La Almoraima, propriedade agrícola à beira de uma reserva ambiental, abriga uma das maiores florestas de sobreiros da Europa, além de ser um lugar onde veados e javalis vagueiam, num ponto de onde se avista o rochedo de Gibraltar.
O governo espanhol, dono do terreno, quer vendê-lo por até R$ 960 milhões, descrevendo-o como um lugar perfeito para um empreendimento turístico de luxo, incluindo um hotel cinco estrelas, um pequeno aeroporto, dois campos de golfe e um de polo.
A oferta faz parte de uma política de venda de terras públicas, que os políticos vêm promovendo na esperança de acelerar a recuperação da economia. Mas eles estão se deparando com a oposição de ambientalistas, entre outros, que dizem que esses negócios evocam o mesmo tipo de excesso que mergulhou a economia espanhola em problemas. Depois do estouro da bolha imobiliária em 2008, o país ficou infestado de apartamentos não vendidos, centros culturais vazios e rodovias sem uso.
"O governo não aprendeu nenhuma lição com a bolha imobiliária", disse Alejandro Sánchez Pérez, um dos fundadores do partido ambientalista Equo. "Sua meta ainda é promover negócios imobiliários especulativos, com um forte foco no turismo", disse ele. "Mesmo que isso envolva a entrega de patrimônios como La Almoraima, que claramente deveria pertencer a todos os espanhóis, já que tem valor ecológico genuíno."
De 2000 a 2008, a Espanha ergueu cerca de 4 milhões de casas ao longo de seu litoral, apesar das acusações de que esse surto imobiliário equivaleria a uma privatização ilegal da costa espanhola.
Governos regionais e a administração do primeiro-ministro Mariano Rajoy estão sendo alvo de críticas por ajudarem a regularizar esses negócios, incluindo alguns que violaram regulamentos.
Os políticos da Espanha veem as vendas de terras públicas como uma oportunidade de o governo se desfazer de ativos improdutivos, reabastecer os cofres públicos, estimular o turismo e fazer com que o setor da construção civil volte a ganhar força.
As atividades agrícolas enfrentam dificuldades em La Almoraima, e o governo espanhol espera leiloar a propriedade até o começo do ano que vem. No ano passado, o governo injetou R$ 7,4 milhões em subsídios para manter a propriedade em operação.
Por ora, La Almoraima, com seu lago cercado por uma vasta extensão florestal, é um contraponto à extravagância de Marbella e outros balneários da Costa do Sol, situados a cerca de meia hora de distância por estrada.
Em La Amoraima, em vez de fazer compras, os visitantes buscam passeios em burros ou a temporada de caça.
Isabel Ugalde, administradora da propriedade, disse que o projeto ajudaria a atrair mais investidores estrangeiros para um mercado imobiliário que só recentemente saiu do marasmo.
As novas instalações seriam construídas em apenas um décimo dos 14.113 hectares da propriedade, segundo ela. Entre os interessados está um dos homens mais ricos da França, François-Henri Pinault, e sua mulher, a atriz Salma Hayek.
O governo regional da Andaluzia, que está nas mãos da principal formação oposicionista da Espanha, o Partido Socialista, se opõe à venda. Qualquer que seja a lógica do governo para deixar de investir em La Almoraima, a maioria dos habitantes da região acredita que não seria beneficiada pelo negócio. Cristina Castilla, que vive nas imediações e está desempregada há seis anos, fez uma projeção sombria. Mesmo que um resort seja construído na propriedade, disse ela, "todos os novos empregos serão dados a pessoas de fora".