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O crowdfunding, prática de aproximar ideias brilhantes de carteiras abertas, parece ter limites. Os produtores que estão trabalhando para concluir o último e inacabado filme de Orson Welles, “The Other Side of the Wind”, não conseguirão arrecadar os US$ 2 milhões que haviam pedido na internet —nem mesmo US$ 1 milhão—, depois de ampliar o prazo. E uma “vaquinha” para tirar a Grécia da crise financeira ficou € 1,5 bilhão aquém da meta.

Pelo menos eles tentaram.

Por outro lado, há abundantes histórias de sucesso por aí. A banda Foo Fighters se comprometeu a fazer um show na pequena cidade italiana de Cesena depois que um grupo de moradores arrecadou o equivalente a US$ 50 mil —a maior parte via crowdfunding— para produzir um clipe divulgado no YouTube em que mil músicos tocam “Learn to Fly”, da banda. O esforço não vai salvar a zona do euro, mas pelo menos é divertido.

E a diversão via crowdfunding não para de crescer. A New York Wheel, uma roda-gigante de 192 metros, começou a ser construída em Staten Island depois de obter US$ 450 milhões por outras fontes de financiamento. Agora, informou o jornal “The New York Times”, os responsáveis pelo projeto tentarão arrecadar outros US$ 30 milhões com a venda de ações do empreendimento por meio de plataformas de crowdfunding. Jim Dowd, da empresa de investimentos North Capital Private Securities, que está envolvida no projeto, disse acreditar que essa “será a maior transação com crowdfunding de que já tivemos notícia”.

Em termos de dólares, talvez sim, mas não quanto à importância. Alguns pesquisadores da área de medicina estão considerando propostas de vida ou morte.

Ezekiel Emanuel e Steven Joffe, professores do Departamento de Ética Médica e Política Sanitária da Universidade da Pensilvânia, relataram como um ex-professor de oncologia deles estava lidando com a questão ética de uma ideia. Ele criou um exame capaz de determinar a melhor quimioterapia para o câncer de um paciente e quis realizar uma pesquisa clínica. Precisava de dinheiro para isso e cogitava cobrar dos próprios pacientes. Cerca de US$ 30 mil cada um.

O oncologista não está sozinho nesse tipo de abordagem. Outros cientistas discutem se ela pode ser uma forma de impulsionar pesquisas relevantes.

“As ideias sobre exames e tratamentos potenciais para doenças como câncer, esclerose múltipla e mal de Alzheimer não estão sendo experimentadas por falta de verbas para a pesquisa”, escreveram Emanuel e Joffe. “Os defensores parecem ter um bom argumento. Cobrar resultaria em mais pesquisas, e quanto mais pesquisas forem feitas, mais a sociedade aprende sobre quais medicamentos, equipamentos e exames diagnósticos funcionam ou não.”

Mesmo experiências fracassadas teriam seu valor, escreveram eles, pois com elas “a sociedade aprende quais pistas não seguir”. “Esse tipo de pesquisa do tipo ‘pague e use’ seria uma forma de crowdfunding, uma espécie de Kickstarter da pesquisa clínica”, acrescentam eles.

No entanto, os dois especialistas em ética acham que é melhor deixar que as massas gastem seu dinheiro em shows de rock e rodas-gigantes.

“Muita gente está disposta a tentar quase qualquer coisa para si ou para um ente querido, especialmente uma criança com uma doença terminal”, escreveram eles. “E o simples fato de uma pessoa poder assinar um cheque para se inscrever em um estudo não significa que não possam tirar proveito dela injustamente.”

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