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Para o cientista político tunisiano Hamadi el-Aouni, da Universidade Livre de Berlim, na Líbia pós-Kadafi haverá disputas entre as tribos que lutaram juntas — mas sem o risco de o país ser palco de um novo confronto armado, como ocorreu no Iraque depois da queda de Saddam Hussein, em 2003. Em entrevista à Agência O Globo, o analista de 65 anos diz não ver a possibilidade de uma rebelião semelhante na Síria, onde acha mais provável que o regime faça reformas democráticas para ficar. Na sua opinião, os próximos candidatos à revolução democrática são Argélia, Marrocos e Jordânia, e o vírus da democracia, diz ele, está contaminando também os países do Golfo Pérsico.

Os rebeldes conseguirão formar uma unidade ou existe risco de rivalidades entre as tribos?

No início, há risco de rivalidades, porque os diversos grupos têm metas políticas diferentes. Mas acho que a disputa ocorrerá de forma democrática. Vai haver disputas políticas e ideológicas, mas não haverá mais confronto armado. No começo, a situação poderá ser um pouco confusa, com um pouco de caos, mas os grupos deverão trabalhar juntos.

Que pessoas ou grupos terão mais presença no governo provisório?

Vai haver com certeza a preocupação de que todos os grupos, todas as ramificações, todos os setores da sociedade líbia se vejam representados nesse conselho de transição. A sua principal tarefa será a elaboração de uma nova Constituição e organizar eleições.

Como serão tratados os integrantes da família Kadafi?

Seus membros devem ser tratados de forma diferente. Kadafi e o filho Saif al-Islam, para os quais o Tribunal Penal Internacional emitiu ordens de prisão, deverão ser julgados em Haia. Os outros membros da família devem ser julgados na Líbia.

Existe a possibilidade de que Kadafi seja executado?

O chefe do Conselho Nacional de Transição disse diversas vezes que ninguém pode ser morto sem uma sentença judicial. Quaisquer que tenham sido os seus crimes, todos os responsáveis pelo regime devem ser julgados por um tribunal democrático.

Que consequências terá a derrota de Kadafi para a região? Pode ajudar a fortalecer a oposição na Síria, por exemplo?

Na Síria não haverá revolução.

O governo vai ter que fazer reformas radicais e fazer tudo para evitar que os fundamentalistas assumam o poder. Se com ou sem Bashar al-Assad, é secundário.

O importante são reformas, uma nova Constituição. Os grupos armados que lutam contra o regime querem uma nova ditadura fundamentalista islâmica.

Quais são os próximos candidatos ao movimento de democratização no mundo árabe?

Os próximos serão a Argélia, o Marrocos, onde já começaram as manifestações, e a Jordânia. Uma rebelião popular em breve nesses três países é provável. E o vírus da democracia pode atacar também a região do Golfo Pérsico. Em países como a Arábia Saudita e Emirados Árabes, há também grandes camadas da população que sonham com a liberdade, em não ter que beijar os pés do rei eternamente. E vai acontecer também. É apenas uma questão de tempo.

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