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Muitos estranharam o discurso que Clint Eastwood proferiu na Convenção Nacional Republicana, mas eu o achei estranhamente familiar. Quando Eastwood armou uma cadeira ao lado do pódio e a utilizou para um diálogo imaginário com o presidente, eu reconheci o ato como uma técnica do psicodrama – o método de psicoterapia que meu pai, o psiquiatra J. L. Moreno, começou a desenvolver quase 100 anos atrás.

Os terapeutas costumam usar a "cadeira vazia" como um modo de orientar um paciente a um relacionamento particular. "Aqui está sua mãe", eles diriam. "O que você diria a ela, se ela estivesse aqui, agora?"

A cadeira vazia pode ser uma preparação poderosa para uma situação problemática, um modo de concretizar emoções dormentes, suprimidas ou abstratas num relacionamento perturbado. Usada de maneira adequada, pode levar a grandes revelações.

Faz sentido que Eastwood, ator e diretor, tenha tido a ideia de utilizar uma cadeira vazia como um acessório para seu discurso. Como muitas outras técnicas de psicodrama, a cadeira vazia também tem sido usada por atores em treinamento para se sentirem dentro de seus personagens.

No entanto, de uma perspectiva terapêutica, um dos problemas em como Eastwood utilizou a cadeira vazia está no modo como ele não se sentou na cadeira para se por no papel do presidente. Muitas vezes as pessoas se sentem melhor tendo a oportunidade de atacar alguém na cadeira vazia. Certamente é agradável, talvez, poder extravasar palavras com raiva e sarcasmo contra alguém que nos decepciona ou magoa. Talvez Eastwood tenha se sentido melhor tendo essa oportunidade.

Porém, todos nós poderíamos ter aprendido mais se Eastwood tivesse feito o procedimento direito e se colocado na cadeira. O que o presidente teria dito em resposta a alguns de seus comentários? Por exemplo, quando Eastwood parecia contrastar a atitude do presidente em relação à guerra do Iraque com sua atitude em relação ao Afeganistão (este último sendo considerado "algo que valia a pena ser feito"), Eastwood, no papel do presidente, poderia ter se sentido compelido a apontar que a operação afegã foi iniciada pelo presidente George W. Bush e que ele (Obama) a apoiava. Talvez as opiniões de Eastwood tivessem se tornado mais generosas se ele tivesse assumido o papel do presidente.

Assim, Eastwood desperdiçou um momento terapêutico e educativo do qual nosso sistema político travado poderia se beneficiar: colocar-se no papel da outra pessoa a quem se está criticando e chegar a compreender o ponto de vista daquela pessoa "por dentro".

Tradução: Adriano Scandolara.

Jonathan D. Moreno, professor de Ética Médica e Políticas de Saúde na Universidade da Pensilvânia, autor de O Corpo Político: A batalha pela ciência na América.

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