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Grande grupo: a maioria das descobertas é de espécies de insetos

Washington - A maioria dos habitantes misteriosos do mundo é formada por insetos e outros invertebrados, e, é claro, a taxa de descoberta de novas espécies de insetos é de magnitude maior que a dos mamíferos, anfíbios, peixes ou plantas. Dos 85 milhões de espécimes biológicos do Instituto Smithsonian – uma das maiores coleções do mundo –, os insetos representam 35 milhões, e estão se acumulando. "Temos novas espécies de insetos chegando aos baldes", conta Scott E. Miller, subsecretário de ciência do Instituto Smithsonian (EUA). "A coleção cresce em algumas centenas de milhares por ano", calcula.

Adicionalmente, considera-se que os insetos, e sua família artrópode, sofrem desproporcionalmente pela perda de hábitat, pois muitos são especialistas endêmicos a um pequeno nicho ecológico. Conforme May Berenbaum, da Universidade de Illinois, é difícil que as pessoas se identifiquem com criaturas que usam os ossos do lado exterior e possuem pernas que se dobram para trás. "Se encontrássemos uma nova espécie de besouro, ou mesmo toda uma nova família deles, quem se importaria?", questiona Jean Boubli, da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem.

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Veja que brasileiros descobriram um novo macaco na Amazônia brasileira
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Washington - Nas áreas internas do Museu Na­­cional de História Natural do Ins­­tituto Smithsonian, ao longo de um corredor que poderia facilmente acomodar uma série de pistas de boliche, Kristofer M. Hel­­gen, curador da seção de mamíferos, abre um dos milhares de ar­­mários de metal enfileirados contra as paredes, e gesticula grandiosamente para seu conteúdo. Den­­tro, esta uma bandeja com uma dúzia de roedores secos, com pelos castanhos e caudas ordenadamen­­te esticadas, como salsichas em varetas. Ele abre outros armários, revelando pequenos morcegos com cara de raposa, um par de mor­­cegos gigantes com afiados caninos bicúspides, um mamífero do tamanho de uma doninha com um focinho suspenso, além de um morcego, cujas asas, translúcidas e matizadas, pareciam-se com paraquedas de brinquedo.

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Os animais vieram de Nova Gui­­né, Ilhas Salomão, Quênia, Célebes – mas todos possuem al­­go em comum: eles são novos para a ciência, alguns deles tão novos que ainda nem receberam nomes. E os espécimes do Smithsonian são apenas parte de uma tendência muito mais ampla.

Fabio Rohe, da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem, e colegas acabaram de anunciar a descoberta de um novo macaco na Amazônia brasileira, um pequeno sagui com uma cauda de 30 centímetros e pele cor de ferrugem, cinza e dourado, enquanto outros cientistas do grupo de conservação já detectaram, recentemente, novas espécies de primatas na Bolívia, Índia e Tanzânia.

Desde que a última compilação dos mamíferos do mundo foi publicada, em 2005, calculando as aproximadas 5.400 espécies mamíferas conhecidas até então, diz Helgen, impressionantes 400 ou mais espécies foram adicionadas à lista. "A maioria das pessoas não percebe isso", explica, "mas estamos exatamente no meio da era de descoberta de mamíferos".

Como ele e outros biólogos bem sabem, estamos também no meio de uma grande destruição de espécies, uma era de extinções em massa pela qual nós humanos, em gran­­de parte, somos culpados. Estimativas de perda de espécies anuais variam amplamente – e são, de qualquer forma, meramen­­te estimativas grosseiras –, mas a maioria dos pesquisadores concorda que, como resultado da destruição de habitat, instabilidade climática, vazamento de pesticidas, lixo nos oceanos, espécies in­­vasoras e outros efeitos "antropogênicos" no ambiente, a taxa de ex­­tinções está muitas vezes superior à peneira crônica da natureza.

"Nossa melhor projeção é que essa taxa esteja centenas de vezes acima da linha de base", afirma John Robinson, vice-presidente executivo da Sociedade de Con­­ser­­vação da Vida Selvagem. "O problema é que só descrevemos cerca de 15% de todas as espécies da Terra, então a maioria do que está sendo extinto é formada por animais que ainda nem conhecemos", acrescenta.

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Jean Boubli, que dirige os programas da Sociedade de Con­­servação da Vida Selvagem no Brasil, diz estar planejando usar o sagui recentemente descoberto em seus esforços para evitar a construção de estradas pavimentadas na região amazônica, ainda intocada, onde vivem os primatas, a cerca de 105 quilômetros de Manaus. "Encontrar esse macaco agora foi uma dádiva divina", comemora ele, "para levar nosso caso às autoridades, que abrir o acesso à floresta seria um desastre".

"Sabemos que estamos perdendo muitas espécies no geral, mas quando se trata das espécies grandes e carismáticas, em grande parte estamos conseguindo aguentar", afirma Robinson. Porém mes­­mo nossas mascotes mais queridas – os pandas, os leopardos da neve, os gibões e as baleias – per­­ma­­necem um mistério para nós, suas vidas selvagens inalcançáveis. "Nós achamos que conhecemos muito bem os mamíferos, mas dispomos do tipo mais básico de informações sobre apenas 6% de­­les", diz Mil­­ler.

Além disso, os conservacionistas agora estão lutando com a questão de onde, e sob quais condições, a preciosa megafauna so­­brevi­­vente estará vivendo dentro de 5, 10 ou 50 anos. "Em parques restritos e refúgios? Em zoológicos? Ou em meio a alguma imagem re­­construída do brutal e es­­plêndido labirinto no qual seus an­­cestrais, e os nossos, viveram e morreram e evoluíram?", perguntam. Isso nos leva de volta à necessidade de saber o que está lá fora, todo o legado filogenético: os ra­­tos, morcegos e besouros, os sapos, as algas.

"Se você não conhece o nível da biodiversidade existente, como irá conservá-la?", questiona Vicki A. Funk, curadora do Herbário Na­­cional dos EUA.