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O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que negociou o acordo com o Irã | andrew harnik/AP
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que negociou o acordo com o Irã| Foto: andrew harnik/AP

Ao pressionar o Congresso pela aprovação de um acordo nuclear com o Irã, o presidente Barack Obama encara um dificuldade: o seu principal argumento a favor do pacto é também sua maior vulnerabilidade.

O acordo nuclear com o Irã impõe limites precisos sobre a quantidade de combustível nuclear que o país pode possuir, quantas centrífugas podem funcionar e qual tipo de tecnologia Teerã pode adquirir. Isso tornará extremamente improvável o desenvolvimento de uma bomba atômica pela República Islâmica nos próximos 15 anos.

No entanto, a maior parte das restrições expira após esse prazo, e então o Irã estará liberado para produzir urânio em escala industrial. “Meu principal senão é o fato de que, em 15 anos, eles terão uma capacidade de enriquecimento altamente moderna e internacionalmente legitimada”, disse o deputado Adam Schiff, que apoia o pacto.

Mesmo alguns dos mais entusiasmados partidários do acordo temem que Obama tenha exagerado ao dizer que o pacto “bloqueia” todos os caminhos de Teerã na direção das armas nucleares.

Uma descrição mais precisa é que o acordo deverá retardar o programa iraniano em uma década e meia —assim como as sanções e sabotagens contra o Irã fizeram nos últimos anos.

“Claro que existem riscos, e eles têm que ser reconhecidos”, disse Nicholas Burns, que foi subsecretário de Estado no governo de George W. Bush e defendeu o acordo em depoimento ao Congresso. “O argumento mais convincente” de Obama, segundo ele, “é que não há alternativa melhor”.

Pelo acordo, as sanções econômicas contra o Irã só começarão a ser suspensas depois que o país reduzir para 300 kg o seu estoque de urânio fracamente enriquecido. Esse volume —uma redução de 98% em relação ao estoque atual, de cerca de 12 toneladas— não seria suficiente para fazer nem uma só arma nuclear.

O acordo também prevê inspeções regulares nas instalações nucleares do Irã e determina a retomada das sanções internacionais se os iranianos forem flagrados trapaceando.

Mas o lado negativo é que, depois de 15 anos, o Irã teria autorização para produzir grandes quantidades de combustível para seus reatores, usando centrífugas mais avançadas. Isso pode significar que a margem de reação se o Irã decidir produzir uma bomba às pressas será reduzido para semanas, segundo uma recente análise do Instituto Brookings.

Críticos dizem que, ao fim do prazo determinado no acordo, a economia do Irã estará mais fortalecida, bem como sua capacidade de suportar sanções econômicas, e suas instalações nucleares provavelmente estarão mais protegidas pelos sistemas de defesa aérea que o Irã deverá adquirir da Rússia.

Sob as restrições previstas, o Irã precisaria de um ano para produzir material nuclear suficiente para uma bomba; atualmente, esse prazo seria de dois ou três meses, segundo agências de inteligência americanas. Mas, em dez anos, esse período voltaria a encolher, já que o Irã poderá colocar mais centrífugas em operação.

Autoridades dos EUA argumentam que previram a possibilidade de o Irã querer produzir combustível adequado para armas no futuro, e por isso os negociadores garantiram uma proibição permanente na metalurgia necessária para transformar o combustível em bombas atômicas.

Os defensores do acordo apostam que o aperfeiçoamento das atividades de inteligência impediria o Irã de preparar uma bomba às pressas. O tratado determina que os inspetores poderão monitorar durante até 20 anos a produção de motores e outros componentes para centrífugas, além de fiscalizar durante 25 anos os estoques iranianos de concentrado de minério de urânio.

Para alguns, os EUA deveriam avisar o Irã de que a produção de urânio altamente enriquecido após o término das principais disposições do acordo seria encarada como uma indicação de que Teerã decidiu buscar armas nucleares —e poderia desencadear uma ação militar americana.

Uma questão que atraiu muita atenção é a regra dos “24 dias” para a resolução de litígios se o Irã se recusar a permitir inspeções em locais sob suspeita —outra regra que expira após 15 anos.

Críticos dizem que isso é muito diferente do acesso “a qualquer lugar e a qualquer hora”, expressão que pessoas ligadas ao governo usavam meses atrás, mas da qual depois se arrependeram.

Se o Irã rejeitar uma inspeção, uma comissão —que inclui o próprio Irã— poderá decidir sobre medidas punitivas, incluindo a retomada das sanções econômicas. Para isso, basta a maioria simples, de modo que as sanções poderiam entrar em vigor mesmo com a objeção do Irã, da China e da Rússia.

Essa é a teoria. Na prática, a retomada das sanções poderia ser politicamente difícil. O Irã diz que, se as sanções forem restabelecidas, a República Islâmica deixará de cumprir o acordo.

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