Cerca de 60 pessoas foram resgatadas vivas nesta segunda-feira (6) dos escombros deixados pelo terremoto que atingiu, durante a madrugada, a região central da Itália, segundo os bombeiros.
O número de mortos atinge pelo menos 150. Ficaram feridas 1.500 pessoas, e pelo menos 70 mil estão desabrigadas, segundo as autoridades. Os desabrigados devem passar a noite em tendas improvisadas e hotéis, segundo o governo.
Depois de 17 horas de trabalhos, os socorristas continuam buscando sobreviventes e acreditam que ainda há centenas de pessoas entre os destroços.
O premiê Silvio Berlusconi disse que mil barracas serão instaladas para abrigar entre 8 e 10 pessoas cada. Outras 4.000 pessoas serão levadas a hotéis da região.
L'Aquila, pequena cidade medieval de 60 mil habitantes que foi a mais atingida pelo tremor, vive uma noite de "cidade fantasma".
Nenhuma rua do centro histórico -praticamente vazio- se salvou, e os destroços tomam a cidade.
"Embaixo tem mortos, é proibido tirar fotos ou entrar", disse um policial em uma ruela central coberta de muros derrubados e vidros quebrados.
A cidade está em silêncio, e os moradores temem voltar para suas casas, ainda ameaçadas de ruir. Vários deles partiram dali.
Policiais patrulham os escombros e checam casa por casa, em uma tentativa de ajudar os moradores mais velhos e de evitar a ação de saqueadores.
Vários carros continuam enterrados pelos escombros, e um sino segue caído no chão depois de ter se desprendido de uma torre de igreja a 15 metros de altura.
O tremor ocorreu de madrugada, quando a maioria dos habitantes dormia.
Os danos atingiram a maior parte da cidade de L'Aquila. Pelo menos 10 mil imóveis foram danificados. Um albergue de estudantes e algumas igrejas históricas ruíram. Carros foram soterrados pelos escombros, e motoristas demoraram horas para serem resgatados.
"Eu acordei ouvindo um barulho que parecia uma bomba", disse Angela Palumbo, de 87 anos, moradora que estava em uma rua de L'Aquila. "Conseguimos escapar com as coisas caindo em nosso redor. Tudo estava chacoalhando, os móveis caindo. Não lembro de ter visto nada parecido na vida."
O governo italiano decretou estado de emergência na região de Abruzzo.
Vidas salvas
Segundo o diário "Corriere della Sera", seis estudantes que estavam na Casa do Estudante, em L´Aquila, foram retirados com vida após terem sido soterrados por escombros 16 horas depois do abalo sísmico que matou pelo menos 150 pessoas. Destes, somente um não conseguiu sobreviver após chegar no hospital.
Em San Gregorio (L´Aquila), uma mãe salvou a filha de 2 anos ao usar o próprio corpo como escudo para proteger a menina. A criança foi levada de helicóptero para um hospital.
Já em Abruzzo uma mãe acabou sendo encontrada abraçada com os dois filhos. Os três, que moratava em um prédio de quatro andares, foram encontrados mortos.
Em Fossa, uma garota russa de 3 anos, que morava com a família na região há um mês, morreu. Sua irmã gêmea conseguiu sobreviver e a sua mãe se feriu.
Intensidade
Esse foi o mais forte terremoto na Itália desde 1980, que provocou a morte de 2.700 pessoas no sul do país. O tremor de cerca de 30 segundos, que ocorreu às 3h45 desta segunda (22h45 de domingo em Brasília) fez Roma tremer de susto. Moradores assustados deixaram suas casas para buscar proteção nas ruas, com medo de possíveis desabamentos. Algumas casas e prédios do centro histórico da capital italiana sofreram pequenos danos.
O Centro Nacional de Informações de Terremotos dos Estados Unidos informou que o terremoto atingiu 6,3 graus na escala aberta de momento, e teve epicentro a 95 km de Roma, a uma profundidade de 10 km, às 3h32 locais (22h13 de Brasília).
Entretanto, o diário italiano "La Repubblica" informa, na sua página na internet, que a magnitude do tremor foi de 6,7 graus, e o epicentro teria sido localizado em Arischia, entre as regiões de Lazio e Abruzzo.
Na província de LAquila, em Abruzzo, 26 municípios foram atingidos. Na capital da província, também chamada de LAquila, cidade frequentada por 100 mil universitários, a república de estudantes desabou, matando vários deles. No centro histórico, a perda de monumentos artísticos.
LAquila, uma cidade medieval do século XIII perdeu boa parte do seu patrimônio histórico. Uma igreja, das Santas Almas, ganhou esse nome depois do terremoto de 1703 que destruiu toda a cidade. Muitos mortos foram enterrados no local.
Polêmica
Um sismógrafo italiano que trabalha no Instituto Nacional de Geofísica da Itália (Inaf, na sigla em italiano), Giampaolo Giuliani, e que estuda terremotos há mais de dez anos no Abruzzo, previu o sismo e avisou as autoridades locais. Ele desenvolveu um método experimental para detectar terremotos e avisou as autoridades regionais no final de março que um grande terremoto iria golpear L'Aquila e a região do Abruzzo, porque mais de 30 terremotos pequenos foram registrados na região desde meados de fevereiro, segundo informações do diário milanês Corriere della Sera. O método consistiria na análise de um gás, o randon, que é liberado pela terra em grandes quantidades antes de um terremoto.
O chefe da Defesa Civil do Abruzzo, Guido Bertolaso, disse no dia 31 de março que "imbecis tentam difundir notícias falsas" sobre terremotos no Abruzzo, logo após o alerta de Giuliani, que havia previsto o terremoto para o dia 29 de março. Giuliano foi advertido pelas autoridades por "espalhar o pânico" em L'Aquila, cidade onde vive.
Nesta segunda-feira, após o desastre, Giuliani falou com amargura ao Corriere della Sera: "Pode ser que amanhã me coloquem na cadeia, mas eu confirmo: não é verdade que os terremotos não possam ser previstos. Faz dez anos que nós conseguimos prever eventos deste tipo em uma distância de 100 a 150 quilômetros".
Na tarde desta segunda-feira, Bertolaso disse em L'Aquila, ao lado de Berlusconi: "todas as informações e os dados nas mãos dos maiores especialistas estabeleceram que não era prevista uma situação mais grave de terremoto que aquelas ocorridas nos últimos dias". As informações são da Agência Ansa.
Relatos de brasileiros
A brasileira Luisa Gomes Mendonça, de 42 anos, mora em Riano, na província de Roma, e contou ao G1, por telefone, que sentiu o tremor na madrugada. "O cachorro latiu e nós sentimos tudo tremendo. Até saímos na rua para ver o que era". Ela disse que a família do marido mora na região afetada pelo terremoto, mas que estão todos bem.
O estudante de psicologia Márcio Mattoso Boaventura, 25, que vive há dois anos e meio em Roma, testemunhuou os efeitos do terremoto e contou por telefone ao G1 que acordou apavorado. "Acordei apavorado, sem saber o que estava acontecendo. Minha cama e o lustre balançavam, e eu senti o prédio dançar". Ele acrescentou ainda que os moradores saíram de seus quartos para ver o que tinha acontecido.
"A sensação é de não saber o que vai acontecer. O terremoto durou cerca de 30 segundos, mas parecia que ele se estendeu por um minuto", afirmou Boaventura, de São Paulo. Ele afirma que, pelo fato de nunca ter testemunhado algo parecido, demorou para entender a situação. Segundo o estudante, hoje só se fala sobre isso em Roma: "cada um quer contar sua experiência". "A dona da casa onde moro, uma senhora italiana, já passou por isso outras vezes e sabia logo de cara que era um terremoto."
Para a brasileira Eloá Nascimento dos Santos, 25, a situação foi menos traumática. Há três meses em Roma, onde faz mestrado em economia, ela estava dormindo na hora do terremoto. "Senti a cama tremer, mas ela não saía do lugar porque estava presa a um móvel. Eu estava com febre alta e, por isso, cheguei até a achar que era alucinação", contou a estudante que, no Brasil, vivia em Santa Tereza (RJ).
Seu namorado, Luis Juracy Rangel Lemos, 29, chegou a acender a luz, mas também voltou a dormir. "Só hoje pela manhã, quando a vizinha veio comentar com a gente, descobrimos que era um terremoto. Só se fala nisso, estão todos bastante preocupados com as áreas mais atingidas. Perto de nós, não houve incidentes mais graves", afirmou a estudante.
Segundo ela, somente os italianos souberam imediatamente que se tratava de um terremoto. "Minha vizinha ficou com o filho perto de uma pilastra, por uma questão de segurança."
Repercussão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma nota de condolência ao seu colega italiano, Giorgio Napolitano, por conta da tragédia.
O papa Bento XVI rezou pelas vítimas, em particular pelas crianças, informou o escritório de imprensa do Vaticano. "O papa expressa sua dor à população afetada e oferece forações pela vítimas, em particular pelas crianças", diz a nota.
O presidente dos EUA, que estava na Turquia encerrando sua visita à Europa, também manifestou suas condolências às vítimas.