Disparos reverberam pela cidade e corpos ainda estão caídos pelas ruas de Deraa hoje, relatam moradores, em um sinal de que a repressão brutal do regime segue ocorrendo na Síria. A cidade no sul do país é o epicentro do levante contra o presidente Bashar al-Assad.
Também hoje, um grupo de defesa dos direitos humanos afirmou que autoridades prenderam dezenas de pessoas, sobretudo em vários subúrbios de Damasco e na cidade costeira de Jableh, no norte. Ontem, o Exército sírio, auxiliado por tanques e atiradores de elite, lançou uma mortífera operação em Deraa, onde os protestos começaram há mais de um mês. Pelo menos 11 pessoas morreram.
O chefe do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdul-Rahman, não sabe o número exato de presos hoje. Segundo ele, há poucas informações sobre Deraa, pois é difícil se comunicar, após autoridades cortarem o serviço de telefonia móvel na cidade.
Um morador de Deraa contou hoje que "pessoas mortas ainda estão nas ruas, porque ninguém conseguiu retirá-las". "Nós estamos sendo submetidos a um massacre", afirmou o homem. "Crianças estão sendo mortas. Nós estamos sem eletricidade há três dias, não temos água".
A fonte, que usava um celular jordaniano, disse que forças especiais sírias ainda estão nas ruas. Ele acrescentou que Deraa uma empobrecida cidade perto da fronteira com a Jordânia, foi bombardeada por tanques.
A repressão do governo já matou mais de 350 pessoas na Síria desde meados de março, sendo 120 apenas no último fim de semana, segundo grupos pelos direitos humanos. Os sírios pedem agora o fim do governo de Assad.
A Síria proibiu a imprensa estrangeira de cobrir as áreas onde ocorrem protestos. Segundo a imprensa estatal, uma fonte militar disse que o Exército foi a Deraa atendendo a "pedidos de socorro de moradores" da cidade.
Repercussão
O governo dos Estados Unidos pediu aos norte-americanos que evitem viajar à Síria, e também que os cidadãos dos EUA deixem o país. Também ordenou a retirada de funcionários não essenciais da embaixada.
Separadamente, a Itália e a França pediram o fim da "violenta repressão" aos protestos. O pedido foi feito após uma reunião entre o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Este disse que, para haver qualquer intervenção estrangeira na Síria, é preciso antes que seja aprovada uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Não há a possibilidade de se fazer nada ali sem uma resolução do Conselho de Segurança", afirmou Sarkozy. "A situação é inaceitável... você não pode enviar tanques e o Exército para acabar com protestos. Essa brutalidade é inaceitável. Nós estamos com o povo árabe em suas aspirações por liberdade", completou.