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Parada cardíaca

Morte de Kirchner mergulha Argentina na incerteza política

Néstor Kirchner em novembro de 2007, antes de deixar a Presidência: sonho do segundo mandato foi interrompido | Enrique Marcarian/Reuters
Néstor Kirchner em novembro de 2007, antes de deixar a Presidência: sonho do segundo mandato foi interrompido (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)

Desde as 9h15 da manhã de on­­tem a política argentina vive um cenário de total incerteza, com a morte do ex-presidente Néstor Kirchner, considerado o verdadeiro poder no governo de sua esposa, a presidente Cristina Kirchner. O ex-presidente estava em El Ca­­lafate, no extremo sul da Argen­­tina, aproveitando o feriado na­­cio­­nal com sua esposa, quando passou mal de madrugada, en­­quanto estava no meio de uma reunião em sua casa. Às 7 h – em uma ma­­­­ca, acompanhado pela presidente Cristina – entrou no Hospital Jo­­sé Formenti. Pouco mais de duas horas depois, apesar das tentativas dos médicos em reanimá-lo, o homem mais poderoso da Argen­­tina deixou de existir.

Oficialmente, segundo seu médico, Luis Bonuomo, Kirchner teve uma "parada cardíaca com morte súbita". Sua viúva, a presidente Cristina, terá pela frente a dura tarefa de ocupar o vácuo político que seu falecido marido deixa. Kirchner centralizava as decisões do governo, reunia-se com os ministros da própria esposa, empresários e sindicalistas.

Esse intenso protagonismo ha­­via gerado diversos curto-circuitos entre os cônjuges. Nos últimos dois meses houve uma troca de farpas em público sobre quem se­­ria o candidato presidencial do governo nas eleições do ano que vem. Aliados de Kirchner que eram ministros de sua esposa in­­dicaram que o candidato seria o "pinguim" (apelido do ex-presidente). Cristina, visivelmente irritada com seus próprios ministros, respondeu durante um comício: "E por que não pode ser a pinguim fêmea?". Segundo o analista político Rosendo Fraga, "sem Kirch­­ner, Cristina poderá assumir o poder".

"Até o último momento ele se encarregou de deixar evidente que era ele quem exercia realmente o poder e não sua esposa", ascrescenta Fraga.

Críticas à parte, especialistas acreditam que – por mais trágico que pareça – esta é a chance de Cristina. Uma oportunidade que surge justamente um ano antes das próximas eleições e precisamente a treze meses do fim de seu mandato. "Ela tem agora a oportunidade de modificar, retificar, corrigir, mudar uma série de as­­pectos, estilos, orientações e políticas impostas por seu marido", observa Fraga.

Mas a tarefa de Cristina não será fácil. Afinal ela governa um país que, apesar da franca recuperação econômica, ainda não confia em seu governo. A presidente conta com a aprovação de apenas um em cada três argentinos – uma situação nada cômoda para uma presidente que, caso não reverta os atuais índices, possivelmente não tenha chance alguma a aspirações políticas imediatas.

Em resumo, a morte de Néstor Kirchner cria uma grande vazio político na vida argentina. Sem Néstor, Cristina fica enfraquecida e torna-se um alvo ainda mais fácil para imprensa e para os demais críticos. Resta a ela, agora, rever os caminhos políticos trilhados, reorientar sua conduta e tentar aproveitar, da melhor maneira possível, os doze meses que a separam do futuro pleito presidencial.

Governabilidade

Para evitar rumores sobre problemas de governabilidade o secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Hugo Moyano, convocou uma reunião de emergência da principal central sindical do país (que é a maior base de apoio so­­cial do governo) e de­­clarou "apoio para que o modelo econômico continue".

Nos organismos de defesa dos direitos humanos o clima era de tristeza.

"Mor­­reu um ir­­mão", disse a presidente das Avós da Praça de Mayo, Estela de Carloto, cuja organização foi beneficiada com o respaldo de Kirchner na investigação dos crimes da ditadura militar (1976-1983).

Líderes da oposição e empresários, que haviam mantido duros confrontos com Kirchner nos últimos anos, deixaram de lado nesta quarta-feira as divergências e ressaltaram seu "pesar" pelo falecimento do ex-presidente.

O ex-presidente Carlos Me­­nem (1989-1999), que disputou contra Kirchner as eleições presidenciais de 2003, destacou que Kirchner era uma pessoa "trabalhadora". No ano passado Menem chamou Kirchner de "anti-Cristo da economia argentina".

O velório de Kirchner será realizado hoje a partir do meio-dia na Casa Rosada, o palácio presidencial, em Bue­­nos Aires.

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