O ar de Deli é o mais tóxico do mundo em parte por causa de altas concentrações da partícula PM2.5, que penetra profundamente nos pulmões| Foto: Roberto Schmidt//Agence France-Presse — Getty Images

Durante anos, essa cidade às margens do rio Yamuna tinha o ar mais sujo do mundo, mas poucos que viviam aqui pareciam preocupados ou mesmo conscientes disso.

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Agora, alguns moradores começaram a usar as máscaras cirúrgicas brancas tão comuns em Pequim. A embaixada dos Estados Unidos comprou 1.800 sofisticados purificadores de ar nos últimos meses para as casas de membros da equipe, e muitas outras importantes embaixadas fizeram o mesmo. Algumas embaixadas começaram a avisar os diplomatas com crianças a reconsiderar a mudança para a cidade, e funcionários relataram um aumento de diplomatas optando por reduzir seus turnos. Empresas indianas começaram a encomendar sistemas de filtragem de ar para seus prédios de escritórios.

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“Meu negócio acabou de decolar”, disse Barun Aggarwal, diretor da BreatheEasy, uma empresa de filtros de ar baseada em Deli. “Começou com a comunidade diplomática, mas se espalhou para a alta sociedade local.”

Essa maior conscientização da profundidade dos problemas do ar da Índia levou até mesmo diplomatas indianos, que há muito tinham manifestado pouco interesse em discussões sobre clima e poluição com funcionários dos Estados Unidos, a pedir ajuda aos americanos para limpar o ar da Índia no ano passado, de acordo com participantes das negociações. Então, quando o presidente Obama deixou Deli depois de uma visita no mês passado, ele poderia apontar para uma série de acordos de poluição, incluindo um para trazer o sistema americano para medir os níveis de poluição de muitas cidades indianas, e outro para ajudar a estudar maneiras de reduzir a emissão de gases de caminhões, uma das principais fonte da poluição urbana.

Hoje, há matérias mostrando relatórios quase diários de idas ao hospital por causa da asma e de doenças relacionadas. Um artigo sobre a visita de Obama mostrou como, de acordo com relato de um cientista, ele pode ter perdido seis horas de sua expectativa de vida depois de ter passado três dias em Deli.

Porém, o problema provavelmente vai piorar, pois o primeiro-ministro Narendra Modi trabalha para reaquecer a economia. Seu governo recentemente prometeu dobrar o uso de carvão nos próximos cinco anos.

O ar de Deli é o mais tóxico do mundo em parte por causa de altas concentrações de PM2.5, partículas com menos do que 2,5 micrômetros de diâmetro que acredita-se representar o maior risco para a saúde, porque penetra profundamente nos pulmões. Mesmo que a qualidade do ar de Pequim gere mais manchetes em todo o mundo, cientistas dizem que o ar de Nova Deli é significativamente pior, especialmente durante o inverno, quando um smog asfixiante frequentemente cobre a imensa cidade. Quatro monitores da cidade encontraram um nível médio de 226 microgramas de PM2.5 por metro cúbico, entre os dias primeiro de dezembro e 30 de Janeiro. A média de Pequim para o mesmo período foi de 95.

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Além disso, partículas de PM2.5 em Deli são muito mais perigosas do que aqueles de muitas outras localidades devido à queima generalizada de lixo, carvão e combustível para motores diesel que resulta em grandes quantidades de toxinas, tais como enxofre, dioxinas e outros compostos cancerígenos, disse Sarath Guttikunda, diretor do Urban Emissions (Emissões Urbanas), grupo de pesquisa independente com sede em Nova Deli.

“O ar de Deli é incrivelmente tóxico”, disse Guttikunda, que recentemente se mudou para Goa para proteger seus dois filhos pequenos de ar da capital. “As pessoas em Deli estão cada vez mais cientes de que o ar é ruim, mas não fazem ideia o quão terrivelmente ruim ele de fato é.”

Hoje, perto de um milhão e meio de pessoas morrem anualmente na Índia, e cerca de um sexto de todas as mortes do país é resultado da poluição do ar interno e externo, um problema causado em parte pelo uso generalizado de esterco de vaca como combustível na cozinha. O país tem a maior taxa de mortalidade do mundo causada por doenças respiratórias crônicas e mais mortes de asma do que qualquer outra nação, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A poluição do ar também contribui para a doença cardíaca crônica e aguda, a principal causa de morte na Índia.

Veena Dogra, de 65 anos, reparou que membros da família que vêm do exterior para visitá-la, fungam e espirram, e ela está ciente de que sua secreção nasal preta para quando ela deixa a Índia, e retorna quando volta. Mas ela disse que, no fim, acaba se esquecendo do contraste entre Deli e os outros lugares,e é por isso que acaba ignorando a sugestões de suas filhas para que compre purificadores de ar ou use máscaras.

“Você acha que vou ficar trancada em um quarto da minha casa?” pergunta Veena. “Você tem que ser durão para viver em Deli. Se não for, é melhor sair. E tenho grande família aqui para pensar em fazer isso.”

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O Dr. James Gauderman, autor de um importante estudo de 2004 sobre os efeitos da poluição do ar nos pulmões infantis, descobriu que as crianças criadas em cidades com níveis de 30 PM2.5 tiveram reduções substanciais das funções pulmonares em comparação com aqueles em cidades com níveis de 5.

“Não posso imaginar qual seria esse déficit se os níveis de poluição forem quase 10 vezes maiores”, disse Gauderman. “Ninguém estuda isso.”