Obsessão em documentar a vida limita o seu desfrute| Foto: Emery Cowan/Arizona Daily Sun/AP

Os paus de selfie foram proibidos no Coliseu de Roma, no Palácio de Versalhes e na Ópera de Sydney, segundo notícias publicadas no jornal “The New York Times”. Na Rússia, fazer selfies pode levar à prisão, e o governo alertou sobre o perigo de fazê-los no lugar errado —na frente de trens em movimento, por exemplo— após várias mortes.

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Pesquisas revelam que pessoas que fazem selfies demais tendem a ter personalidades narcisistas, psicopáticas e maquiavélicas. Elas também parecem ter uma profunda necessidade de autogratificação, buscando a aprovação social via internet.

“As pessoas esquecem que ser narcisista não é apenas ser egomaníaco —é também algo impulsionado pela insegurança subjacente”, disse Jesse Fox, professor na Universidade Estadual de Ohio. “É precisar do aval das ‘curtidas’.”

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Talvez seja esse o caso do pai ou da mãe que se sente compelido a filmar todos os instantes da sua família. O tipo de pai que Bruce Feiler, num recente artigo no “NYT”, disse que estava virando.

Feiler chegou tarde à era do vídeo, depois de tirar muitas fotos e criar seus filhos com todo tipo de atividade estimulante.

“O lado positivo é que os nossos filhos adoraram. Prenderam câmeras em seus capacetes de canoagem em corredeiras, exibiram-se escorregando num percurso por cordas e ficaram animados em fazer um curta com seus primos”, escreveu Feiler. “O lado ruim é que temos tantas horas de vídeo que ninguém jamais os verá.”

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Aí Feiler percebeu que a obsessão em gravar vídeos estava arruinando seu tempo com a família.

Penn Holderness, ex-repórter de TV na Carolina do Norte, aprendeu uma lição similar. Um vídeo gravado por ele, mostrando sua família em trajes natalinos dançando em volta da casa, teve 16 milhões de visualizações na internet e virou notícia no país inteiro.

Ele está consciente dos inconvenientes. “Estou simplesmente apavorado com a ideia de virar aquele pai que diz: ‘Nossa, isso é incrível! Cadê a minha câmera?’, em vez de usar o meu cérebro e desfrutar o momento.”

Linda Henkel, uma avó que adora fotografar, quis pesquisar a forma como as fotos afetam nossa memória. Em um estudo publicado no ano passado, Henkel, que é psicóloga cognitiva, enviou alunos a um museu de arte e pediu a alguns que olhassem para objetos e a outros que os fotografassem. Os alunos se recordavam mais dos objetos apenas vistos do que dos fotografados.

“Quando o participante tirava uma foto, era como se ele terceirizasse a sua memória”, disse. “Eles estão contando com a câmera para lembrar das coisas por eles.”

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Olhar as lembranças que outros criam para as redes sociais tende a fazer com que nos sintamos mal, agravando o nosso “medo de perder algo” —sentimento designado em inglês pela sigla Fomo (“fear of missing out”). Esse transtorno piora quando as celebridades unem forças, e a infinita festa de verão que alguns famosos no Hemisfério Norte postam nas redes parece ser cuidadosamente selecionada para nos deixar com inveja.

“Não só não estou nessa épica viagem a Cannes, como também não estou naquele iate em Cannes com Gigi e Bella Hadid e Hailey Baldwin”, disse Emily Katz, 25, editora do “Huffington Post”. “Não consigo deixar de ter a ilusão de que eles gostariam que eu estivesse lá.”

Um estudo publicado no ano passado constatou que olhar posts alheios desperta a inveja e traz sensações ruins.

Ethan Kross, 35, professor da Universidade de Michigan e um dos autores da pesquisa, disse que “tendemos a selecionar a forma como aparecemos on-line. Ver constantemente todas aquelas coisas positivas na vida dos outros não é necessariamente bom para o bem-estar emocional de uma pessoa.”