Curitiba Terrorismo e armas nucleares. Dois temores do mundo moderno que figuram como pano de fundo de vários conflitos hoje. Qual representa mais ameaça à paz mundial? Os especialistas consultados pela Gazeta do Povo acreditam que o terror, um "inimigo sem rosto", é um desafio maior por ser uma prática indiscriminada e "relativamente nova".
Sérgio Zilio, do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Rio de Janeiro), considera que é mais difícil lidar com o terrorismo porque não existe doutrina e experiência diplomática. Diferente da problemática que envolve a questão nuclear, tratada na política internacional desde 1944. "Ou seja, o terror é um elemento novo. O neoterrorismo, a partir do 11 de Setembro de 2001, provocou forte impacto na doutrina norte-americana, que até então via a guerra apenas fora de seu território."
Ao mesmo tempo, o avanço do terrorismo coloca em xeque as políticas que as Nações Unidas vêm adotando para gerenciar este processo, avalia Zilio.
O terrorismo tem a capacidade de minar estados sem que tenha de contar com poderio bélico regular, explica Zilio. "Não temos doutrina para lidar com ataques terroristas que podem ocorrer onde menos se espera indiscriminadamente. Não existe mais um inimigo claro e isso é um profundo choque social." Enquanto o poderio nuclear, que vem se pulverizando, já permite ser previsto como é o caso de Coréia do Norte e Irã. "Há estudos que apontam a capacidade que esses países teriam de fabricar armas nucleares no médio e longo prazo. O temor é que Estados lancem mão de recursos nucleares de modo imprópio."
A globalização trouxe em seu bojo, além da proliferação do comércio internacional, a hegemonia norte-americana e seus interesses no Oriente Médio, região rica em petróleo, argumenta Eduardo Gomes, professor de Direito da Internacional da UniBrasil. "A tentativa dos EUA de implementar a democracia no Iraque levou a insurgência de movimentos radiciais."
Na época da Guerra Fria, os inimigos eram conhecidos e, hoje, sob o manto do terror são ocultos, diz Gomes. Já no caso do conflito entre Israel e Líbano, o que se vê no movimento islâmico Hezbollah é o uso de práticas terroristas para manter a resistência, analisa o especialista.
Uma outra grande preocupação é a associação desses dois problemas, o "terrorismo nuclear". "Ou seja, o temor de que armas nucleares caiam nas mãos de organizações terroristas", diz Gomes.
Neste mês, os EUA e a Rússia anunciaram que querem "combater o terrorismo nuclear" e consideram que os países "possam se beneficiar dela (a energia nuclear) sem ter que recorrer ao urânio enriquecido ou ao reprocessamento de combustível usado", mas sob o controle da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
No entanto, os EUA nunca vão guerrear contra Coréia do Norte ou Irã, por conta de seus prováveis "estoques de armas nucleares", argumenta Gomes. "A diplomacia e paciência estão sendo priorizadas."
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