Após as grandes manifestações, a questão que fica é se haverá resultados concretos para as populações . Em 2001, diante da crise econômica na Argentina, milhões de manifestantes protestaram com o lema "¡Que se vayan todos!" ("Que saiam todos!"), com a reivindicação de que o presidente Fernando de la Rúa renunciasse e que o sistema político mudasse. O presidente renunciou, mas o sistema não mudou tanto e, até hoje, a economia do país continua tropeçando nas altas taxas de inflação.
"A maioria das pessoas vai no embalo e depois as coisas tendem a se normalizar", diz o professor Dimas Floriani, do curso de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) sobre as manifestações. No caso da Espanha, ele considera que ainda se trata de um movimento sem direção, espontâneo, mas que, com o tempo, pode ir se focando em questões mais definidas. O desafio é manter a continuidade. "A grande pergunta é qual é o gás que esse movimento vai ter?", diz Floriani.
O professor Antônio José Silva, do curso de Ciências Sociais da UFPR, considera que as manifestações na Espanha são uma questão de sobrevivência. "Eles não estavam tão preocupados com a democracia, mas na hora em que estão morando na rua e não têm empregos saem para manifestar". O professor relembra o movimento Diretas Já, em que, mesmo com a pressão de milhões de pessoas que foram às ruas protestar, não ocorreu mudança imediata no sistema eleitoral nem na consciência da população. "O Tancredo foi eleito pelo colégio eleitoral. Depois, quando houve eleições diretas, o primeiro a se eleger foi o Collor", lembra, se referindo ao ex-presidente que renunciou após denúncias de corrupção.
José Silva também questiona as consequências das revoltas árabes e avalia a situação do Egito: "Derrubaram o (ditador Hosni) Mubarak, entrou um general e ninguém sabe até quando vai ficar, se depois vai assumir o filho dele ou um outro general".