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Autoritarismo mancha reputação de ativista

Aung San Suu Kyi é considerada “autoritária” por ex-aliados | Ye Aung Thu/Agence France-Presse — Getty Images
Aung San Suu Kyi é considerada “autoritária” por ex-aliados (Foto: Ye Aung Thu/Agence France-Presse — Getty Images)

Fotos emolduradas de Daw Aung San Suu Kyi, a prêmio Nobel, cobrem as paredes desta pequena sala de estar, mas U Myo Khin, antigo ativista pela democracia, tem palavras duras para a mulher que ele idolatrou durante anos por sua cruzada contra a ditadura.

“O objetivo ainda é a democracia, mas seu comportamento é autoritário”, disse Myo Khin, que foi um prisioneiro político durante 12 anos. “Ela está perdendo pessoas, como nós, que a apoiaram durante muito tempo.”

Ao longo de anos, foi tabu entre os ativistas pró-democracia de Mianmar falar mal de Aung San Suu Kyi, que se tornou um ícone global da democracia e símbolo da resistência contra a opressão quando Mianmar era governada por uma brutal junta militar.

Qualquer crítica à “Dama”, como ela é conhecida aqui, era vista como um apoio aos generais.

No entanto, com a aproximação das eleições —descritas por alguns como uma oportunidade única nesta geração para as forças democráticas— Aung San Suu Kyi está sendo criticada por ativistas, analistas e intelectuais. Eles a acusam de ter uma abordagem inflexível na administração de seu partido e questionam sua decisão de se aliar a um ex-general hoje marginalizado. Para eles, a líder está perdendo a oportunidade de construir uma grande coalizão de forças democráticas, incluindo grupos étnicos minoritários cujo apoio pode ser crucial depois da eleição.

“Ela fez inimigos entre as pessoas de quem precisa”, disse U Sithu Aung Myint, colunista político conhecido por seus comentários apartidários. “Falta-lhe pensamento estratégico. Ela não é uma figura política inteligente.”

Para uma mulher que sacrificou quase duas décadas de sua vida combatendo a ditadura, a maior parte desse tempo em prisão domiciliar, é profundamente paradoxal que a palavra usada para descrevê-la seja “autoritária”, mesmo entre os aliados em seu partido, a Liga Nacional pela Democracia (LND). Ao responder sobre o que pensa do uso desse termo para descrever Aung San Suu Kyi , o porta-voz do partido, U Nyan Win, não hesitou: “Concordo”. No entanto, ele explicou que a cultura política birmanesa há muito tempo inclui a hierarquização na tomada de decisões, e seu partido não é exceção.

Aung San Suu Kyi, que fez 70 anos em junho, recusou pedidos de entrevista para este artigo.

Seu partido sofreu críticas muito pesadas durante o processo de seleção de candidatos para a eleição em 8 de novembro. Alguns dos líderes do movimento pró-democracia, ex-prisioneiros políticos conhecidos como Geração 88, foram de modo geral descartados. Essas decisões provocaram raiva e deserções. Vários membros contestadores do partido foram expulsos. Conforme a polêmica crescia, a reação de Aung San Suu Kyi pareceu imperiosa e condescendente.

“O LND é um partido político, e nós temos regras”, disse, segundo a Rádio Ásia Livre. “Se você não pode seguir essas regras, não pode trabalhar para o LND.”

A Constituição do país, escrita pela junta militar antes de entregar o poder a um governo quase civil em 2011, reserva um quarto dos assentos no Parlamento aos militares. Isso significa que as forças democráticas, se não se aliarem ao Exército, devem ganhar dois terços dos assentos eleitos para ter maioria simples. Além disso, Aung San Suu Kyi está impedida de ser presidente por uma cláusula na Constituição que barra qualquer pessoa casada com um estrangeiro ou que tenha filhos estrangeiros. O marido dela, que morreu em 1999, era um cidadão britânico, assim como seus dois filhos.

Os críticos de Aung San Suu Kyi dizem que sua aliança com Thura Shwe Mann, ex-general da junta que lidera uma facção militar, mas que é amplamente rejeitado por outras facções, irritou os altos comandos militares. Em agosto, Shwe Mann foi expulso da chefia do partido União Solidariedade e Desenvolvimento.

Daw Nyo Nyo Thin, membro independente do Parlamento regional de Yangon, diz que ficou “confusa” com as decisões de Aung San Suu Kyi.

A prêmio Nobel é autoritária?

“Temos muitas histórias”, disse Nyo Nyo Thin. “Mas este não é o momento para falar disso.”

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