A crise diplomática na Crimeia também causou impasses na arte. A exposição Crimeia: Ouro e Segredos do Mar Negro está sendo exibida desde fevereiro no museu Allard Pierson, na capital holandesa, mostrando objetos de séculos antes de Cristo como litografias e joias de ouro e prata. O problema é que o material veio da Ucrânia e agora pode se tornar propriedade da Rússia.
No ano passado, cinco museus ucranianos - quatro deles na Crimeia - cederam os quase mil artefatos para a exposição em Bonn, na Alemanha. Em fevereiro passado, os objetos chegaram a Amsterdã. No entanto, com a anexação da península pela Rússia, o governo russo poderia tomar posse do material arqueológico ao fim da exibição.
Como a comunidade internacional não aceitou a inclusão da Crimeia ao território da Rússia, há uma disputa de versões entre os dois governos. O enviado do Kremlin para a cooperação cultural internacional, Mikhail Shvydkoy, disse à agência Interfax que há um conflito legal "bastante sério" em curso.
"O museu de Amsterdã tem garantias de retorno não apenas para os museus da Crimeia, que agora pertencem à Rússia, mas também para os da Ucrânia (a quem a Crimeia pertencia)", declarou.
Graças à crise na península, o sucesso da mostra foi tanto que ela foi estendida de maio até agosto. Em um comunicado, o museu diz que pediu aconselhamento por parte do ministério de Relações Exteriores, em Haia, para o que será feito ao final da exposição.
"Dada a complexidade do assunto, a maneira pela qual os objetos serão devolvidos está sendo analisada pelos analistas legais da Universidade de Amsterdã (que gere o museu)", diz a declaração, que ressalta o caráter inédito do dilema encontrado pelos holandeses.
Yasha Lange, porta-voz da universidade, disse que o Allard Pierson está em "contato constante com Moscou e Kiev". O novo ministro da cultura da Ucrânia, Yevhen Nishchuk, foi enfático ao dizer que o caso é de "segurança nacional para as posses culturais do governo ucraniano".
"Todos os objetos que estão sendo exibidos em museus no exterior retornarão à Ucrânia", disse, ao lembrar que os artefatos pertencem ao país. Ele rechaçou que o controle russo da península, onde estão quatro dos cinco museus envolvidos no impasse, afete a decisão do Allard Pierson.
Kiev busca retomar os objetos para evitar que sejam apropriados pela Rússia e transferidos para outros espaços. Uma das opções dos russos, caso o país seja considerado dono dos objetos, seria levá-lo para o Museu Hermitage, em São Petersburgo, um dos maiores do mundo.
O Hermitage negou à agência russa Itar-Tass que pretenda receber os artefatos da exposição após o fim da mostra. O museu lembra que a ética sugere que as obras voltem aos museus que as detinham, mas declarou que as leis podem dar o material ao país que controla "o território que as cedeu".
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