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Coreia vê esperança além de pista problemática

O maior problema da pista – que custou US$375 milhões  – é a falta de familiaridade dos sul-coreanos com o esporte | Jean Chung/The New York Times
O maior problema da pista – que custou US$375 milhões – é a falta de familiaridade dos sul-coreanos com o esporte (Foto: Jean Chung/The New York Times)

Há oito anos, a província sul-coreana de South Jeolla, que inclui esse condado litorâneo, acabou com 400 hectares de arrozais para embarcar em um experimento de US$375 milhões: a construção de um circuito de Fórmula Um.

Em 2010, Yeongam sediou o primeiro Grande Prêmio da Coreia. Hotéis novinhos em folha surgiram para acomodar o que as autoridades locais torciam para que fosse uma leva de turistas estrangeiros. O ronco das máquinas invadiu a região plana e pacata, mais acostumada à movimentação de componentes marítimos gigantescos a caminho do estaleiro Hyundai.

Depois disso, porém, só mais três corridas foram realizadas e hoje o silêncio reina novamente. Os maiores eventos realizados na pista de 5,6 km do Circuito Internacional da Coreia, com capacidade para 120 mil espectadores, são disputas amadoras que atraem um público mais que modesto.

“Começamos com um grande sonho de ganhar muito dinheiro e acabamos com um fracasso espetacular”, lamenta Park Bong-soon, que hoje trabalha na administração da província, mas até recentemente era diretor do centro de apoio da Fórmula Um.

Casos como esse não são raros na categoria: o Grande Prêmio da Turquia foi realizado de 2005 a 2011 e o terceiro — e último — da Índia, em 2013. A falta de interesse no primeiro e problemas fiscais no segundo levaram aos insucessos precoces.

Porém, muitos dizem que o circuito de Yeongam, financiado em grande parte pelo dinheiro público, já começou errado. Em 2007, a agência orçamentária do Parlamento e um instituto de pesquisas do governo alertaram para o exagero das previsões de lucro.

Em janeiro, um grupo cívico processou ex-funcionários da administração da província, pedindo à Promotoria que os acusasse criminalmente por abuso de confiança.

“A corrida de Fórmula Um aqui foi um ninho de problemas, um projeto que nunca deveria ter saído do papel”, afirma o grupo, acusando as autoridades de usar o dinheiro público para realizar “um espetáculo político”. Os acusados negaram tudo.

Para a administração da província, o principal problema do Grande Prêmio da Coreia foi que a maioria dos sul-coreanos não está familiarizada com a Fórmula Um, nem com os autoesportes em geral. Alguns achavam até que “F1” era uma variante de K-1, competição de artes marciais mistas. Na capital, Seul, a corrida de carro está associada às chamadas pokjujok, ou literalmente “tribos de velocidade violenta”, formadas por entregadores de fast-food em motos modificadas que aterrorizam os motoristas tarde da noite.

As autoridades de South Jeolla imaginaram o Grande Prêmio como uma plataforma publicitária multimilionária para corporações locais como a Samsung e a Hyundai, mas nenhuma delas se interessou pelo patrocínio.

Assim, os organizadores acabaram tendo que reduzir drasticamente os preços dos ingressos — e foram acusados de exagerarem os números da afluência, além de permitirem a entrada de parte do público de graça.

Em 2013, South Jeolla estava afundada em dívidas, sem poder pagar as taxas anuais exigidas pela Fórmula Um, que acabaram sendo reduzidas em 40 por cento naquele ano, passando para US$27 milhões — mas aquela foi sua última corrida.

Apesar disso, há quem diga que a empreitada tenha semeado o interesse pela velocidade no país.

“Dá para perceber que a mentalidade mudou de repente por aqui, principalmente nos dois últimos anos”, afirma Michel Puchercos, empresário francês de 57 anos que compete nas disputas amadoras há três.

Desde 2010 dois circuitos foram inaugurados na periferia de Seul — e um terceiro, mais distante, foi expandido. E a Hyundai começou até a patrocinar algumas disputas locais.

“Dez anos atrás, quando comecei a correr, não havia pistas e o pessoal como eu tinha que se contentar em se arriscar nas estradinhas do interior. O que estamos vendo aqui é o nascimento de uma cultura de velocidade na Coreia do Sul”, vibra Shim Woo-won, corredor amador de 35 anos.

Brad Spurgeon contribuiu

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