| Foto: JAMES ESTRIN/NYT

Em 1903, alguns moradores de Nova York executaram uma elefanta em Coney Island, torturando-a até a morte. Os relatos variam um pouco, mas parece que Topsy era uma elefanta de circo que foi abusada por anos e um dia matou um homem que a queimou com um charuto. Depois que seus donos já não tinham mais uso para ela, Topsy foi alimentada com cianeto, eletrocutada e estrangulada com um guincho. A empresa cinematográfica Edison fez um filme com a história, Electrocuting an Elephant (Eletrocutando um Elefante).

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Então, talvez tenha havido algum progresso moral. Depois de muitas alegações de maus tratos de animais, o circo Ringling Bros. recentemente aposentou seus elefantes, mandando-os para uma vida tranquila na Flórida. Na primavera, o SeaWorld anunciou que vai parar de reproduzir orcas e que investirá milhões de dólares em resgate e reabilitação de animais marinhos.

Enquanto isso, no mês passado, o Wal-Mart respondeu a preocupações sobre o bem-estar dos animais afirmando que vai vender apenas ovos de galinhas que não ficam em gaiolas, seguindo anúncios parecidos da Costco, Denny´s, Wendy´s, Safeway, Starbucks e McDonald´s dos Estados Unidos e do Canadá.

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Essa é uma revolução humanitária, e Wayne Pacelle, presidente da Humane Society dos Estados Unidos, está à frente dela. Alternadamente incentivando empresas a escolher o melhor caminho e cooperando com aquelas que o fazem, ele descreve sua abordagem em um excelente livro recém-lançado, “The Humane Economy” (A Economia Humanitária). Essas mudanças corporativas têm impacto vasto: o Wal-Mart ou o McDonald’s moldam a condição de vida de mais animais em um dia do que um abrigo em uma década.

Há também uma lição para muitas outras causas, como a ambiental, o empoderamento feminino e a saúde global: a melhor maneira para as organizações não governamentais conseguirem resultados em grande escala é, às vezes, trabalhar com as corporações para mudar seus comportamentos e linhas de fornecimento – combatendo-as quando elas resistem.

O Fundo de Defesa Ambiental e a Conservação Internacional, a CARE, fez algo parecido com o espaço ambiental, trabalhando com as corporações para lutar contra a pobreza global, e os parceiros da Campanha de Direitos Humanos ajudam empresas a lidar com questões LBGT.

Os críticos algumas vezes veem isso como um comprometimento moral, negociar com o diabo ao invés de derrotá-lo; eu encaro como pragmatismo. Da mesma forma, Pacelle é vegano há 31 anos, mas coopera com empresas de fast-food para melhorar as condições nas quais os animais usados nessa indústria são criados.

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“Os animais amontoados em gaiolas e caixas não podem esperar até que o mundo se torne vegano. Tenho certeza de que eles querem sair dessa vida de privações agora mesmo, e assim que essa questão estiver resolvida, as pessoas sensatas podem debater se eles deveriam ser criados para ir para o prato”, Pacelle me disse.

Em um momento em que o mundo anda bastante bagunçado, Pacelle esboça uma visão de esperança. O público normalmente tem algum impacto com doações para caridade e sempre há boicotes ocasionais, mas algumas vezes sua maior influência é usando seu poder de compra no dia a dia como consumidores.

“À medida que a economia humanitária reafirma seu próprio poder, sua lógica e sua decência essencial, a ordem mais antiga está deixando de existir. Em todos os aspectos, a vida será melhor quando a satisfação humana e a necessidade não estiverem mais construídas sobre fundamentos de crueldade com os animais. Práticas indefensáveis não precisarão mais ser defendidas”, escreve Pacelle em seu livro.

É verdade que as atrocidades continuam e que a matança de animais como elefantes persiste. Havia 130 mil elefantes no Sudão 25 anos atrás e hoje deve haver talvez cinco mil no Sudão e no país que se separou dele, o Sudão do Sul, segundo escreve Pacelle.

No entanto, existe um modelo de negócios para manter grandes animais, como elefantes, vivos. Uma análise sugere que as presas de um elefante morto valem US$21 mil, enquanto o valor do turismo de um único elefante vivo durante sua vida é US$1,6 milhão. Os países seguem seu próprio interesse na hora de proteger os elefantes, da mesma maneira que o McDonald´s vai atrás do que lhe interessa quando afirma que passará a usar apenas ovos de galinhas que vivem fora de gaiolas.

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Também é espantoso o quanto o mundo dos negócios está ficando sensível à opinião do público sobre os animais. Depois de o leão Cecil foi morto no Zimbábue, grupos de proteção animal fizeram pressão para que as companhias aéreas parassem de carregar troféus desse tipo. A Delta, a American, a United, a Air Canada e outras empresas rapidamente aceitaram.

No negócio de petshops, duas cadeias – PetSmart e Petco – prosperam sem aceitar a norma de empresas do gênero de vender cachorros e gatos vindos de grandes criadores. Ao invés disso, desde 1990 têm espaços para grupos de resgate oferecerem animais para adoção. A PetSmart e a Petco não recebem dinheiro com essas adoções, mas ganham a lealdade do consumidor para sempre, e já ajudaram 11 milhões de gatos e cachorros a encontrar novas casas.

Acredito que os maus tratos aos animais, particularmente na agricultura, permanecem um ponto cego moral para nós. Ainda assim é encorajador ver em curso uma revolução impulsionada pelos consumidores

“Praticamente todas as empresas construídas sobre os maus tratos aos animais vai enfrentar problemas”, escreve Pacelle. Em um mundo sombrio, é uma lembrança bem vinda de que também existe progresso. Passou pouco mais de um século desde a época em que fazíamos filmes sobre como torturar um elefante até os dias de hoje, em que os elefantes de um circo partiram para a aposentadoria na Flórida. Mas, na verdade, ainda há muito que fazer.