Uma multidão de monges tibetanos do sudoeste da China marchou em protesto contra a proibição de um serviço religioso, disseram advogados dos direitos humanos. Este foi o último incidente de uma série aparentemente crescente de atos de desafio contra o governo chinês. A manifestação começou neste domingo (1.º) quando monges do monastério de Sey, no condado etnicamente tibetano de Aba, na Província de Sichuan, reuniram-se para realizar uma cerimônia de orações chamada de Monlam para o Ano Novo Tibetano, que começou na semana passada, informou a Campanha Internacional pelo Tibete, entidade sediada na capital dos Estados Unidos, Washington.
A China proibiu o Monlam durante a Revolução Cultural, quando a maioria das práticas religiosas foi declarada ilegal. A cerimônia de uma semana, também conhecida como o Grande Festival das Orações, foi proibida novamente em 1990, um ano depois de Pequim ter lançado uma ofensiva contra protestos contra o governo no Tibete, numa provável tentativa de evitar reuniões de massa.
As tensões têm estado altas na área desde a semana passada, quando um monge budista tibetano do monastério de Kirti, nas proximidades, foi alvejado após ter ateado fogo ao seu corpo para protestar contra a proibição das orações e restrições religiosas. Não se sabe quem atirou no monge. As autoridades chinesas negaram, nesta segunda-feira, que a política tenha estado envolvida com os tiros, informou a agência de notícias oficial Xinhua.
Mas a presença de policiais paramilitares tem claramente aumentado nas últimas semanas em comunidades tibetanas, em antecipação ao aniversário das manifestações contra o governo, ocorridas no ano passado, e ao aniversário do levante de 1959, que levaram o Dalai Lama ao exílio.
Quando os funcionários do governo chinês interromperam a cerimônia de domingo, os monges deixaram a sala de orações e marcharam na direção da cidade, gritando que eles deveriam ter permissão para observar o Monlam, informou a Campanha Internacional pelo Tibete, por e-mail, citando fontes não identificadas. "Eles andaram por cerca de dez minutos...antes de serem agarrados por funcionários do governo que pediram aos monges que não prosseguissem, temendo uma violenta resposta das tropas estacionadas na área", disse a organização.
Funcionários de segurança armados logo apareceram e os monges retornaram para seus monastérios, informou o grupo. "Eles estão agora cercados por policiais armados e devem estar sob confinamento depois do protesto", segundo a organização.
De acordo com a Campanha Internacional pelo Tibete, cerca de 600 monges participaram do protesto, enquanto o Estudantes por um Tibete Livre, outro grupo de direitos humanos, afirmou que havia 50 monges.
É difícil obter informações sobre assuntos políticos sensíveis - como o Tibete - tanto de autoridades quanto de cidadãos comuns, que temem retaliações se falarem. A região está fechada para jornalistas e estrangeiros.
Um funcionário do departamento de propaganda do Partido Comunista do condado de Aba, cujo sobrenome é Nong, disse nesta segunda-feira que "tal episódio não ocorreu". Outro funcionário do mesmo departamento disse não ter ouvido nada sobre o incidente. Vários habitantes e recepcionistas de hotéis em Aba que responderam chamadas telefônicas disseram não ter visto nada
O autoproclamado governo do Tibete no exilo em Dharmsala, Índia, confirmou a realização do protesto, mas disse que não há detalhes sobre o ocorrido. "Essas ações mostram a intolerância religiosa demonstrada pelas autoridades chinesas", disse o porta-voz do governo Thupten Samphel.
A China se prepara para a possibilidade de mais manifestações no Tibete neste ano com a aproximação do aniversário de um ano dos protestos de 14 de março, em Lhasa. O levante, o maior e mais longo em décadas, espalhou-se por comunidades tibetanas próximas e tropas chinesas inundaram a região. Março também marca o 50º aniversário do fracassado levante contra o governo chinês que fez com que líderes espirituais fossem para o exílio. As informações são da Associated Press.