O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, classificou nesta segunda-feira (2) como "tranquila", embora "delicada", a situação no Paraguai, onde se encontra em missão de avaliação após o recente impeachment de Fernando Lugo da Presidência do país.
Insulza e os delegados da OEA se reuniram nesta segunda-feira com Lugo e antes com seu sucessor, Federico Franco, além do atual ministro das Relações Exteriores, José Fernández Estigarribia, que disse à imprensa que agradeciam por ter tido a possibilidade de "expor" sua versão dos fatos.
"Se de alguma coisa eu agradeço à delegação é que esta é a primeira vez que nos permitem expor. Este é o espírito que espero que seja introduzido em outros organismos internacionais", declarou Fernández Estigarribia, em alusão à suspensão do Paraguai do Mercosul e da União de Nações Sul-americanas (Unasul).
"As instituições estão plenamente vigentes, as tropas estão em seus quartéis, a Polícia garante a ordem, há absoluta liberdade de imprensa, não há restrições de nenhum tipo e não há presos políticos", ressaltou o chanceler.
O chefe da missão da OEA disse à imprensa que constatou uma situação "tranquila", independente da satisfação ou descontentamento do povo. Ele afirmou que não se atrevia a qualificá-la como "grave", mas como "delicada, pelo menos", segundo a agência de notícias estatal "IP" e vários meios de comunicação online.
Insulza esclareceu que sua missão é meramente informativa e que cabe ao Conselho Permanente e à Assembleia Geral da OEA tomar decisões ulteriores sobre o Paraguai. Mas ele garantiu que, de qualquer maneira, as decisões dos órgãos mencionados não serão influenciadas pela adotada pelo Mercosul e pela Unasul.
A missão, que inclui os representantes de EUA, Canadá, México, Honduras e Haiti na OEA, teria reuniões ainda nesta segunda-feira com as direções das duas câmaras do Legislativo, assim como com representantes do Poder Judiciário e com o líder do Partido Liberal, Blas Llano. Para terça-feira, estão programados novos contatos.
Lugo foi destituído da Presidência no dia 22 de junho passado por mau desempenho das funções, em um julgamento político realizado pelo Legislativo, um dia após os liberais lhe retirarem o apoio principal em sua coalizão de governo.
Nesta segunda-feira, o ex-líder saiu da reunião com Insulza sem falar com a imprensa como é seu costume, e almoçou depois com uma delegação da Esquerda Unitária Europeia-Esquerda Verde Nórdica do Parlamento Europeu, liderada pelo espanhol Willy Meyer.
Em uma tensa entrevista à rádio "Primero de Marzo", Meyer denunciou o que chamou de "golpe de Estado" a Lugo após um "julgamento sumaríssimo inaceitável" e comparou o novo presidente ao ditador espanhol Francisco Franco.
"Estamos com outro Franco, outro Franquito que apareceu aqui no Paraguai. Não temos nenhuma intenção de dar respiro às pessoas que, contra o povo, se levantam e depõem um presidente eleito", declarou.
Rodeado de colaboradores da Frente Guasú, bloco minoritário de esquerda que lhe mantém apoio, Lugo mediria suas forças nesta segunda-feira na primeira manifestação que convocou, em frente à Praça da Democracia, no centro de Assunção. Em dias passados, seus partidários informaram sobre manifestações a favor de Lugo em diversas localidades do interior do país.
As novas autoridades do Paraguai confiam que a tranquilidade geral com que os cidadãos acataram a mudança de poder, que conta ainda com o claro apoio da Igreja Católica e do empresariado do país, apaziguará os vizinhos que ainda se recusam a reconhecê-las.
Enquanto isso, continuam os revezamentos de altos cargos à frente de todas as instituições nacionais, desde a direção da hidrelétrica paraguaio-brasileira de Itaipu até o Programa de Sangue do Ministério da Saúde. Além disso, surgem as primeiras denúncias de "nepotismo" por parte do novo Executivo.
Como observou o chanceler na cerimônia de transferência de cargos em Itaipu, segundo um comunicado, a política internacional tem "vicissitudes" e "altos e baixos", mas "quando, no correr do tempo, forem solucionados os problemas, iremos descobrindo que aqui em Itaipu se seguiu trabalhando por um projeto superior, que é a civilização".