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Uma interpretação de Luis Barragán, no MoMA | /
Uma interpretação de Luis Barragán, no MoMA| Foto: /

A frase já batida “Mi casa es tu casa” pode ser a expressão latino-americana da hospitalidade, mas deixa algumas questões básicas em aberto, principalmente para quem se interessa por arquitetura e design. Que tipo de casa? E o que há dentro dela?

Três novas exposições se dispõem a tratar dessas questões e oferecem uma visão das tendências na arquitetura e design latino-americanos desde a Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que sugerem um padrão de inovação regional que não recebeu o devido reconhecimento ao longo de seu desenvolvimento.

Barry Bergdoll, principal curador da “Latin America in Construction: Architecture 1955-1980”, no Museu de Arte Moderna (em cartaz até 19 de julho), diz que o objetivo de sua mostra é “criar polêmica, mostrando a América Latina como um centro de experimentação e originalidade”.

As três exibições se inspiraram na mostra realizada em 1955, no MoMA, que analisava a década anterior na arquitetura do continente latino-americano. Na Americas Society, a mostra de móveis, cerâmica, vidros e outros objetos, chamada “Moderno: Design for Living in Brazil, Mexico and Venezuela”, (que vai até 16 de maio), cobre o período de 1940 a 1978. O Museu de Artes e Design se concentrou nos últimos 25 anos em “New Territories: Laboratories for Design, Craft and Art in Latin America” (que terminou no início deste mês).

Desenvolvimentos no Brasil, México e Venezuela dominam os três eventos. A construção de Brasília, no fim dos anos 50, passou a simbolizar as grandes ambições da América Latina, mas a exposição do MoMA também destaca que os governos mexicano e venezuelano usaram suas novas riquezas, geradas com a industrialização e o petróleo, para estimular a construção de casas, universidades, hospitais, bibliotecas e museus.

As exposições refletem o reconhecimento internacional, cada vez maior, da arquiteta e designer Lina Bo Bardi. Nascida na Itália, em 1914, ela imigrou para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial e desenvolveu um estilo que o crítico Martin Filler, no ano passado na Resenha de Livros de Nova York, descreveu como “instigante e contraditório, mas inteligentemente revelado”.

No MoMA, a Casa de Vidro de Lina faz parte da seção que inclui as residências que profissionais de renome mundial — como os mexicanos Luis Barragán e Juan O’Gorman e o brasileiro Paulo Mendes da Rocha — construíram para si mesmos. Esse é o ponto central da arquitetura na região: uma vez que os países em desenvolvimento ainda têm inúmeros espaços abertos e sua urbanização se deu com certo atraso, os profissionais podem dar asas à imaginação.

“A referência a ‘Novos Territórios’ no título da mostra do Museu de Artes e Design foi usada não no sentido geográfico, mas sim em relação a novos gêneros, estratégias e materiais”, explica a curadora Lowery Stokes Sims.

“Todo mundo teve muito cuidado em não usar estereótipos em relação ao continente”, completa.

A reutilização do vidro, metal e outros materiais é uma característica própria dos projetos da região, geralmente como uma resposta criativa em relação às limitações financeiras. Porém, Jorge Rivas Pérez, arquiteto e designer venezuelano envolvido nas mostras do Museu de Artes e Design e da Americas Society, enfatizou a influência de duas vertentes conflitantes.

“Na América Latina somos bombardeados pelo desejo de pertencermos a nossos países e, ao mesmo tempo, sermos cosmopolitas e internacionais. Essa dicotomia entre ser parte do cenário local e global acontece na região desde os anos 40, quando os designers tentaram usar o vocabulário do Modernismo, tão em voga, mas também reconheceram a necessidade de se adaptar materiais locais e a sistemas de produção baseados nas técnicas territoriais”, conta ele.

Essa tensão foi vista na mostra do Museu de Artes e Design, em objetos como a tapeçaria chilena que mescla os motivos indígenas tradicionais dos mapuche com matrizes de códigos de barras. O exemplo mais impressionante, entretanto, vem do Brasil, na forma de um espelho e mesinha lateral de 1996, ambos em acrílico preto moldado a laser, com características do período colonial do século XVIII.

“Havia um diálogo contínuo e permanente com os EUA, fluindo em ambas as direções, uma troca de igual para igual”, conta a curadora mexicana Ana Elena Mallet.

Até o advento da TV a cabo e da Internet, criadores e consumidores latino-americanos se concentravam mais nas tendências europeias e norte-americanas que nas dos países vizinhos – e as semelhanças que por acaso surgiram em termos regionais foram resultado de respostas simultâneas, bastante discretas, aos desafios da urbanização, da pobreza e da necessidade de integrar a modernidade à tradição de alguma forma.

“Algumas dessas coisas são surpreendentes até mesmo para os hispânicos. Sim, houve uma revolução no design, mas a difusão entre os países foi muito restrita”, conclui Rivas.

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