Manifestantes desafiaram o toque de recolher e o próprio exército, ao escalar tanques e gritar slogans contra o governo| Foto: Khaled Desouki/AFP

Aliado

Obama pede realização de reformas

O presidente americano, Barack Obama, disse em pronunciamento na Casa Branca, ontem, que o ditador egípcio, Hosni Mubarak, deve cumprir as promessas feitas à noite à nação e dar "passos concretos" pela reforma política do país, pela promoção da democracia.

"O que é necessário agora são passos concretos para o avanço dos direitos do povo egípcio. Falei com ele [Mubarak] depois do discurso, e disse que agora ele tem a responsabilidade de dar sentido a essas palavras", disse Obama no discurso na Casa Branca.

No pronunciamento, Obama pediu ainda que as autoridades egípcias evitem usar a violência contra manifestantes pacíficos. O presidente americano telefonou para Mubarak pouco antes de falar na Casa Branca, e conversou com o ditador por cerca de 30 minutos.

O líder dos EUA disse ainda que é preciso haver maior diálogo entre autoridades e cidadãos no Egito. "O futuro do país será determinado pelo povo egípcio, que ama as mesmas coisas que nós [americanos], quer um mundo melhor para seus filhos e um governo responsável", afirmou ainda Obama.

Obama também afirmou que "governos no mundo todo têm a responsabilidade de dar resposta aos seus cidadãos". "Isso acontece em todo lugar do mundo, na América, na África, na Ásia, no mundo árabe", acrescentou.

"Quando estive no Cairo, eu disse que todo governo deve ser mantido pelo consenso, não pela coerção. Dias difíceis virão, mas os EUA continuarão a ser parceiros do Egito", disse o presidente.

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Marcha leva cartaz que diz:
Protesto pede em cartazes a saída de Mubarak, há 30 anos no poder
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Cairo - O ditador Hosni Mubarak, de 82 anos, que governa o Egito desde 1981, anunciou a dissolução de seu gabinete de ministros, na tentativa de conter os maiores protestos contra o seu regime em três décadas.

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Mubarak não deu, porém, nenhuma indicação de que pretenda sair do governo, principal reivindicação das manifestações que tomaram o Egito. Em discurso na tevê, ele disse que é seu pa­­pel manter a segurança no país e que há uma tênue linha entre a liberdade e o caos.

Durante o dia de ontem, antes do pronunciamento feito por volta da meia-noite (20h, no horário de Brasília), o ditador havia decretado toque de recolher e, em uma medida inédita, mandado o Exército para conter as manifestações nas ruas das principais cidades.

Dezenas de milhares participaram de protestos na capital, Cairo, e em grandes centros co­­mo Alexandria e Suez.

As informações sobre mortes são desencontradas, mas fontes médicas estimam que, no país todo, 25 pessoas tenham morrido. No Cairo, o total de feridos su­­pera mil pessoas.

Violência cresce

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O jornalista da BBC Assad El Sa­­wey relatou ter sido espancado com barras de aço pela polícia secreta, enquanto cobria uma manifestação no centro do Cairo. Apesar de ter se identificado co­­mo repórter, ele foi detido.

Os conflitos que ocorreram no dia sagrado de orações para os muçulmanos foram os mais violentos desde terça-feira, data dos protestos iniciais contra a ditadura.

Carros e prédios como o escritório do partido governista no Cairo foram incendiados, e soldados do Exército tiveram de conter uma tentativa de ocupar a tevê estatal.

Segundo forças de segurança egípcias, o ex-diretor da agência nuclear das Nações Unidas e No­­bel da Paz Mohamed ElBaradei foi colocado em prisão domiciliar. Ele estava entre os manifestantes atacados com gás lacrimogêneo e canhões d’água na saída de uma mesquita na capital.

Outro líder oposicionista, Aymad Nour, foi hospitalizado após levar uma pedrada na nuca, segundo seu filho.

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Um ativista egípcio que mora no Brasil afirmou que os protestos vêm sendo planejados pela internet há um ano. No Cairo desde anteontem para participar das manifestações, ele pediu para não ser identificado por questões de segurança. O governo egípcio bloqueou o acesso à rede e as comunicações via celular no dia de ontem.

Entre as principais causas da revolta no Egito estão fatores se­­melhantes aos que derrubaram Ben Ali, ditador da Tunísia, duas semanas atrás: crise econômica, com 40% da população do país vivendo abaixo da linha da po­­breza, e corrupção endêmica.