Kimmo Kalliola conhece bem a sensação que milhares de finlandeses enfrentaram nos últimos tempos. Ele passou mais de dez anos trabalhando na Nokia, até que a gigante finlandesa da tecnologia entrou em crise. No final de 2012, Kalliola e 10 mil outros funcionários da empresa foram demitidos.
Em 2014, a empresa vendeu para a Microsoft seu setor antes líder de telefonia celular. Em três meses, a Microsoft anunciou 18 mil demissões, muitas delas na Finlândia. Mais cortes estão sendo feitos agora, e a Microsoft anunciou que vai reduzir sua força de trabalho finlandesa em até 2.300 profissionais —cerca de dois terços de sua força de trabalho local.
A chegada ao mercado finlandês desse grande número de profissionais de tecnologia criou uma dor de cabeça para os políticos. Governos em todo o mundo se esforçam para formar e atrair mais engenheiros e desenvolvedores altamente qualificados. Já a Finlândia possui um excedente de profissionais desse tipo.
Alguns deles podem estar tendo dificuldade em encontrar bons empregos, mas muitos já lançaram seus próprios negócios ou foram contratados por empresas de tecnologia que estão se mudando para a Finlândia.
Kalliola, por exemplo, fundou a Quuppa, empresa que fornece posicionamento geolocal preciso em espaços fechados.
O fato de esses profissionais de tecnologia estarem tendo relativamente poucas dificuldades se deve a esforços do governo finlandês. Ao mesmo tempo em que a Nokia iniciava as demissões, os políticos do país começaram a fornecer bolsas e formação profissional para ajudar profissionais demitidos a fundar suas próprias empresas.
Os políticos finlandeses também obrigaram a Nokia a apoiar o reingresso no mercado de trabalho de seus antigos funcionários —e estão pressionando a Microsoft a fazer o mesmo.
O auxílio dado inclui dotações para novos empreendimentos e permite que ex-funcionários usem bens intelectuais da Nokia, como patentes pelas quais a empresa não se interessa, quase gratuitamente.
Graças a esses esforços, o índice de desemprego de profissionais de tecnologia está vários pontos percentuais mais baixo que o índice geral de desemprego na Finlândia, atualmente em 10%.
Várias das cidades finlandesas afetadas pelas demissões em grande escala vêm fazendo esforços para atrair outras firmas de tecnologia, usando os talentos tecnológicos locais disponíveis como atrativo importante.
A britânica ARM Holdings, designer de produtos digitais, e a taiwanesa de semicondutores MediaTek recentemente abriram centros de pesquisas e desenvolvimento em Oulu, contratando engenheiros que antes trabalhavam para a Nokia. “Se você precisa formar uma equipe completa de desenvolvimento, é provável que haja gente para isso em Oulu”, comentou Juha Ala-Mursula, o diretor de desenvolvimento econômico da cidade.
Para outros, os ex-funcionários da Nokia enfrentaram dificuldades, tendo que trabalhar com menos recursos disponíveis, depois de deixar uma grande empresa.
Antti Saarnio, o presidente da Jolla —firma finlandesa que está desenvolvendo um sistema operacional para celulares—conta que precisou conter seus desenvolvedores quando eles pediram coisas que estão fora do alcance de uma start-up.
“A Nokia não foi exatamente uma escola de empreendedorismo”, comentou.
Para Pekka Väyrynen, que depois de deixar a Nokia co-fundou uma empresa de desenho industrial que cria aparelhos celulares, a chance de assumir as rédeas de sua própria carreira falou mais alto que quaisquer mordomias que seu antigo cargo corporativo pudesse lhe oferecer.
“Nos últimos tempos na Nokia, a demora para tomar qualquer decisão era muito grande”, comentou Väyrynen, 54. Sua firma, a Creoir, recentemente ajudou a criar um smartphone para a Marshall, renomada fabricante de amplificadores. “Hoje estamos fazendo nossas próprias escolhas. É instigante.”