Vista da da usina nuclear Daiichi, em Fukushima, no Japão| Foto: REUTERS/Japan Maritime Self-Defence Force/Handout/Files

Trabalhadores da usina nuclear Daiichi, em Fukushima, no Japão, começaram a retirar a água radioativa que está inundando importantes instalações da unidade, disseram hoje funcionários. Essa tarefa vinha sendo adiada nas três últimas semanas, enquanto se realizava o controverso lançamento de água pouco radioativa de tanques de armazenamento para o oceano.

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A limpeza de estimadas 60 mil toneladas de água radioativa dos reatores mais danificados, os números 1, 2 e 3, e de outras estruturas deve durar semanas. Isso porque há sérios riscos à saúde associados a qualquer contato direto com essa água, se ela espirrar ou vazar.

"O trabalho para drenar a vala do reator número 2 começou ontem" disse o funcionário da Agência de Segurança Nuclear e Industrial Hidehiko Nishiyama. Nas últimas semanas, operadores não conseguiam fazer reparos nos sistemas de armazenamento por causa dessa água contaminada. O funcionamento dos sistemas de refrigeração é essencial para manter os reatores estáveis.

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Acredita-se que a água no reator 2 tenha um nível de radiação cem milhões de vezes maior que o permitido. Essa água ameaça transbordar da vala e vazar para o oceano. Anteriormente, a água foi localizada vazando de uma rachadura, tapada em 6 de abril. Esse vazamento temporário contribuiu para o rápido aumento dos níveis de radiação nos mares adjacentes à usina, no norte do Japão.

A água nesta vala será transferida para o condensador de vapor localizado no prédio da turbina do reator número 2. A ideia é transferir 700 toneladas de água para o condensador de vapor, cuja principal função é permitir que o vapor do reator se resfrie e se transforme novamente em água.

Estima-se que haja até 20 mil toneladas de água no porão e na vala do reator 2. Qualquer água que não for transferida para o condensador será estocada em uma estrutura para reprocessamento de resíduos, que pode armazenar até 30 mil toneladas. Como muitas estruturas da usina, a de reprocessamento foi coberta por água, após o terremoto e o tsunami de 11 de março, e não poderá ser usada para armazenagem até que a água do mar esteja drenada e sejam examinados possíveis vazamentos. Esse processo deve levar pelo menos uma semana.

Preocupação

A liberação de água radioativa no oceano levou a reclamações de representantes da indústria pesqueira e preocupações em países vizinhos como a China e a Coreia do Sul, pelo impacto potencial no ambiente. Funcionários japoneses disseram que, mesmo que esse ato de lançar água não seja o ideal, eles precisavam de espaço com urgência para a estocagem da água bastante radioativa.

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Os reatores 1, 2 e 3 ficaram cheios d'água após os problemas no sistema de refrigeração causados pelo terremoto, levando funcionários a jogar água do mar para garantir esse resfriamento. A proprietária da usina, Tokyo Electric Power (Tepco), trabalha com a companhia de energia nuclear francesa Areva para montar uma estrutura para purificação de água perto dos reatores danificados, segundo uma pessoa ligada ao assunto. "A ideia é limpar a água radioativa e usá-la de novo para resfriar os reatores, em vez de bombeá-la para outro local", explicou a fonte.

A Tepco informou hoje que a água no tanque de armazenagem do reator 4 subiu de temperatura, para 90 graus Celsius, levando a companhia a lançar mais água para resfriá-la. O reator 4 estava em manutenção quando ocorreu o terremoto e não perdeu combustível. O alto índice de radiação detectado hoje no tanque, porém, é um indício de que o combustível nesse tanque pode estar com algum problema e libera radiação.

O Ministério da Educação e da Ciência informou que estrôncio radioativo foi detectado no solo e em plantas em cidades além do raio de 30 quilômetros da usina nuclear. A quantidade é pequena e não representa risco à saúde humana. O estrôncio-90, um dos isótopos encontrados, é solúvel em água e dura bastante tempo. Ele pode ser acumular em plantas, peixes e humanos, podendo causar câncer nos ossos e leucemia.

Indenizações

O presidente da Tepco, Masataka Shimizu, disse hoje que a companhia avalia a possibilidade de adiantar pagamentos de indenizações, a fim de atender às necessidades imediatas das pessoas afetadas pelo acidente na usina Daiichi. Shimizu pediu desculpas em nome de sua empresa pelo acidente. Ele voltou ao trabalho na semana passada, após ser hospitalizado com pressão alta, e recentemente viajou até a região de Fukushima para pedir desculpas a moradores.

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Shimizu não citou valores, mas disse que esse ponto será avaliado. A Tepco planeja cortar pagamentos de seus executivos, como parte de seus planos de reestruturação para lidar com os grandes custos de reparos na usina e com as indenizações, explicou Shimizu.

A Tepco anunciou ainda que pretende acrescentar 1 gigawatt (GW) de energia elétrica gerada utilizando turbinas de gás no mínimo até o fim de junho, como parte dos esforços para lidar com o aumento sazonal da demanda no verão (local). O terremoto e o tsunami de 11 de março reduziram quase pela metade a capacidade da empresa de produção de energia, para cerca de 31 GW. Esse anúncio foi feito pelo vice-presidente executivo da empresa, Takashi Fujimoto.

A Tepco já garantiu compras adicionais de óleo diesel e gás natural liquefeito, para usar em abril e maio em algumas de suas turbinas, disse Fujimoto, sem especificar volumes ou preços. A Tepco espera no fim de julho ter uma capacidade de produção de 46,5 GW de energia. Segundo Fujimoto, a companhia espera conseguir ainda mais, chegando a 50 GW para evitar qualquer falta de energia, como ocorreu após o terremoto e o tsunami. Ontem, a estatal Qatargas afirmou em comunicado que possui capacidade suficiente para entregar cargas extras de gás natural liquefeito.