Cairo - O ditador Hosni Mubarak, de 82 anos, que governa o Egito desde 1981, anunciou a dissolução de seu gabinete de ministros, na tentativa de conter os maiores protestos contra o seu regime em três décadas.
Mubarak não deu, porém, nenhuma indicação de que pretenda sair do governo, principal reivindicação das manifestações que tomaram o Egito. Em discurso na tevê, ele disse que é seu papel manter a segurança no país e que há uma tênue linha entre a liberdade e o caos.
Durante o dia de ontem, antes do pronunciamento feito por volta da meia-noite (20h, no horário de Brasília), o ditador havia decretado toque de recolher e, em uma medida inédita, mandado o Exército para conter as manifestações nas ruas das principais cidades.
Dezenas de milhares participaram de protestos na capital, Cairo, e em grandes centros como Alexandria e Suez.
As informações sobre mortes são desencontradas, mas fontes médicas estimam que, no país todo, 25 pessoas tenham morrido. No Cairo, o total de feridos supera mil pessoas.
Violência cresce
O jornalista da BBC Assad El Sawey relatou ter sido espancado com barras de aço pela polícia secreta, enquanto cobria uma manifestação no centro do Cairo. Apesar de ter se identificado como repórter, ele foi detido.
Os conflitos que ocorreram no dia sagrado de orações para os muçulmanos foram os mais violentos desde terça-feira, data dos protestos iniciais contra a ditadura.
Carros e prédios como o escritório do partido governista no Cairo foram incendiados, e soldados do Exército tiveram de conter uma tentativa de ocupar a tevê estatal.
Segundo forças de segurança egípcias, o ex-diretor da agência nuclear das Nações Unidas e Nobel da Paz Mohamed ElBaradei foi colocado em prisão domiciliar. Ele estava entre os manifestantes atacados com gás lacrimogêneo e canhões dágua na saída de uma mesquita na capital.
Outro líder oposicionista, Aymad Nour, foi hospitalizado após levar uma pedrada na nuca, segundo seu filho.
Um ativista egípcio que mora no Brasil afirmou que os protestos vêm sendo planejados pela internet há um ano. No Cairo desde anteontem para participar das manifestações, ele pediu para não ser identificado por questões de segurança. O governo egípcio bloqueou o acesso à rede e as comunicações via celular no dia de ontem.
Entre as principais causas da revolta no Egito estão fatores semelhantes aos que derrubaram Ben Ali, ditador da Tunísia, duas semanas atrás: crise econômica, com 40% da população do país vivendo abaixo da linha da pobreza, e corrupção endêmica.