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As Forças Armadas do Egito anunciaram nesta quarta-feira (3) a destituição de Mohammed Mursi, primeiro presidente a ser eleito democraticamente no país depois da derrubada do ditador Hosni Mubarak.
Os militares anunciaram ainda a suspensão da Constituição, aprovada em dezembro de 2012. O chefe da Corte Constitucional, Adly Mansour, foi anunciado como presidente durante o período de transição. Segundo os militares, uma nova eleição deverá ser anunciada em breve.
Mohamed Mursi está preso, disseram um porta-voz da Irmandade Muçulmana e uma autoridade de segurança. Ahmed Aref, o porta-voz da Irmandade, disse ainda que Essam El-Haddad, um assessor do presidente deposto, também está preso. Segundo uma autoridade de segurança, eles estão sendo mantidos em um centro de inteligência militar.
Uliimato e golpe
Mursi disse que ações do chefe das Forças Armadas, Abdel Fatah al Sisi, são um "golpe" e que ele continua sendo o presidente do país. O presidente deposto pediu aos altos comandantes militares e aos soldados que cumpram a Constituição e a lei, não respondam ao golpe e evitem se envolver em conflitos.
Segundo o jornal estatal Al-Ahram, Mursi foi comunicado pelo Exército da deposição e de que não é mais chefe de Estado. A manobra foi feita após um ultimado de 48 horas dado pelos militares para que Mursi e a oposição resolvessem a crise deflagrada após uma série de protestos, que levou milhões às ruas do país, contra o governo.
Mursi e outros membros da Irmandade Muçulmana, grupo ao qual é filiado, foram proibidos de viajar. Na terça-feira (2), Mursi chegou propor um governo de coalizão, mas a oposição se recusou a dialogar com o governo.
Segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 39 pessoas morreram e mais de mil ficaram feridas nos últimos três dias no país, quando manifestações lotaram, entre outros locais, a praça Tahrir, conhecida como palco das principais manifestações que derrubaram Hosni Mubarak em 2011.
De acordo com o órgão, a maioria das vítimas era militante da Irmandade Muçulmana. Após o ataque, os islâmicos entraram em confronto com a polícia. O porta-voz do grupo religioso, Gehad el-Haddad, atribuiu o ataque a militares infiltrados.
Comemorações, protestos e mortes
Pelo menos nove pessoas morreram em choques entre forças de segurança e pessoas descontentes com o golpe militar que depôs o presidente Mursi. Houve confrontos no Cairo, Alexandria e diversas outras cidades egípcias. Segundo as forças de segurança, os confrontos começaram quando "islamitas" abriram fogo contra a polícia.
Temendo uma reação violenta dos correligionários de Mursi, o exército posicionou tropas e veículos blindados na capital e nas maiores cidades do país, perto de focos de manifestações de partidários do presidente deposto.
Na capital Cairo, os opositores lotaram a praça Tahrir e a frente do palácio presidencial, onde gritaram palavras de ordem contra o presidente. Fogos de artifício explodiram sobre toda a capital egípcia depois que o Exército suspendeu a Constituição e nomeou um novo chefe de Estado interino. "O povo e o Exército são um lado", gritaram os manifestantes na praça, em meio ao barulho das buzinas e cânticos.
Cerceamento de direitos
Mursi assumiu o cargo em 30 de junho de 2012, após eleições livre convocadas durante um período de intervenção militar, que se seguiu à derrubada da ditadura de três décadas de Mubarak. Sua eleição se deu com o apoio da Irmandade Muçulmana, por meio de seu partido, Liberdade e Justiça.
Com a Irmandade Muçulmana também conquistando a maioria na Assembleia Constituinte, seu governo foi marcado pelas reclamações de organizações feministas e de minorias, como os cristãos coptas, denunciando o cerceamento de seus direitos pela nova Constituição, apresentada em novembro e aprovada em referendo popular, no mês seguinte.
Resistência
Em nota minutos após o comunicado do Exército, a Presidência voltou a propor uma coalizão política, mas culpou a oposição por não aceitar suas propostas desde o ano passado. Os opositores boicotaram a iniciativa, afirmando que a ação do presidente era uma fachada para impor as medidas desejadas por ele.
Pouco antes, o porta-voz da Presidência, Ayman Ali, disse que Mursi não cederia a um golpe. "É melhor para o presidente morrer de pé, como uma árvore, a ser condenado pela história e as gerações futuras por jogar fora as esperanças dos egípcios para estabelecer uma vida democrática".
Mais cedo, o Ministério do Interior havia emitido comunicado se alinhando com o Exército e isolando ainda mais o governo. Nestes últimos dias, diversos membros de seu gabinete renunciaram, incluindo seu chanceler.
Em entrevista coletiva em Nasr City, o vice-presidente do braço político da Irmandade Muçulmana Essam el-Erian defendeu a legitimidade do governo de Mursi. "A vontade do povo foi expressa", disse El-Erian. "Nosso governo é baseado na maioria. Nós somos a revolução, e estamos protegendo a liberdade."
Minutos antes do comunicado do Exército informando sobre a deposição de Mursi, o assessor de segurança nacional do Egito, Essam el-Haddad, disse que um golpe militar estava em curso. Em seguida, manifestantes que estavam em frente ao palácio Itahedeya, no Cairo, receberam com gritos e aplausos a informação, divulgada pela emissora de televisão Al Hayat, de que Mursi está em prisão domiciliar. Em seguida, o Exército tomou as ruas da capital Cairo.
Veja fotos da deposição de Mursi