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Brasília

Morre o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner

O ex-ditador do Paraguai Alfredo Stroessner, de 93 anos, morreu nesta quarta-feira no Hospital Santa Luzia, em Brasília, onde estava internado há duas semanas em função de uma pneumonia.

Segundo o coordenador da UTI do hospital, Stroessner estava muito fraco, sedado e respirando com a ajuda de aparelhos. O ex-ditador chegou ao hospital pesando pouco mais de 50 quilos e alimentava-se por meio de sonda.

Stroessner era asilado político em Brasília desde 1989, quando um golpe de Estado liderado por seu consogro, o falecido general Andrés Rodríguez, colocou fim ao seu sanguinário regime, iniciado em 1954.

No mês passado, Stroessner foi submetido a uma cirurgia de hérnia inguinal (na virilha). Depois da operação, contraiu uma pneumonia, que o levou para a UTI, segundo Sérgio Tamura, diretor do hospital.

Stroessner era réu em vários processos no Paraguai por violações aos direitos humanos. Era também acusado de envolvimento na Operação Condor, pela qual regimes militares sul-americanos da década de 1970 trocavam informações e presos políticos. Órgãos de direitos humanos lhe atribuíam mais de 900 assassinatos e milhares de casos de torturas. (Conheça os principais fatos da história do ex-ditador)

Ex-ditador exilou-se no Brasil em 1989

Alfredo Stroessner nasceu na cidade de Encarnación, no Paraguai, em 3 de novembro de 1912. Filho do imigrante alemão Hugo Wielhem e da camponesa paraguaia Heriberta Matiauda, começou cedo a carreira militar, aos 17 anos, ajudado por um tio. Apenas dois anos depois, já como tenente, participou da Guerra do Chaco (1932-1935) contra a Bolívia, que abriu caminho para uma meteórica carreira militar. Em 1948, aos 36 anos, Stroessner tornou-se o mais jovem general de brigada de toda a América do Sul.

Em maio de 1954, Stroessner liderou o golpe de Estado que derrubou o presidente Federico Chávez, eleito no ano anterior. Em agosto, foi escolhido presidente pela Junta de Governo, cargo que manteria até 1989, após oito mandatos consecutivos (1954, 1958, 1963, 1968, 1973, 1978, 1983, 1988). Ele foi foi deposto em 1989 pelo general Andrés Rodríguez, seu consogro, num golpe que abriu caminho a um sistema de eleições abertas.

Ao todo, Stroessner se manteve no cargo por 35 anos, um dos regimes mais duradouros do século XX na América do Sul.

Consolidação

Na etapa de consolidação do seu regime, Stroessner mostrou o que seria o rosto do resto do seu governo: ao lado de colaboradores civis do Partido Colorado, organizou um gigantesco expurgo que resultou no exílio, na prisão ou no assassinato de muitos de seus ex-companheiros.

Promoveu a afiliação compulsória ao Partido Colorado, proibiu os demais partidos e reprimiu os movimentos de oposição, instaurando um estado de sítio que vigorava de forma quase permanente.

Stroessner também participou ativamente da chamada "Operação Condor", de troca de informações e presos políticos entre as ditaduras sul-americanas da época. Não enfrentou grande resistência armada e tratou de desmembrar qualquer organização social por meio de um eficiente sistema de controle.

"Café ou leite, nada de café com leite", declarou uma vez para alertar seus compatriotas que se não estavam com seu governo, estavam contra e deveriam enfrentar as consequências.

Órgãos de direitos humanos atribuem ao seu regime pelo menos 900 casos de assassinatos e desaparecimentos de opositores e milhares de casos de tortura. A ajuda econômica norte-americana contribuiu com sua permanência no poder, tocando projetos de infra-estrutura para a integração paraguaia, que deram espaço à fase de maior legitimidade do seu governo, entre 1962 e 77.

Nesse período, Stroessner sancionou uma Constituição feita sob medida, que vigorou até 1992, e permitiu um sistema pluralista limitado, com partidos comandados por figuras leais ao ditador.

Foi também quando se fortaleceu o sistema corrupto de distribuição de verbas e privilégios, uma época de bonança econômica graças à construção, com o Brasil, da hidrelétrica de Itaipu, então a maior do mundo.

Queda

Durante o "boom" de Itaipu, o desemprego caiu e a economia cresceu como nunca antes. Mas o esplendor econômico acabou, assim como o apoio internacional, num momento em que aumentavam as disputas dentro da elite do poder por causa da sua sucessão. Quando o descontentamento chegou à cúpula militar, a queda de Stroessner se acelerou.

Nos primeiros dias de fevereiro de 1989, depois de disputas entre forças leais e contrárias ao presidente, Andrés Rodríguez leu um manifesto que dizia: "Saímos dos nossos quartéis em defesa da dignidade e da honra das Forças Armadas."

Stroessner se rendeu e partiu para Brasília, onde permaneceu no exílio até seus últimos dias. Morou num bairro luxuoso da capital brasileira, onde teve uma vida discreta e distante do contato com a imprensa, sempre na companhia do filho Gustavo.

Com a mulher, Eligia Mora, que morreu em fevereiro, aos 95 anos, Stroessner teve quatro filhos, embora os biógrafos garantam que ele tem também dezenas de filhos que não foram reconhecidos.

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