O presidente Barack Obama está embarcando em algo que nunca vi antes assumindo duas missões impossíveis ao mesmo tempo. Ele quer resolver simultaneamente as duas piores crises do Oriente Médio: o conflito israelo-palestino e a disputa entre xiitas e sunitas no Iraque.
Ninguém pode dizer que Obama não tenha audácia. Se, por um milagre, as negociações de paz entre Israel e os palestinos realmente resultarem na solução de dois Estados, e iraquianos xiitas e sunitas conseguirem estabelecer um contrato de convivência, seria possível imaginar um Oriente Médio livre das debilitantes guerras e de regimes árabes autocráticos.
Obama merece crédito por ajudar a criar essas oportunidades. Mas ele, a secretária de Estado Hillary Clinton, o presidente palestino Mahmoud Abbas, o premier israelense Benjamin Netanyahu e os recém-eleitos líderes do Iraque precisam passar a jogar em outro nível para aproveitar este momento, ou seus oponentes o farão.
Exatamente porque há tanto em jogo, as forças da intolerância, do nacionalismo extremado e do obscurantismo religioso que existem em todo o Oriente Médio farão questão de garantir que ambos os processos de paz falhem.
Eles querem destruir a ideia de um Estado Palestino para que Israel continue preso em um regime que lembra o apartheid, com ocupações permanentes e antidemocráticas. E querem destruir a ideia de Estado único para os iraquianos, mantendo o país fraturado, de forma que nunca forme uma democracia multiétnica exemplar para outros Estados da região.
Eu espero que uma de minhas ideias sobre o Oriente Médio se prove errada: que naquela região os extremistas tendem a fazer o trabalho completo, enquanto os moderados se afastam.
Obama estava certo em manter a retirada do Iraque. O problema é que ele será lembrado pelo que acontecer ao país após a retirada. Isso está nas mãos dos iraquianos, mas nos diz respeito também. Precisamos manter forças especiais e o treinamento do Exército naquele país se quisermos um resultado decente. E, se sunitas, xiitas e curdos iraquianos conseguirem criar um contrato social pela primeira vez na história moderna árabe, significará que isso é possível em toda a região.
O líder israelense Yitzhak Rabin dizia que, para conseguir a paz, era preciso esquecer o terrorismo, mas lutar contra ele como se não houvesse processo de paz. Essa abordagem dupla precisará ser adotada tanto pelos iraquianos quanto por árabes, palestinos e israelenses moderados para que cheguem a algum lugar.
Tradução: Helena Carnieri