Shannon ONeil, do centro de pesquisas norte-americano Conselho de Relações Exteriores, acredita que a reforma da saúde é uma "mudança substancial", mas não significa que o princípio do "direito universal à saúde" seja reconhecido nos Estados Unidos.
A reforma aprovada pela Câmara é o reconhecimento do princípio do direito universal à cobertura de saúde nos EUA depois de 100 anos?
Não. Esta reforma é substancial, dá continuidade a conquistas sociais anteriores, com a aprovação de programas de assistência médica, como o Medicaid e o Medicare, aprovado em 1965. Mas, a reforma proposta pelo presidente Obama não prevê o direito universal à cobertura de saúde, no mesmo sentido que ele existe em países europeus ou mesmo no Brasil.
Como o fato de que 11 milhões de imigrantes ilegais ficaram fora dos benefícios da lei vai impactar no debate sobre a reforma imigratória?
A passeata em Washington serviu para lembrar ao presidente Obama e aos congressistas de que há urgência no debate de uma reforma imigratória. Mas esta reforma é ainda muito polêmica e inclui muitos outros temas, além de benefícios na área de saúde.
Mas Obama fez campanha em 2008 prometendo fazer uma reforma das leis de imigração. Será que excluir os imigrantes ilegais da reforma da saúde não foi uma quebra das promessas de campanha?
Não. Ele prometeu fazer uma reforma da saúde, mas não disse que ela os incluiria. É um tema que deve ser tratado na reforma da lei de imigração.
A reforma da saúde vai representar uma mudança cultural numa sociedade que sempre se pautou pelos direitos individuais?
Não. É uma mudança importante e substancial, mas ninguém está começando do zero. Os americanos decididamente continuam a respeitar o individualismo e a recusar planos de saúde governamentais. Por isso, a chamada "opção pública" não passou nas votações no Congresso.