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Havana se rende ao ritmo do reggaeton

Os ícones de estilo da Havana moderna não são Fidel Castro ou Che Guevara, mas El Yonki, Los Desiguales e outros rebeldes do reggaeton | Lisette Poole/The  New York Times
Os ícones de estilo da Havana moderna não são Fidel Castro ou Che Guevara, mas El Yonki, Los Desiguales e outros rebeldes do reggaeton (Foto: Lisette Poole/The New York Times)

Em uma noite recente, turistas de chapéus e camisas guayabera saíam de carros americanos cor de rosa da década de 1950 para fumar charutos, beber mojitos e ouvir clássicos do Buena Vista Social Club no Hotel Nacional, uma cena de Havana congelada no tempo.

Porém, a um quarteirão de distância, no show de reggaeton do Chacal & Yakarta, “Party Full Nasty”, havia um exército de fãs com barbas compridas, cabelos espetados e muito couro sintético.

À primeira vista, esse público lembra outro arquétipo cubano desatualizado: os rebeldes que deixavam a barba crescer enquanto se escondiam nas montanhas de Sierra Maestra. No entanto, os formadores de opinião da Havana moderna não são Fidel Castro e Che Guevara, mas El Yonki, Los Desiguales e outros comandantes da revolução reggaeton. Esse exército gosta de cantar as letras lascivas das músicas em altos brados. O uniforme das tropas obsessivamente bem penteadas inclui uma camiseta extra-grande cortada na diagonal e calças estilo harém.

“Muitas pessoas nos seguem, e nós somos um modelo para eles, sobre como devem viver suas vidas. Me sinto responsável”, disse Michel Anaya Salazar, 26, mais conhecido por seu nome artístico, El Happy, enquanto mostrava seus chamativos braceletes religiosos e seus óculos Cazal.

Talvez o primeiro item na lista de responsabilidades de El Happy e seus companheiros seja as sobrancelhas esculpidas.

“Iguais às das mulheres”, disse África Amada Rodriguez Cruz, pendurada no braço depilado de seu namorado antes do show “Party Full Nasty”. “Eles tiram a sobrancelhas e depilam o corpo inteiro.”

O visual, como a música, está em toda parte. Centenas de fãs de reggaeton com cabelos tingidos e cheios de gel que se sentam ao entardecer no muro da Malecón, a avenida com vista para a baía de Havana, se parecem com um bando de pássaros tropicais empoleirados.

Em 2011, o governo tentou deter a ameaça imperialista.

Mas a música sobreviveu. “A coisa que mantém o reggaeton vivo é a transcendência do reggaeton”, disse El Happy.

Quando o governo afrouxou as restrições, a música e sua influência na moda se espalharam por Cuba e tomaram Havana. Fãs usam trajes de couro sintético que eles acreditam ser importados dos Estados Unidos ou México por lojas privadas (não governamentais) na rua Galiano.

Mas a verdadeira marca da influência do reggaeton aqui é o cabelo.

Nas ruas de Havana, fãs usam o mesmo corte de Alejandro Santoya, mais conhecido como El Yonki (derivado da palavra “junkie”, ou viciado). O grande sucesso de El Yonki é uma canção chamada “La Barba”. “Significa experiência. Dá um ar sério”, disse ele sobre os pelos faciais.

Bittista Pérez Rubisel, 25, também chamado de Tito, saiu de uma lanchonete que passava vídeos de reggaeton visual e liricamente vulgares. Ele expressou admiração pelas barbas em estilo “europeu” do Los Desiguales. Ao responder sobre como a barba europeia se compara à de Fidel Castro, Rubisel assumiu uma postura reverente.

“Ele pode usá-la como quiser, ele é o jefe”, disse, beijando a mão e apontando para o céu.

Rubisel se sentiu mais livre para falar sobre cortes de cabelo. “O meu é o tubarão. É raspado nos lados, mas o do topo vai até as costas.”

Rubisel deu uma lista de outros penteados populares. Para exemplificar “a tesoura”, ele apontou para seu amigo, que tinha um pequeno tufo de cabelo na parte de trás da cabeça raspada, como um solidéu escorregando. E o “Yonki”, em homenagem a El Yonki, em que os lados são raspados e a parte de cima se ergue como uma torre. E depois há “o bife”, que segundo Rubisel é uma mecha alisada no topo da cabeça raspada que pende para um lado.

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