Glenn Greenwald, o jornalista norte-americano que publicou documentos vazados pelo ex-funcionário da inteligência dos Estados Unidos Edward Snowden, planeja fazer novas revelações "dentro dos próximos 10 dias mais ou menos" sobre a vigilância secreta da Internet praticada pelos Estados Unidos.
"Os artigos que publicamos são uma porção muito pequena das revelações que devem ser publicadas", disse Greenwald durante uma audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, que investiga o caso, nesta terça-feira (6).
"Com certeza vão ter muito mais revelações sobre a espionagem do governo dos Estados Unidos ... e como eles estão invadindo comunicações no Brasil e na América Latina", disse ele.
O correspondente do jornal britânico The Guardian baseado no Rio de Janeiro disse que pediu a ajuda de especialistas para entender alguns dos 15 mil a 20 mil documentos sigilosos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos que Snowden passou para ele, alguns dos quais são "muito longos e complexos e levam algum tempo para serem lidos".
Greenwald disse à Reuters que não acredita que o site pró-transparência WikiLeaks obteve um pacote de documentos de Snowden e que somente ele e a cineasta Laura Poitras têm arquivos completos do material que vazou.
O jornalista afirmou que Snowden, que estava escondido em Hong Kong antes de viajar à Rússia no fim de junho, estava feliz por deixar o aeroporto de Moscou depois que a Rússia lhe concedeu asilo temporário.
Greenwald também contou que Snowden estava satisfeito em ver o debate que despertou em todo o mundo sobre a privacidade na Internet e os programas secretos de vigilância norte-americanos usados ââpara monitorar e-mails.
"Estou falando com Snowden muito regularmente desde que saiu do aeroporto, quase todo dia. Usamos criptografia muito forte para comunicar", disse o jornalista a parlamentares. "Ele está muito bem."
Após uma reunião em junho com Snowden em Hong Kong, Greenwald publicou no The Guardian a primeira de muitas reportagens que atingiram a inteligência dos EUA ao revelar a amplitude e a profundidade da alegada vigilância pela Agência de Segurança Nacional do uso de telefone e Internet de cidadãos norte-americanos.
No mês passado, em reportagem com coautoria de Greenwald, o jornal O Globo afirmou que a NSA espionava países latino-americanos com programas que podem monitorar bilhões de e-mails e telefonemas em busca de atividades suspeitas. Países latino-americanos se irritaram com o que consideraram uma violação da sua soberania e exigiram explicações e um pedido de desculpas.
Segredos comerciais
No Brasil, o maior parceiro comercial dos Estados Unidos na América do Sul, senadores irritados questionaram uma visita de Estado que a presidente Dilma Rousseff planeja fazer a Washington em outubro e uma compra de caças norte-americanos, avaliada em bilhões de dólares, que o país vem considerando.
Nesta terça-feira, Greenwald foi salpicado com perguntas se a NSA era capaz de espionar segredos comerciais do Brasil, incluindo a descoberta de promissoras reservas de petróleo em alto mar e as comunicações da presidente e das Forças Armadas.
Greenwald não tinha detalhes sobre alvos específicos e disse que os documentos não revelaram os nomes de empresas de telecomunicações e de Internet nos Estados Unidos e no Brasil que poderiam ter colaborado com a NSA para a coleta de dados de usuários.
O presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), disse que na próxima audiência sobre o tema algumas empresas de telecomunicações e de Internet serão convidadas para ver se colaboraram de alguma maneira com a espionagem da NSA.
O jornalista disse que Snowden planeja ficar em Moscou "enquanto precisar, até que possa garantir a sua situação."
Ele disse Snowden sabia que corria o risco de passar o resto de sua vida na prisão ou sendo caçado pela nação mais poderosa do mundo, mas que não tinha nenhuma dúvida sobre sua decisão de vazar os documentos sobre os programas de espionagem dos Estados Unidos.
Greenwald criticou os governos ao redor do mundo por não oferecerem proteção a Snowden, apesar de terem criticado publicamente a espionagem de seus usuários de Internet praticada pelos Estados Unidos.
Enquanto isso, Washington está trabalhando por meio de canais diplomáticos para persuadir os governos a parar de reclamar sobre os programas de vigilância, disse ele.
"O governo brasileiro está mostrando muito mais raiva em público do que está mostrando em discussões privadas com o governo dos Estados Unidos", disse Greenwald a repórteres. "Todos os governos estão fazendo isso, mesmo na Europa."
Em discurso na Organização das Nações Unidas nesta terça-feira, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, chamou a intercepção de telecomunicações e atos de espionagem na América Latina de uma "questão grave, com profundo impacto sobre o ordenamento internacional", sem mencionar os Estados Unidos pelo nome.
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