente Angela Morris passou a entender bem de crimes sexuais após trabalhar dois anos e meio nesses casos. As vítimas costumam estar chorando, expressando choque e humilhação, sentindo-se mais à vontade de falar com ela do que com seus colegas homens.

“Ela tem mais liberdade para me contar tudo que sente ter ocorrido”, disse Angela, acrescentando que já levou mulheres cujas roupas foram danificadas para comprar novas.

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As denúncias mais comuns em 2015 envolviam toques à força (340 casos) e indecência pública (223 casos), ambas consideradas contravenções. Houve 130 episódios de abuso sexual, que pode ser considerado contravenção ou crime. O estupro, considerado crime, é raro no metrô, segundo Fox. Um foi relatado no ano passado, contra cinco no ano anterior.

Em 2014, a Autoridade Metropolitana de Transporte criou um site para queixas ligadas ao problema, em que passageiros podem publicar fotos ou fazer uma denúncia anônima. A agência recebeu mais de 500 reclamações até agora, que são encaminhadas à polícia.

Força das redes sociais

Em setembro, Tiffany D. Jackson, 33 anos, escritora que mora em Crown Heights, Brooklyn, contou que um homem a seguiu no trem número três no Brooklyn, abriu as calças e se masturbou olhando para ela. Ela relatou o fato ao operador do trem e fez um boletim na delegacia de polícia, mas somente depois que publicou uma foto explícita do homem no Instagram ele foi preso.

Na estação do Brooklyn em que Tiffany relatou o encontro, o operador do trem a encaminhou a uma cabine para que fosse auxiliada. Porém, ela não achou a cabine e, a seguir, viu o agressor parado ao lado dela.

Ela contou ter passado a catraca, corrido à plataforma e pulado no primeiro trem para Manhattan. Na Times Square, a escritora procurou uma delegacia de polícia, onde o relato foi anotado, com uma descrição da foto em seu telefone. Entretanto, Tiffany contou ter sentido que não foi levada a sério. Depois que publicou a fotografia no Instagram e a história se espalhou, Fox lhe enviou um e-mail para pedir desculpas por ela ter sido atacada no metrô e afirmar que levava esses casos a sério.

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“O perturbador é que se eu não tivesse publicado a foto ele não teria sido pego. Nada teria acontecido”, avaliou ela.

Como parte do treinamento dos policiais de trânsito que investigam crimes sexuais, um grupo contra assédio chamado Hollaback está oferecendo orientação. A subdiretora do grupo, Debjani Roy, disse que os policias não devem fazer pouco caso das preocupações da vítima.

“É importante ter empatia e compreender que se trata de uma experiência muito traumática”, ela afirmou.