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direitos humanos

O desespero das crianças sírias doentes na sitiada Madaya

Crianças resgatadas após bombardeio na província síria de Idib | Civil Defense Idlib/Arquivo
Crianças resgatadas após bombardeio na província síria de Idib (Foto: Civil Defense Idlib/Arquivo)

Há um mês, Yaman Ezedin, um garoto de 10 anos que sofre de meningite, está se contorcendo de dor em Madaya diante do olhar impotente dos pais. Yaman faz parte do grupo de crianças doentes, ou feridas, que a ONU pede que sejam evacuadas com urgência dessa cidade síria sitiada pelo governo de Bashar al-Assad.

“Durante vários dias, teve 40ºC de febre. As compressas frias não adiantaram. Depois teve convulsões, alucinações permanentes e já não consegue ver a luz do dia”, relata seu pai, Alaa, em conversa por telefone de Beirute com a AFP.

Alaa Ezedin vive com sua família em Madaya, uma cidade de 40.000 habitantes controlada pelos rebeldes e situada 40 km ao noroeste de Damasco.

Há dois anos, a cidade está cercada pelas tropas do governo e de seus aliados. São pelo menos 600.000 pessoas vivendo em cidades sitiadas nesse país em guerra, a maioria pelas forças de Assad. O cerco a Madaya se completou em meados de 2015 e já causou mais de 60 mortes por desnutrição e inanição, muitas de crianças, segundo ONGs. Seu nome se tornou símbolo da agonia provocada pelo sítio.

“Yaman não para de gritar de dor, do tão insuportável que é”, desabafa o pai. “Ele se contorce diante da gente, e não podemos fazer nada por ele, a não ser lhe dar três analgésicos por dia. Ele já não nos reconhece”, explica.

“Salvem meu filho”

’Em entrevista à AFP, o médico Mohamad Darwish, de 25 anos, que está em Madaya, disse que o menino “já não reage a qualquer tratamento”. Um vídeo divulgado por ativistas na cidade mostra uma criança - que seria Yaman - quase inconsciente, gritando de dor sem parar. “Não sei a quem me dirigir. Peço ao mundo inteiro, à ONU, à Cruz Vermelha, que salve meu filho”, implora o pai.

Seu apelo foi difundido pelo doutor Darwish e pelo restante da equipe médica em Madaya. Segundo o profissional, 13 meninos e uma jovem de 22 anos, imobilizada e cega, precisam ser evacuados sem demora.

“Temos apenas um hospital de campanha, ao qual faltam remédios e equipamentos. Todo mundo sem exceção sofre de falta de cálcio e de perdas de sangue”, denunciou a equipe médica em sua página no Facebook. “Há 45 casos de (febre) tifoide”, acrescentou, convocando a comunidade internacional a reagir.

Darwish é dentista, mas se viu forçado a tratar, juntos com outros médicos que estão em Madaya - outro dentista e um veterinário -, todos os casos que chegam: cesáreas, amputações e cirurgias de todo tipo.

Ele explica o caso de Bisan Al-Shamaa, uma bebê de um ano, um dos mais terríveis. Nos primeiros meses, deram leite em pó à pequena e depois descobriram que estava misturado com gesso. “Agora, sofre de sepse”, uma infecção do sangue, lamenta.

Abdel Wahab Ahmad, socorrista que colabora com a ONG Médicos sem Fronteiras (MSF), publicou uma foto de Bisan e Usama, um menino de seis anos, ambos muito magros.

Desde o início da guerra na Síria em 2011, o governo recorreu à tática do cerco para sufocar a rebelião em várias regiões. Segundo um acordo de setembro de 2015, toda evacuação de Madaya e de Zabadani, cidade da província de Damasco também sitiada pelo governo, deve ser acompanhada de operações similares em Fua e em Kafraya. Essas duas localidades estão sitiadas pelos rebeldes. Para as crianças de Madaya, o tempo urge.

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