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Um deles se tornou pai enquanto estava nas profundezas de uma mina. Outro voltou à superfície com o esboço de um livro. Um terceiro foi recebido pela amante, enquanto a esposa ficou em casa.

Antes do desabamento da mina San José, em 5 de agosto, eles eram trabalhadores desconhecidos, labutando sob as rochas no deserto do norte do Chile.

Passados 69 dias, puderam ser resgatados na quarta-feira e foram recebidos na superfície como heróis nacionais, astros da mídia global, vendo sua vida privada exposta ao público.

O incrível resgate com a cápsula Fênix, num poço de 625 metros de profundidade e menos de 60 centímetros de diâmetro, foi transmitido ao vivo para o mundo inteiro, e visto por milhões de pessoas. Cerca de 1,5 mil jornalistas acompanham o trabalho.

Durante as várias semanas embaixo da terra, Victor Segovia escreveu dúzias de páginas, atraindo o interesse de editoras.

"Este é um livro que obviamente geraria muito interesse", disse Paul Bresnick, agente literário em Nova York. "Agora, como é que eu entro em contato com ele?"

A mulher de Ariel Ticona, que deve ser o penúltimo a ser regatado, na noite de quarta-feira, deu à luz neste mês uma menina, batizada de Esperança - como o acampamento onde os parentes aguardaram o resgate. O Chile espera ansioso as primeiras imagens do casal e da filha juntos.

Mas quem atraiu mais atenções foi Yonnis Barrios, de 50 anos. Ele deixou duas mulheres na superfície: a esposa, de quem estava separado, e uma namorada, com quem foi viver. O público estava ansioso para saber qual delas iria recepcioná-lo na boca do poço. Afinal foi a namorada, uma mulher loira que lhe deu um abraço apertado.

O boliviano Carlos Mamani, único não chileno entre os 33, encontrou-se com o presidente do seu país, Evo Morales, depois de ser tirado da mina.

Morales disse que a impecável operação de resgate ajudou a gerar confiança entre Chile e Bolívia, países vizinhos que não mantêm relações diplomáticas por causa de uma guerra do século 19, que privou os bolivianos de um acesso ao mar.

O primeiro mineiro a ser retirado foi Florencio Ávalos, 31 anos, que saiu com um aspecto surpreendentemente saudável para quem havia passado 69 dias na semiescuridão, sob forte calor e umidade.

O segundo foi Mario Sepúlveda, cujos gritos de alegria podiam ser ouvidos ecoando pelo poço antes da sua chegada. Ao sair da Fênix, pintada com as cores do Chile, ele deu socos no ar e, de uma bolsa amarela, retirou pedras que distribuiu como souvenir aos presentes, inclusive ao presidente Sebastián Piñera.

Omar Reygadas, 56 anos, um dos mais velhos do grupo, se enrolou na bandeira do seu time, o Colo-Colo, para o claustrofóbico trajeto de cerca de 15 minutos até a superfície, a liberdade e a fama.

Foi a terceira vez que Reygadas ficou preso numa mina, mas a família duvida que ele irá abandonar sua paixão por trabalhar debaixo da terra.

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