A morte do ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner deve alterar profundamente o quadro político do país, segundo analistas ouvidos pelo G1. Marido da atual presidente, Cristina Kirchner, ele era visto como a força por traz do governo.
"Os Kirchner ultimamente estavam em situação muito crítica. A situação econômica do país está muito débil. O que vai acontecer nos próximos dias, ninguém sabe", diz o professor de estudos da América Latina da ESPM, Mário Gaspar Sacchi, nascido na Argentina. "Era ele que estava no poder, era ele que dominava, ela era relações públicas", aponta.
O ex-presidente argentino Néstor Kirchner morreu por volta das 10h desta quarta-feira (27), vítima de um ataque cardíaco. Kirchner morreu depois de ter sido internado emergencialmente por problemas cardíacos no hospital José Formenti, na cidade de El Calafate, na província de Santa Cruz, berço político do casal Kirchner.
Para o economista Roberto Troster, da consultoria S/A M, a morte de Kirchner vai abrir espaço para o surgimento de novas lideranças.
"O grande mérito de Kirchner foi a renegociação da dívida externa argentina. Ele impôs liderança ao governo presidencial após o fragilizado governo do ex-presidente Fernando De La Rúa, com a crise de 2001, a moratória e o corralito. Porém, Kirchner não soube se adaptar aos novos tempos, e o país não se desenvolveu como os vizinhos", diz o ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Troster, argentino nascido em Buenos Aires, está no Brasil há mais de 30 anos.
Expansão econômica
Os anos de Néstor Kirchner na presidência da Argentina (2003-2007) foram marcados por uma forte expansão da economia. Já em 2003, primeiro ano de seu governo, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou crescimento de 8,8%, revertendo uma queda de mais de 10% no ano anterior.
O mérito de seu governo na recuperação econômica, no entanto, é questionado pelos especialistas.
"Em 2000, 2002, a economia teve uma queda de uns 20%, então crescer muito em 2003 não é nada mais do que recuperar um desastre completo", diz o professor Alberto Pfeifer, Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (Gacint) da Universidade de São Paulo (USP). "O crescimento recente da Argentina da metade dos anos 2000 se deve basicamente à China, que aumentou a demanda por commodities agrícolas. Os países que exportam foram beneficiados", aponta.
Para Pfeifer, Kirchner teve mérito na distribuição da renda gerada por essas exportações, fazendo repasses das riquezas extraídas dos exportadores. Ao mesmo tempo, no entanto, essas políticas geraram uma insegurança econômica.
"Esse manejo intempestivo, populista mesmo da economia causa alguns impactos benéficos no curto prazo, mas é extremamente daninho no longo prazo, porque afugenta os investidores", diz o professor.
Empresas enfrentam “tempestade perfeita” com inflação, contas do governo e alta de juros
Bancada governista faz malabarismo para acabar com escala 6×1; acompanhe o Entrelinhas
Vereadores de Cuiabá receberão mais de R$ 57 mil com “gratificação por desempenho”
Os verdadeiros democratas e o ódio da esquerda à democracia
Deixe sua opinião