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Arte & Design

Inspirado por Proust, arquiteto projeta edifício

Com 11 galerias, a sede da Fundação Louis Vuitton, projetada por Frank Gehry, parece um veleiro cubista | Benoit Tessier/Reuters
Com 11 galerias, a sede da Fundação Louis Vuitton, projetada por Frank Gehry, parece um veleiro cubista (Foto: Benoit Tessier/Reuters)
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O presidente da França, François Hollande, descreveu o edifício como uma "catedral de luz", fruto de "um milagre da inteligência, da criatividade e da tecnologia".

Ele se referia à sede da Fundação Louis Vuitton, que tem 11,7 mil m2 e custou US$ 135 milhões. Nesse prédio, projetado por Frank Gehry e inaugurado em 21 de outubro, funcionam um centro cultural privado e um museu de arte contemporânea.

Claude Parent, que aos 91 anos é a eminência parda da arquitetura francesa, disse que, ao ver o prédio pela primeira vez, foi "tomado por uma emoção tão forte que parecia vir de algo diferente da arquitetura".

Paris atualmente celebra Gehry. Alguns críticos consideram que o prédio do Bois de Boulogne é uma das obras de maior motivação artística e sofisticação tecnológica no portfólio de um arquiteto que começou projetando pequenas casas e quitinetes com armação de madeira, no sul da Califórnia, e hoje é tema de uma retrospectiva no Centro Pompidou.

No Vuitton, os visitantes encontram o que parece ser um veleiro cubista, com as velas de vidro erguendo-se sobre a linha das árvores e projetando-se a vante, a ré, a bombordo e a estibordo. O edifício parece deslizar sobre uma cascata de água que cai num dique escalonado, sob a "proa" pendente do edifício. A estrutura de dois andares tem 11 galerias, um auditório e terraços de vários níveis para eventos e instalações artísticas.

O local fica ao lado do Jardim da Aclimação, parque infantil e zoológico do século 19.

O arquiteto teve de construir dentro das dimensões de uma pista de boliche que antes existia ali —qualquer coisa mais alta precisaria ser de vidro.

Gehry disse que precisou da aprovação de apenas um cliente, Bernard Arnault, presidente e executivo-chefe do conglomerado de produtos de luxo LVMH.

"Ele queria um edifício que fosse diferente de qualquer outra coisa que alguém já tivesse visto", disse Gehry.

Gehry ignorou as tradições geométricas francesas. "As nuvens de vidro respondem à geometria da natureza e ao paisagismo inglês do parque", disse ele sobre o Bois de Boulogne. "A aparente desordem da natureza tem a sua própria ordem."

O arquiteto se disse "muito emocionado com o parque", que para ele evocou "a Paris de Proust". "Eu o li repetidamente e percebi que [o Bois de Boulogne] era um local sentimental para todos."

Ele tinha duas orientações: respeitar o parque e o jardim e suprir as necessidades das galerias. "Uma vez que tínhamos a grande premissa de que haveria uma peça sólida para as galerias, que passamos a chamar de icebergs, e em seguida as velas de vidro para o jardim, começamos a trabalhá-los de forma independente", disse Gehry. "Mesclar os dois não funcionaria, porque você não poderia ter galerias cheias de curvas e não conseguiria pendurar quadros no vidro."

As velas diáfanas, apoiadas sobre uma acrobática armadura de madeira e aço, projetam-se para fora do iceberg.

A estrutura de vidro tem lugar em uma longa tradição parisiense que remonta à gótica Sainte-Chapelle, do século 13, na Île de la Cité, com suas altas paredes de vitrais, e ao Grand Palais, do século 19, um pavilhão de exposições cujas cúpulas de vidro evocam os vastos espaços públicos de Roma. As formas fragmentadas e multidirecionais da Fundação Vuitton lembram o cubismo de Braque e Picasso.

Os visitantes entram em um salão alto, a partir do qual escadas inclinadas e passarelas sinuosas levam às galerias e a uma cobertura de terraços externos recobertos pelas velas de vidro.

Entre o iceberg e o veleiro, espaços sanfonados se expandem e se contraem, de forma alternadamente intimista e grandiosa, no que Gehry descreveu como uma "dança caótica".

Nem todos críticos se impressionaram. No "Observer", Rowan Moore criticou as velas por considerá-las desnecessárias.

Na retrospectiva do Pompidou, maquetes e desenhos originais mostram a evolução das ideias de Gehry antes da Fundação Vuitton. Outras exposições, disse Frédéric Migayrou, vice-diretor do Pompidou, "retrataram os edifícios de Gehry como um objeto, uma forma".

"Tentei fazer o inverso", disse, "passando por todos os trabalhos para definir a evolução da linguagem, as continuidades, a ideia de movimento dinâmico, como ele abre a forma de modo a fazê-la interagir com a cidade e a provocar o movimento do corpo ao redor do edifício".

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