O Conselho Supremo das Forças Armadas advertiu neste domingo (27) que não tolerará nenhuma pressão, pouco antes de uma nova manifestação prevista na emblemática praça Tahrir, no Cairo, no Egito, para pedir que acelere a transição passando o poder a uma autoridade civil.
Na véspera das primeiras eleições legislativas desde a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro, consideradas como uma etapa crucial da transição, não é vislumbrada nenhuma solução para a crise política, que se exacerbou desde que os militares designaram na sexta-feira Kamal el-Ganzuri, um ex-ministro do antigo regime, para dirigir o governo.
O chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), o marechal Hussein Tantawi, deu a entender que Ganzuri não renunciará, apesar de Mohammed ElBaradei, figura da oposição, ter afirmado estar disposto a dirigir um governo de "salvação nacional".
"Temos enormes desafios que enfrentaremos e não vamos permitir que nenhum indivíduo ou partido faça pressão sobre as forças armadas", declarou à imprensa o marechal Hussein Tantawi.
Além disso, Tantawi afirmou ter pedido a ElBaradei e a Amr Moussa, duas personalidades influentes na política cujos nomes circulam para dirigir um eventual governo de "salvação nacional", que apoiem o novo primeiro-ministro Kamal el-Ganzuri.
O marechal Tantawi se reuniu com outras personalidades políticas neste domingo, mas vários "presidenciáveis" se negaram a participar das negociações, informou seu gabinete.
ElBaradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel da Paz, declarou no sábado estar disposto a renunciar à ideia de ser candidato à presidência se pedirem oficialmente a ele que forme um governo de salvação.
Mas a Irmandade Muçulmana, a força política mais organizada do país, considerou que este cargo deve recair sobre um dos seus, caso vença as legislativas.
"Supõe-se que o futuro parlamento represente o povo (...) o Conselho militar deve encarregar o partido que conseguir a maioria de votos de formar o próximo governo", afirmou à AFP seu porta-voz, Mahmud Ghozlan.
Na praça Tahrir, milhares de pessoas começavam a se concentrar no fim da manhã para participar da manifestação contra os militares, convocada pela Coalizão da Juventude da Revolução.
Após a morte de um manifestante no sábado pela manhã, os confrontos cessaram na praça, epicentro dos confrontos que deixaram ao menos 42 mortos no país em uma semana.
Desde sexta-feira, há contramanifestações de apoio ao exército, ao mesmo tempo em que protestos pedem sua saída do poder.
Estas concentrações levantam o medo de que as legislativas que começam na segunda-feira sejam envolvidas pela violência.
"O que tememos é que estas divergências se transformem em divisões e depois em guerra entre grupos que há alguns meses formavam um só bloco que pedia a queda do regime", adverte neste domingo o jornal governamental Al Ajbar.
Cerca de 40 milhões de eleitores de um total de 82 milhões de egípcios estão convocados a eleger nestas eleições 498 membros da Assembleia do Povo (câmara de deputados) e outros 10 serão nomeados pelo marechal Tantawi.
No plano diplomático, o ministro francês do Interior, Claude Guéant, apelou neste domingo aos militares egípcios para que cedam o poder aos civis. Os Estados Unidos fizeram o mesmo pedido na sexta-feira.
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