Enquanto milhares de imigrantes sofrem com a separação e a perda das suas famílias no longo percurso até a Europa, muitos outros buscam a promessa de uma nova vida para os bebês que nascem na rota de imigração. Em meio às dificuldades, os seus nomes carregam as marcas da luta e da gratidão. É o caso das pequenas Presente, Sorte e Esperança, filhas de imigrantes que deram à luz durante travessias arriscadas. Ou, ainda, a história da recém-nascida Angela Merkel Ade, filha de ganeses, em homenagem à chanceler que vem abrindo as portas da Alemanha para quem foge de conflitos e dificuldades em países do Oriente Médio e da África.

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Com fluxos migratórios em direção à Europa cada vez mais intensos, crescem as histórias de mães que enfrentam grandes riscos com seus bebês recém-nascidos ou prestes a nascer. Apenas neste final de semana, uma criança de cinco anos e duas mulheres grávidas de nove meses estavam entre as 284 pessoas resgatadas em uma embarcação no Mediterrâneo.

“É perigoso, mas estas pessoas estão desesperadas. Para eles, ou você morre com seu bebê que ainda não nasceu ou, se você tiver sorte, vai sobreviver”, disse Meron Estefanos, diretora de uma iniciativa para os direitos dos refugiados na Eritréia, à agência Associated Press.

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Embora algumas destas famílias consigam abrigo ao chegarem à Europa, muitas outras vivem histórias muito mais cruéis. Crianças já morreram em naufrágios ou pela falta de assistência médica. E até mesmo aquelas que sobrevivem podem encarar futuros problemas de saúde em decorrência do estresse, dos abusos e da desnutrição sofridos pelas suas mães durante a gravidez.

Quando uma embarcação com mais de 500 refugiados naufragou perto da ilha de Lampedusa, na Itália, em outubro de 2013, uma das vítimas era uma mulher da Eritréia que se afogou durante o parto de seu filho. Dias depois, quando guardas da costa italiana encontraram seus corpos, viram que mãe e filho ainda estavam ligados pelo cordão umbilical. Em setembro deste ano, um recém-nascido morreu depois de um acidente de barco que transportava imigrantes sírios da Turquia para uma ilha grega onde não há hospitais ou mesmo médicos permanentes.

Embora a ONU e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) não tenham estatísticas exatas de quantas mulheres grávidas estejam na rota de imigração, está claro que refugiados da Síria e de outras zonas de conflito estão tão desesperadas que nem mesmo a gravidez é capaz de impedi-las de fugir. Pelo contrário, elas sentem que é urgente deixar as condições de países como a Líbia, onde geralmente cuidados médicos lhes são negados pelos traficantes.

Barbora Sollerova, que realiza partos em um dos navios utilizados para operações de salvamento nas proximidades de Malta desde junho deste ano, conta que geralmente cerca de 10% das mulheres a bordo estão grávidas. Muitas delas acabam entrando em trabalho de parto prematuro por causa das tensões da viagem e das violências cometidas por traficantes.

“Estas mulheres têm experiências de repetidos abusos sexuais, físicos e psicológicos. Elas são usadas como força de trabalho, não têm a alimentação adequada e não recebem cuidados antes e depois do parto. E ainda são forçadas a ter relações sexuais desprotegidas, o que as coloca em risco de contrair sífilis ou HIV”, explicou a voluntária da organização Médicos Sem Fronteiras.

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Mesmo para os bebês saudáveis há muitos outros problemas, já que existem potenciais riscos legais para aqueles que nascem enquanto deixam seus países de origem. Algumas famílias viajam sem documentos e bebês que nascem na estrada por vezes não conseguem certidões de nascimento. Além disso, mulheres de países como a Síria nem mesmo tem o direito de passar sua nacionalidade para seus filhos, o que pode ser um grande problema para os casos em que o pai não está presente.

Estas crianças também não podem contar com a cidadania europeia, mesmo que tenham nascido no solo do continente. Os países da Europa concedem a cidadania com base na nacionalidade dos pais. Embora existam exceções como a França, que geralmente facilita a obtenção da cidadania para crianças apátridas, hoje a Europa já tem 600 mil pessoas nesta condição, que por vezes sofrem limitações em sua liberdade de ir e vir ou em seus direitos básicos, como a obtenção de vagas na escola para crianças.

Apesar de a extensão do problema ainda não ser conhecida, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) demonstra preocupação que o problema pode crescer em meio à crise migratória que atinge a Europa, principalmente levando em consideração o número cada vez maior de sírios que deixam seu país. Por isso, a agência ressalta que os países europeus devem garantir o registro apropriado dos refugiados que pedem abrigo no continente, para que “haja evidências de que alguém chegou”.