Oslo - No prédio ao lado do Ministério do Petróleo, o relógio quebrado ainda marca 15h50 parado poucos minutos após a explosão de uma bomba no primeiro atentado do terrorista Anders Behring Breivik no dia 22 de julho. Os ataques cometidos por um cidadão norueguês que matou 77 pessoas funcionaram como um toque de despertar para a comunidade imigrante no país, prestes a buscar nas urnas uma representação política contrária à xenofobia nas eleições locais, nos dias 11 e 12 de setembro.
Diante do novo quadro, os partidos políticos adaptam seus discursos e estratégias de campanha para amealhar os votos dos estrangeiros. E segundo pesquisa da consultoria Synovate, a expectativa é de comparecimento recorde de 81% da população.
Nas últimas eleições locais, o percentual havia sido de 61,2%. As regras eleitorais determinam que somente cidadãos noruegueses podem votar nas eleições para o Parlamento. Em pleitos locais, no entanto, todos os residentes legais têm direito de participar.
Na prática, os imigrantes podem ter papel decisivo na disputa. Segundo dados do Instituto de Estatística do país, os estrangeiros ou filhos de estrangeiros chegam a 10% da população apta a votar ou 386.700 pessoas. Na capital, a proporção é ainda maior: um em cada quatro eleitores não tem origem norueguesa.
É o caso de Hassan Hussein, 33, somali que pediu asilo há dez anos e mora atualmente em Bergen. Ele diz que "a Noruega é um lugar muito legal para viver", agradece o apoio recebido para aprender o idioma e arranjar trabalho, mas afirma que a integração total é uma ilusão. "O que ocorreu mudou muita coisa", diz ele, referindo-se ao massacre cometido por Breivik.
"Sou muçulmano, tive medo do que aconteceria se o autor do ataque fosse um muçulmano. Percebi que há mais racismo do que eu sentia, e, por isso, pretendo votar. Vai ser a primeira vez desde que passei a viver aqui."
A Somália está no topo do ranking de pedidos de asilo na Noruega. Dados do Diretório de Imigração mostram que somente entre janeiro e julho foram registrados 1.277 formulários do país. Do total de mais de 5 mil solicitações verificadas no período, Afeganistão, Eritreia, Irã e Iraque também chamam a atenção. E é justamente esse grupo que desperta as maiores queixas entre os críticos da política de portas abertas. Linda Izaghari, especialista do centro de estudos Minotenk, afirma que parte dos noruegueses sente que os impostos são usados para custear a instalação de imigrantes. "Temos petróleo e um sistema de bem-estar social invejável, mas, com a carga tributária elevada, parte da população avalia que seu dinheiro é usado para subsidiar imigrantes. Essas pessoas não estão cientes de que não podemos simplesmente expulsá-los, que essas políticas fazem parte de acordos internacionais", explic a.
Benefícios
De acordo com o estudo "Integração assistida, mas não para todos: provedores de serviços de bem-estar social norueguês e migração trabalhista da União Europeia", os governos locais oferecem aos refugiados apoio financeiro, treinamento profissional, orientação cultural e 300 horas de aulas de norueguês.
As mesmas condições não se repetem com as pessoas que migram para trabalhar no país, como Evelyn Olusanya, 28 anos, que nasceu na Nigéria. Grávida de oito meses e meio e com formação na área de Finanças, ela veio para a Noruega há cerca de um ano para acompanhar o marido, que trabalha em Bergen. "Aqui não é um paraíso de oportunidades. Tenho tentado encontrar emprego há meses e agora vou ter um bebê. Distribuí centenas de currículos e compareci a dezenas de entrevistas, mas sempre fui recusada", lamenta.
As estatísticas confirmam que arrumar emprego é mais difícil para os estrangeiros. Em maio, o desemprego entre os noruegueses era de 1,9%. Entre os imigrantes, a taxa era de 6,5%. Ainda assim, os partidos noruegueses têm feito um esforço para cortejar essa parcela da população. Em entrevista ao jornal Dagens Naeringsliv, Libe Rieber-Mohn, candidata do Partido Trabalhista em Oslo disse que está fazendo o possível para mobilizar esses eleitores, enquanto o Partido Conservador busca atrair os poloneses. Dentro de uma semana, o embate será nas urnas.