Este ano, o engenheiro espanhol Fernando Redondo Miranda, de 33 anos, tem andado pelas ruas de Barcelona, na Espanha, sem casaco. O horário de almoço serve para pegar um impensável bronzeado para a época no Hemisfério Norte. Isto se explica pelo fato de o planeta ter registrado os meses de dezembro e janeiro mais quentes da História, desde que as temperaturas começaram a ser verificadas em 1880, de acordo com dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), agência do governo americano que monitora essa estatística. Em meados de fevereiro, a situação voltou à média registrada nos últimos anos, acrescenta o órgão.
- O inverno está menos frio e o verão, mais quente. Além disso, desapareceram o outono e a primavera. Nas montanhas, há muito pouca neve. Não tem nada de frio aqui em Barcelona. A temperatura subiu por volta de 4 graus. Hoje, por exemplo, está um dia lindo e ensolarado - relata o engenheiro espanhol.
Os dados da NOAA se referem à temperatura da terra e do oceano em todo o planeta entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007. O recorde se deve em grande parte às elevadas temperaturas globais de janeiro, segundo o site da agência.
Jay Lawrimore, diretor do Centro Nacional de Dados Climáticos da NOAA disse que contribuíram para o recorde a tendência de aquecimento global e o fenômeno El Niño em escala moderada no Pacífico. O fenômeno perdeu força rapidamente em fevereiro.
O Hemisfério Norte, que vive os seus últimos dias de inverno, foi especialmente afetado. Estações de esqui acumularam prejuízos na temporada e algumas competições esportivas, principalmente na Europa, tiveram que ser adiadas. O segundo inverno boreal mais quente foi o de 2004, e o terceiro mais quente, em 1998, segundo Lawrimore. Todos os dez anos mais quentes da história foram registrados desde 1995.
Morando em Madri, na Espanha, há dois anos, a brasileira Letícia Adamo Frederico, de 25 anos, reclama do calor na cidade.
- Estou arrasada. Queria esquiar e não dá para fazer nada. Os espanhóis estão felizes com o calor. Hoje, por exemplo, estou de blusa sem manga e tive que comprar uma bebida na rua para me refrescar.
Letícia conta que seus colegas de trabalho chegam a levar casacos com medo de sentir frio durante o dia.
- Eles carregam aquelas roupas, mas não colocam nada. Todos passam mal de calor. Nós estamos muito assustados com a temperatura e preocupados com o Verão que vem aí, porque os jornais estão dizendo que vai ser muito quente.
1,3 grau acima da média do século XX
A temperatura combinada para o período entre dezembro e a primeira quinzena de fevereiro foi 0.72 grau Celsius acima da média do século XX, segundo a agência. Lawrimore não citou a temperatura absoluta para o período, dizendo que o importante é o desvio em relação à média.
Em Paris, na França, a estudante Paula Fortes, de 25 anos, diz que os 7 graus negativos na cidade nesta sexta-feira não causam o frio com que está acostumada no período.
- Aqui não venta e está muito sol, então não fica tão frio. Dá para sair sem casacão, vestindo apenas um menor - explica.
As temperaturas estiveram acima da média nesse período no Sudeste do Brasil, na Europa, na Ásia, no oeste da África e na parte nordeste dos Estados Unidos. Em parte da Arábia Saudita e na região central dos EUA a temperatura esteve inferior à média.
O mexicano Manuel Reyna, de 33 anos, vive em Boston, no nordeste dos EUA, há oito anos e se surpreendeu com algumas temperaturas do inverno americano.
- Alguns dias foram muito frios, mas tivemos até 15 graus. Isso é muito quente para o inverno. Normalmente os termômetros marcam 15 graus negativos.
A temperatura na superfície emersa durante o inverno boreal foi também a mais quente registrada. Nos oceanos, este inverno empatou com o de 1997/98.
Ao longo do último século, a temperatura da superfície global aumentou cerca de 0,11 grau por década, mas o ritmo triplicou desde 1976 - 0,32 grau por década, com alguns dos maiores aumentos sendo registrados nas latitudes mais elevadas (a área mais fria) do Hemisfério Norte.
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