Loja da marca Rolex em Pequim; gastos com bens de luxo na China diminuíram 1% no ano passado, para US$ 18 bilhões.| Foto: Fred Dufour/Getty Images

Uma das ruas de comércio mais movimentadas de Hong Kong passa em frente ao Shopping Times Square, com letreiros de marcas como Mont Blanc, Cartier, Gucci e Burberry.

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Porém, dentro do templo do luxo, o som da multidão na rua desaparece pelos corredores e lojas quase vazias.

A época áurea do comércio de luxo na China está basicamente acabando. O fenômeno é resultado da recente queda da Bolsa de Valores, da desvalorização da moeda, da economia em desaceleração e da repressão do governo aos presentes extravagantes.

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O efeito dessas adversidades nos consumidores chineses — que são responsáveis por um terço dos gastos globais com produtos de luxo — incomoda investidores e empresas.

Após um crescimento de dois dígitos na última década, os gastos com bens de luxo na China diminuíram cerca de 1% pela primeira vez no ano passado, chegando a aproximadamente US$ 18 bilhões, de acordo com a consultoria Bain & Company.

Além do tumulto do mercado, medidas do governo chinês para desvalorizar o renminbi e preocupações com mais rodadas de desvalorização também ameaçam o mercado de luxo.

“Esse golpe vai ser duro”, disse David Friedman, presidente da Wealth-X, empresa especializada em artigos de luxo.”É a gota d’água para as marcas de luxo que veem o consumidor chinês como um segmento importante para o crescimento de sua receita.”

A China é responsável por 25% das vendas da Burberry e por 20% das da Prada, de acordo com a Exane BNP Paribas.Cerca de 35% das vendas do Grupo Swatch, cujas marcas incluem Omega, Harry Winston e Balmain, vêm da China continental, de Hong Kong e de Macau.

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Essas porcentagens seriam ainda maiores se incluíssem todos os artigos de luxo comprados por turistas chineses no exterior, onde os produtos são muitas vezes mais baratos do que em Pequim e Xangai.

O renminbi desvalorizado encarece as viagens ao exterior para os consumidores chineses. Porém, é importante manter a situação em perspectiva, disse Luca Solca, responsável por produtos de luxo da Exane BNP Paribas.

De acordo com suas simulações, uma desvalorização de 5% da moeda iria diminuir as vendas em menos de 1% para a maioria das marcas que ele segue.Até mesmo uma desvalorização de 20% dificilmente causaria uma perda de 5% das vendas, calcula.

Em última análise, o futuro dos gastos com artigos de luxo na China — e de quem é capaz de atraí-lo — baseia-se em alterações de longo prazo das moedas globais, além do crescimento econômico do país.

A zona do euro e o Japão se beneficiaram com o grande afluxo de turistas chineses graças à desvalorização das suas moedas.

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O dólar, por outro lado, se fortaleceu. Com isso, ele está afetando os gastos de turistas nos Estados Unidos.”Os turistas europeus, chineses e brasileiros não estão vindo para os EUA”, disse recentemente à CNBC o chefe executivo da Macy’s, Terry J. Lundgren.

Mika Tsuruta, 25, funcionária da marca japonesa de bolsas Samantha Vega, foi enviada para a loja de Hong Kong para treinar os funcionários.

Durante o tempo que passou em Hong Kong, ela notou que os clientes chineses buscavam uma alternativa mais barata para as marcas de luxo famosas.A Samantha Vega se encaixa nesse perfil. Uma de suas bolsas custa cerca de 2.200 HKD (US$ 280), uma fração dos 25 mil HKD (US$ 3.225) que pode custar um exemplar da Chanel.