Quando venceu uma primária para concorrer à Assembleia Nacional, Enzo Scarano esperava ser parte de uma onda que levaria a oposição a obter maioria legislativa, o que alteraria o equilíbrio político na Venezuela.
Porém, quando uma agência do governo tirou seu direito ao cargo, acabando com sua candidatura, ele se viu preso em um tipo diferente de onda — a de medidas governamentais que parecem destinadas a enfraquecer a oposição antes da eleição legislativa em dezembro.
“Foi uma mensagem ao povo da Venezuela: ‘Vejam, podemos fazer o que quisermos’”, disse Scarano sobre a tentativa de impedi-lo, e ao menos mais oito políticos e ativistas proeminentes, de concorrer a um cargo.
Scarano, 52 anos, que já foi prefeito desta cidade, tornou-se uma figura nacional no ano passado após ser mandado para a prisão e destituído de seu cargo acusado de ter falhado em impedir os protestos contra o governo de esquerda do presidente Nicolás Maduro.
Sua sentença de 10,5 meses terminou em fevereiro, e em maio, ele venceu as primárias para ser o candidato local da oposição no Congresso. Mas em 15 de julho o gabinete do auditor nacional decidiu que ele estava proibido de exercer cargo público por um ano. O motivo: Scarano atrasou a entrega de uma declaração financeira exigida de todos os funcionários públicos depois que saem do cargo.
Scarano disse ter preenchido os papéis a tempo — a questão se resume à data em que ele foi oficialmente destituído do cargo pelo tribunal. No entanto, mesmo que tivesse perdido o prazo por um pouco menos de três semanas, como alega o auditor, ele argumentou que deveria apenas ter sido multado, e não perdido seu direito de concorrer a algum cargo.
Nas últimas semanas o governo usou medidas semelhantes para impedir que outros oito políticos da oposição e ativistas fossem inelegíveis por pelo menos um ano. A lista inclui Leopoldo López, que está preso desde fevereiro de 2014, acusado de ter incitado a violência durante protestos antigovernamentais no ano passado, e María Corina Machado, ex-legisladora.
O auditor, Manuel Galindo, disse em um discurso recente que seu escritório “não persegue ninguém politicamente. Simplesmente é responsável pela segurança de propriedades públicas”.
A Venezuela está afundada em uma crise econômica e muitos especialistas preveem que, pela primeira vez em anos, a oposição poderia ter uma grande vitória nas urnas. Os economistas calculam que a inflação anual é de mais de 100 por cento, podendo dobrar até o final do ano, e a economia em 2015 poderia encolher sete por cento, uma recessão em parte causada pela queda acentuada do preço do petróleo, o principal produto de exportação do país.
Produtos básicos estão em falta: um supermercado em um shopping na cidade de cerca de 157 mil habitantes não tinha arroz, feijão, ovos, farinha, açúcar, óleo de cozinha, sabão de lavar louça e muitos outros produtos.
Maduro, um protegido de Hugo Chávez, diz que os inimigos, incluindo os Estados Unidos, travam uma guerra econômica que visa derrubar o governo. A maioria dos partidos de oposição concordou em fazer uma coalizão sob a bandeira da Unidade Democrática.
O governo tem colocado obstáculos não só à sua oposição tradicional, mas também a uma nova esquerda emergente. Em maio, autoridades eleitorais se recusaram a permitir que um grupo dissidente do Partido Socialista Unido de Maduro se registrasse como partido político. O grupo, Maré Socialista, disse que seus integrantes iriam concorrer por pequenos partidos de esquerda.
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