Cena do documentário “The Reflektor Tapes”, que acompanha a gravação e a turnê de um álbum de 2013 do Arcade Fire| Foto: Pulse Films

“Não importa o quanto eu goste uma banda”, disse Win Butler, “continuo achando filmes sobre shows uma chatice”.

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Por isso, quando Butler, vocalista do Arcade Fire, decidiu que seu grupo faria um documentário sobre a gravação e a turnê do álbum “Reflektor”, de 2013, ele optou por uma abordagem não convencional.

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O disco, que mistura ritmos caribenhos e uma ambientação musical new wave dançante, marcou um novo rumo para esses roqueiros de Montreal, cujo trabalho anterior, “The Suburbs” (2010), ganhou o Grammy de melhor álbum do ano.

A banda procurou Kahlil Joseph, conhecido pelos videoclipes que dirigiu para astros pop como o rapper Kendrick Lamar, a cantora britânica FKA twigs e o artista eletrônico Flying Lotus —vídeos que oferecem clima e textura, em vez de simplesmente ilustrar a letra das músicas.

O filme resultante, “The Reflektor Tapes”, é uma viagem impressionista pela criação do álbum, saltando das reuniões do Arcade Fire para compor as músicas, em 2012 na Jamaica, até shows em ginásios de Londres e Los Angeles, em 2014. Os diálogos são esparsos, e longos trechos se passam sem que a banda apareça na tela.

“Pode ser frustrante para um fã”, admitiu Butler, “mas parece uma versão mais verdadeira da ideia de abrir uma janela para o trabalho da banda”.

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Ele explicou que o filme —a ser lançado neste mês em todo o mundo— só começou a ser planejado depois que o álbum já estava em processo de criação.

Na Jamaica, os membros da banda começaram a trabalhar em um castelo, filmando a si mesmos por causa do cenário inusitado em que estavam.

Eles continuaram fazendo imagens durante a gravação do disco em Montreal e Nova York, o que exigiu alguma negociação.

Butler citou os desastrosos resultados de “Let It Be”, filme de 1970 que mostra a gravação do álbum homônimo dos Beatles e que selou o rompimento do quarteto. “Eles cometeram aquele erro para não precisarmos cometer também”, disse ele. Para que a intrusão fosse mínima, o engenheiro de som da banda operou a câmera nas sequências de bastidores.

Quando o álbum foi concluído, o grupo marcou alguns shows em casas noturnas —como a velha discoteca Salsatheque, em Montreal— sob o nome de “The Reflektors”, pedindo a Joseph que documentasse os eventos.

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“Parecia que éramos uma banda nova”, disse. “Começar em clubes e ir subindo, queimar tudo e construir a casa outra vez.”

A banda decidiu transformar as imagens em um filme de verdade na época que em planejava um show no Haiti durante o Carnaval. Régine Chassagne, vocalista e multi-instrumentista do Arcade Fire, além de mulher de Butler, é filha de haitianos. Butler disse que sua primeira viagem para um Carnaval “mudou a vida” dele, e gravar no Haiti era um sonho acalentado havia muito tempo pela banda. Em 2010, estava tudo certo para filmarem lá com o cineasta Jonathan Demme, mas dias antes do embarque o país foi devastado por um terremoto. “Se fosse para fazer, era agora”, disse Butler. Tudo foi entregue a Joseph.

Segundo o diretor, sua ambição com “The Reflektor Tapes” era “que fosse um novo tipo de filme musical, não só um filme sobre música”.

Um recente boom de documentários musicais resultou em filmes vencedores do Oscar (“Procurando Sugar Man” e “A Um Passo do Estrelato”) e nos aclamados “Amy” e “What Happened, Miss Simone?”, ambos deste ano. Com “The Reflektor Tapes”, o Arcade Fire tenta algo mais caleidoscópico. Butler, porém, citou algumas das suas bandas favoritas, como Clash e Rolling Stones, e observou que sua consideração por elas deve-se em parte a uma sucessão de clipes e vídeos gravados ao longo dos anos, fragmentos acumulados em vez de um único documento definitivo.

“Sinto que este filme não é para mim”, afirmou. “Eu seria suspeito se quisesse assistir a um filme sobre mim mesmo. Mas acho que assisti-lo daqui a 15 ou 20 anos será interessante.”

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