As vendas de óleo de peixe dobraram no mundo todo, apesar de testes clínicos mostrarem que ele não traz nenhum benefício à saúde.
O óleo de peixe já é o terceiro suplemento dietético mais usado nos EUA —atrás apenas de vitaminas e minerais—, pois há a crença de que os ácidos graxos ômega-3 protejam a saúde cardiovascular.
Mas a grande maioria dos testes clínicos não revelou nenhum indício de que o consumo de peixe reduza a incidência de ataques cardíacos e AVCs. De 2005 a 2012, mais de 20 estudos sobre o óleo de peixe foram publicados, a maioria analisando se o produto era capaz de prevenir doenças cardíacas em grupos de alto risco. Com exceção de dois, todos concluíram que o óleo de peixe não apresentava benefícios comparado a um placebo.
A maioria dos suplementos à base de óleo de peixe é rica em dois ácidos graxos ômega-3 que afinam o sangue —efeito similar ao da aspirina—, o que, por sua vez, reduz a propensão a coágulos. O ômega-3 também tem propriedades anti-inflamatórias, o que auxilia na prevenção da aterosclerose.
As autoridades sanitárias dos EUA já aprovaram pelo menos três fórmulas de óleo de peixe para serem vendidas sob receita médica para pacientes com taxas elevadas de triglicérides, um fator de risco para doenças cardíacas.
O entusiasmo com o óleo de peixe remonta a uma pesquisa realizada na década de 1970 pelos cientistas dinamarqueses Hans Olaf Bang e Jorn Dyerberg. Eles concluíram que inuítes (esquimós) do norte da Groenlândia apresentavam uma incidência notavelmente baixa de doenças cardiovasculares, o que eles atribuíram a uma dieta rica em ômega-3, composta basicamente de peixe, carne de foca e banha de baleia.
Posteriormente, o cardiologista George Fodor, da Universidade de Ottawa, apontou falhas em grande parte dessa pesquisa inicial e concluiu que a incidência de doença cardíaca entre os inuítes havia sido fortemente subestimada.
Mas a crença em torno do óleo de peixe persiste. Na década de 1990, a popularidade dessa substância voltou a ser reforçada por diversos estudos, incluindo um trabalho italiano que apontava uma redução na mortalidade de sobreviventes de ataques cardíacos que eram tratados com um grama de óleo de peixe por dia.
James Stein, diretor de cardiologia preventiva do Hospital e Clínicas da Universidade de Wisconsin, disse que os primeiros estudos sobre o óleo de peixe ocorreram numa época em que as doenças cardiovasculares eram tratadas com um uso muito mais limitado de estatinas, betabloqueadores, diluidores de sangue e outras terapias intensivas. Assim, o efeito do óleo de peixe, mesmo pequeno, teria sido mais perceptível.
Stein também alerta que o óleo de peixe pode ser perigoso quando combinado com a aspirina ou outro diluidor do sangue. Mas alguns especialistas dizem que o veredicto sobre o óleo de peixe permanece indefinido.
JoAnn Manson, do Hospital Brigham and Women, em Boston, observou que os testes clínicos examinaram pessoas que já tiveram doença cardíaca ou estavam sob risco muito elevado. O óleo de peixe também tem sido apontado como benéfico contra outras doenças, incluindo câncer e mal de Alzheimer.
“As pessoas devem saber que o debate ainda está aberto”, disse, “e que elas podem estar gastando muito dinheiro com esses suplementos sem obter qualquer benefício”.