Vice do Egito se diz comprometido com transferência de poderes
O vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, disse na quinta-feira que está comprometido em fazer todo o que for possível para garantir uma transferência pacífica de poderes.
Ele fez as declarações minutos depois que o presidente do país, Hosni Mubarak, no cargo há 30 anos e pressionado a renunciar, concedeu a ele poderes presidenciais. Mubarak, no entanto, disse que não deixará o Egito.
Suleiman afirmou que estava comprometido a atender as demandas do povo por meio do diálogo que, segundo ele, já começou.
O vice-presidente acrescentou que os egípcios não serão arrastados ao caos nem serão usados como instrumentos para sabotagem. Segundo ele, o Exército protegeu a "revolução da juventude".
Reuters
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, provocou raiva nas ruas do Egito nesta quinta-feira (10), ao fazer um pronunciamento em que anunciou que irá transferir alguns poderes ao seu vice, mas que não irá renunciar imediatamente ao cargo.
Veja fotos da população durante o discurso de Mubarak.
"Fora! Fora!", gritavam milhares de pessoas reunidas na praça Tahrir, no Cairo, epicentro das manifestações das últimas duas semanas contra Mubarak, no poder há 30 anos.
Mas o ex-general de 82 anos não cedeu aos manifestantes, e durante o pronunciamento preferiu se apresentar como um patriota com a obrigação de promover uma transição ordeira até as eleições de setembro, quando deve deixar a Presidência.
Ele elogiou os jovens que deixaram o mundo árabe perplexo com suas inéditas manifestações e ofereceu mudanças constitucionais que deem mais influência a seu recém-nomeado vice Omar Suleiman.
Agitando seus sapatos acima da cabeça, num clássico gesto árabe de desprezo, a multidão no centro do Cairo mantinha o grito: "Abaixo, abaixo Hosni Mubarak".
Em seu discurso de 20 minutos transmitido pela TV, Mubarak disse que não cederá à pressão internacional - um recado para Washington, que tem cobrado uma saída rápida do seu antigo aliado -, e afirmou que irá "delegar ao vice-presidente da república as prerrogativas do presidente da república, pela maneira fixada na Constituição".
Suleiman, de 74 anos, ex-chefe dos serviços de inteligência, não é muito popular entre os manifestantes, que reivindicam um rompimento completo com o sistema de domínio militar que há seis décadas vigora no país, o mais populoso do mundo árabe.
Após o discurso de Mubarak, Suleiman apareceu na TV estatal dizendo que já há um "mapa" para a transferência de poderes, e garantiu que irá comandar uma "transição de poder pacífica".
Depois de ter prometido na semana passada que não irá disputar um novo mandato em setembro, Mubarak disse, dirigindo-se aos manifestantes: "Senti toda a dor que vocês sentiram (...). Não vou recuar na minha reação à sua voz e ao seu apelo. Suas exigências são legítimas e justas (...). Não há vergonha em escutar suas vozes e opiniões, mas recuso todo e qualquer ditame do exterior."
"Anunciei meu compromisso de entregar pacificamente o poder depois das próximas eleições", acrescentou. "Vou entregar o Egito e seu povo em segurança."
Comunicado militar
Após o discurso da semana passada, muitos egípcios que não pertencem às elites urbanas, as quais representam a vanguarda dos recentes protestos, se disseram satisfeitos com a promessa de mudança, e afirmaram que o mais importante agora seria o fim dos transtornos econômicos provocados pelos protestos.
Mas a raiva nas ruas do Cairo e de Alexandria, a poucas horas das grandes manifestações de sexta-feira - batizadas de "Dia dos Mártires", em homenagem aos pelo menos 300 mortos nos protestos desde 25 de janeiro -, turvava um ambiente onde há forte presença militar.
"Ele (Mubarak) não parece entender a magnitude do que está acontecendo no Egito. A esta altura não acho que (o novo discurso) seja suficiente", disse Alanoud al Sharek, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. "Ele transferiu a autoridade para Omar Suleiman, mas de alguma forma reteve sua posição como governante."
Mohamed El-Erian, diretor de investimentos da Pacific Investment Management Co., disse: "Diante da intensa frustração com o discurso no Egito, o país entrou nesta noite num período nefasto de extrema tensão e perigo, que só poderá ser resolvido por meio de uma mudança crível de regime que possa ser aceita pela maioria dos egípcios".
Durante o dia, a cúpula militar divulgou o que chamou de "Comunicado No 1", dizendo estar assumindo o controle da nação. Muitos equipararam isso a um golpe militar. Instalou-se então o rumor de que Mubarak poderia renunciar ou ser deposto. Na praça Tahrir, muita gente reagiu com emoção a essa perspectiva, mas alguns já começavam a se mobilizar contra a possibilidade de um regime militar.
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