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Carreira

Embaixador atuou no Senegal e ajudou a implantar a Minustah

Da Redação

Antes de ser destacado para o Haiti, o embaixador Igor Kipman acumulou experiência em várias missões diplomáticas brasileiras. Ele iniciou a carreira como embaixador em Georgetown, na Guiana. Trabalhou também nas embaixadas em Dacar, no Senegal e Port-of-Spain (Trinidad e Tobago). Foi representante do Brasil na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, em Genebra, na Suíça, e também cônsul em Miami. Antes de ser nomeado embaixador, participou da implantação da Minustah, missão da ONU no Haiti liderada pelo Brasil.

Arte

Centro Cultural retoma atividades com filme Ensaio Sobre a Cegueira

Da Redação

Neste sábado, a Embaixada do Brasil no Haiti deve retomar as atividades do Centro Cultural Brasil-Haiti, mantido pela representação diplomática.

O evento escolhido para a reabertura é a exibição do filme Ensaio Sobre a Cegueira, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.

O enredo da produção aborda uma situação muito semelhante à que vive o povo haitiano.

No filme, uma doença causa cegueira na população de uma cidade, causando a falência do Estado e obrigando os cidadãos a lutar por necessidades básicas.

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Kipman em missão entre haitianos, antes do terremoto

As aulas de português no Centro Cultural Brasil-Haiti, em Porto Príncipe, foram retomadas na úl­­tima segunda-feira. Era neste lo­­cal que estava a embaixatriz bra­­sileira Roseana Aben-Athar Kip­­man no último dia 12, no mo­­men­­to do terremoto que destruiu o país e deixou pelo menos 150 mil mortos. Aos poucos, as aulas ministradas por Roseana e outros trabalhos realizados pela missão brasileira no país caribenho co­­meçam a voltar ao normal, dentro do que é possível diante da tragédia. "Nada foi nem será in­­terrompido", disse o embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, em entrevista ex­­clusiva concedida por e-mail à Gazeta do Povo.

Instalado em Porto Príncipe des­­de 2008, o curitibano Igor Kip­­man mostra-se um apaixonado pelo país. Ele fala sobre o esforço de reconstrução das cidades destruídas, a importância da ajuda internacional e nega que a violência tenha tomado conta das ruas.

Kipman estava em Brasília no dia do terremoto. Ele desembarcou na capital federal, onde mora um de seus três filhos, após passar as festas de fim de ano com a família em Curitiba. Sua esposa, também paranaense, viajou para Porto Príncipe no dia 11, um dia antes da tragédia. Foi Roseana quem encontrou o corpo da mé­­dica Zilda Arns nos escombros da igreja destruída pelo tremor. As duas haviam se reunido horas an­­tes para conversar sobre a possibilidade de levar a Pastoral da Crian­­ça para o Haiti.

Assim que soube da tragédia, Igor Kipman embarcou para Por­­to Príncipe, junto ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. Desde en­­tão, participa do trabalho de ajuda humanitária e da retomada de sua missão no país.

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O Congresso brasileiro aprovou o envio de mais 1.300 militares para o Haiti. Além do reforço na segurança, que tipo de trabalho os militares farão?

Dado que as estimativas preliminares dão como mortos e/ou desaparecidos 50% dos integrantes da Polícia Nacional do Haiti, é natural que seja necessário um reforço da segurança, ainda que os cerca de 500 mil desabrigados (o número é de 1 milhão para a ONU) estejam se comportando de forma paciente, ordeira e até mesmo, por que não dizer, estoica! En­­tre­­tanto, o Brasil está enviando, conforme solicitação das Nações Uni­­das, apenas 150 homens da Po­­lí­­cia do Exército, que desempenharão funções de preservação da or­­dem pública. Um batalhão de infantaria, que possivelmente chegará ao Haiti em duas semanas, terá como atribuição primordial contribuir com a ajuda hu­­ma­­nitária, maior necessidade ho­­je no país.

Como deve ser feita a retirada dos corpos dos escombros, trabalho que entra em uma nova fa­­se a partir desta semana?

A retirada de sobreviventes e corpos dos escombros começou na noite mesmo que se seguiu à ca­­tástrofe. O que muda é o método de remoção dos escombros: até aqui esse procedimento era feito com cautela e com a presença de equipes de resgate de inúmeros países que acorreram em socorro do Haiti, com cães farejadores e equipamentos especializados, a fim de resgatar sobreviventes. Agora, decorridos 13 dias, as chan­­ces de se encontrar sobreviventes se reduziram de tal forma que a remoção passará a ser feita por equipamento mais pesado, ainda com cuidado para não prejudicar o resgate dos corpos das vítimas que porventura estejam sob os escombros.

Que tipo de ajuda ainda não chegou ao Haiti e que passa a ser im­­portante a partir de agora?

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A resposta da comunidade internacional foi extraordinariamente rápida, eficaz e completa. Ape­­nas como exemplo, há no país 22 hospitais prestando serviços à população, entre os quais um hos­­pital de campanha da Força Aérea Brasileira, que já realizou cerca de 150 cirurgias de trauma; em todo o país são mais de 700 os profissionais de saúde cubanos dando assistência à população; isso sem falar de grandes quantidades de água e alimentos, para atender às necessidades básicas da população desabrigada.

A imprensa internacional tem questionado a "ocupação" norte-americana no Haiti. Como o senhor avalia o envio de militares dos Estados Unidos ao país?

É equivocado falar em ocupação militar, seja dos Estados Unidos, seja da Missão das Na­­ções Unidas para a Estabili­zação no Haiti (Mi­­nustah) ou de qualquer outra na­­cionalidade. Os militares norte-americanos estão prestando inestimáveis serviços ao povo haitiano na área de saúde e de distribuição de ajuda humanitária, em estreita e harmônica cooperação com as forças militares da Mi­­nus­­tah – especialmente com o Ba­­talhão brasileiro de Força de Paz – e com inúmeras agências in­­ternacionais e ONGs. Quem chama esse trabalho generoso, desprendido e solidário de ocupação deveria vir ao Haiti para ver de perto o que estão fazendo neste país todos os militares e civis aqui presentes.

Discute-se também que, em vez de armas, os países deveriam mandar vacinas, poços artesianos e outros itens destinados à saúde e reconstrução. Um tipo de ajuda se sobrepõe a outro? Ou tudo é necessário agora?

Os países não estão mandando armas. Após um desastre dessa di­­mensão, ingressamos primeiro em uma fase de emergência, quan­­do a prioridade é salvar vidas, restituir a dignidade e o bem-estar a quem tudo perdeu, parentes, ami­­gos, seu lar, muitas vezes sua fonte de sobrevivência. Em seguida, vem a fase de reconstrução. Claro que há alguma superposição das duas fases: hoje mesmo pode-se observar muita gente tratando de reconstruir suas residências, limpar as ruas e remover os escombros. Portanto, sim, há superposição, (mas) há urgência também em reconstruir.

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Fala-se em 25 anos e US$ 10 bi­­lhões para que o Haiti consiga se organizar como nação. Esses nú­­meros fazem sentido para quem conhece o país?

O Haiti é uma nação organizada, com enorme sentido de identidade nacional, orgulhosa de suas conquistas e vitórias ao longo de mais de 200 anos de independência. A estrutura física do Estado foi duramente castigada pela ca­­tástrofe, alguns ícones da soberania, como o Palácio Nacional, o Palácio de Justiça, a Catedral de Porto Príncipe, apenas para citar alguns, foram completamente destruídos. Os quadros do governo haitiano foram também severamente afetados e carecerão de recomposição. Nada disso afeta a nação. A comunidade internacional está contribuindo e contribuirá para a reconstrução, reaparelhamento e treinamento de no­­vos quadros, mas acho prematuro tentar adivinhar o prazo necessário para tanto. A cifra sim, em termos de reconstrução e reaparelhamento, faz sentido.

A imprensa noticiou casos de vandalismo e violência generalizada em Porto Príncipe. Há realmente um clima de insegurança no país?

Não obstante tenham ocorrido alguns casos isolados e muito restritos de pilhagem e desordem, não houve vandalismo e é absolutamente inverídico falar em violência generalizada.

O terremoto interrompe um trabalho que vinha sendo feito pela Embaixada e pela Missão de Paz no Haiti? Como será daqui para frente?

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Nada foi nem será interrompido. As aulas de português no Centro Cultural Brasil-Haiti Celso Ortega Terra reiniciaram na segunda-fei­­ra (25 de janeiro); a programação cultural sofreu um atraso de uma semana, mas será retomada no pró­­ximo sábado; os 31 projetos de cooperação técnica do go­­verno bra­­sileiro seguirão seu curso normalmente ao longo de 2010; a Mis­­são de Paz, da mesma forma, pros­­seguirá no seu trabalho. É er­­rado falar em interrupção do trabalho, apenas haverá mais trabalho.

Qual será o papel do Brasil na re­­construção do país?

O Brasil prosseguirá e perseverará nos esforços que já vinham sendo envidados, nas áreas de agricultura, saúde, educação e energia, prin­­cipalmente. Além disso, o presidente Lula determinou a criação de um grupo para coordenar a aju­­da brasileira tanto na presente fa­­se de emergência quanto na fa­­se de reconstrução.

O senhor deve permanecer em Porto Príncipe até 2011? Depois disso, há alguma perspectiva?

Ficarei no Haiti enquanto essa for a determinação do presidente da República.

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