Barack Obama deixou a presidência dos EUA em meio a muitos elogios sobre a sua administração. Um balanço das principais promessas e políticas realizadas nos seus oito anos de gabinete indica, no entanto, que Obama deixará sua marca na história com ações que não tiveram o êxito esperado em diversos pontos, como nas políticas de imigração e no aumento da dívida pública. Em algumas áreas, suas ações podem ser consideradas péssimas.
Deportou milhões
Em sua campanha de 2008, Barack Obama afirmou em entrevista à emissora hispano-americana Univision que tomaria ações rápidas por uma nova política de imigração. Entre o começo de seu primeiro mandato, em janeiro de 2009, até setembro de 2016, o governo de Obama deportou cerca de 2,5 milhões de imigrantes – mais de 900 pessoas por dia. As deportações são voltadas para imigrantes que cometeram algum crime, como Obama afirmou em 2008: “Criminosos, não famílias. Criminosos, não crianças. Membros de gangues, não uma mãe que está trabalhando para sustentar seus filhos”. No entanto, a entrada indocumentada em território americano é considerada ilegal, o que, ironicamente, coloca todos esses imigrantes na lista de deportação.
Não cumpriu a palavra com os nativo-americanos
Em 2014 durante uma visita à tribo Sioux na reserva indígena de Standing Rock, Obama firmou o compromisso de fortalecer o relacionamento entre o governo dos EUA e a nação indígena. Mas menos de dois anos depois, o governo americano aprovou a construção da Dakota Access Pipeline (DAPL), um oleoduto de quase 2 mil quilômetros que atravessaria a área da reserva indígena em Standing Rock. Pelos meses seguintes, membros de nações indígenas e apoiadores acamparam em Standing Rock pelo fim do projeto. A ação foi respondida com repressão policial e prisões de manifestantes. “Os jovens cobraram Obama, dizendo que ele prometeu ajudá-los, e esse é o momento que eles precisam de ajuda”, disse Cody Two Bears, representante da comunidade de Cannon Ball. Em dezembro, o governo americano suspendeu a construção da DAPL na região. A retomada da construção foi adiada para depois do fim do mandato de Obama, e ainda poderá ser feita em terras indígenas. “Nós não ganhamos a guerra”, afirmou o membro do Conselho Tribal Sioux de Standing Rock, Dave Archambault II, em carta aberta. “Essa guerra está longe de terminar.”
Aumentou a dívida pública
Com o fim do governo de Obama em 2017, a dívida acumulada do governo norte-americano atingiu o maior nível desde a década de 1940. Na apuração realizada em 3 de janeiro, a dívida pública atingiu a marca de US$ 19,9 trilhões, equivalente a 107% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Desde a inauguração do mandato de Obama, em 2009, a dívida pública cresceu 85%. A principal causa apontada para o aumento do déficit federal e da dívida pública é o crescimento dos gastos em programas sociais, em especial o Affordable Care Act (ACA), popularmente conhecido como Obamacare.
Transformou o Obamacare em um fracasso
Desde sua implantação em 2013, o programa de saúde do governo americano vem acumulando problemas em todos os seus níveis de funcionamento: erros no site que impedem a inscrição, aumento dos preços em até 116%, desistência dos maiores planos de saúde em aderir ao programa e baixa oferta de opções que leva a monopólio de seguradoras em sete estados. O resultado é um alcance muito menor do que o previsto, arrecadação menor do que a esperada e o peso dessa diferença para os cofres públicos. “O ACA assumiu desde o começo uma agenda de reforma ambiciosa, mas algumas das suas abordagens se tornaram ineficientes, mal direcionadas ou sem ambição suficiente para solucionar problemas profundamente enraizados”, afirmam os pesquisadores Timothy Stoltzfus e Harold Pollack em estudo publicado pela The Century Foundation.
Passou a perna em Israel
Em resolução aprovada em dezembro de 2016, a ONU determinou que Israel interrompesse todas as atividades de assentamento no território palestino iniciadas em 1967. Os Estados Unidos têm poder de veto na resolução, mas o presidente Obama optou pela abstenção. A decisão é uma reversão da aliança histórica entre Israel e Estados Unidos. O país já utilizou cerca de 40 vetos no Conselho de Segurança da ONU para proteger os interesses estratégicos e de segurança de Israel no Oriente Médio. Com a mudança agora o governo israelense deposita suas expectativas na era pós-Obama e em Donald Trump.
Como Prêmio Nobel da Paz, foi o Rei da Guerra
Em 2016, o governo americano fez 26.171 bombardeios no mundo, equivalente a três bombas por hora em todos os dias do ano. No mesmo ano, as operações especiais ocuparam 138 países – cerca de 70% dos países do mundo – sob a justificativa de combater a Al-Qaeda em todos os territórios em que a organização teria atividade. Mas de acordo com relatório publicado pela Anistia Internacional, essa política de guerra global é uma violação dos direitos humanos. Sob o comando de Obama, o primeiro presidente a governar dois mandatos em estado de guerra, os Estados Unidos passam a considerar todos os homens em idade militar residentes das áreas atingidas como combatentes, o que os coloca como alvos de ataques individuais por drones. No último ano, a Anistia Internacional apontou pelo menos seis bombardeios por drones ilegais. De acordo com relatório do grupo de direitos humanos Reprieve publicado pelo The Guardian, os ataques por drones mataram 27 vezes mais inocentes do que alvos terroristas no Afeganistão, Paquistão, Somália e Iemen. Por outro lado, de acordo com a ONU, apenas em 2015 3545 civis morreram e 7457 ficaram feridos no Afeganistão. “O mal infligido aos civis é totalmente inaceitável”, declarou o diplomata sul-africano Nicholas Haysom, representante especial da ONU no país.
Deixou a violência das gangues tomar conta
Em 2016 a cidade de Chicago registrou o maior número de homicídios dos últimos vinte anos: 762 assassinatos, 63% mais do que 2015. A onda de crimes é causada por guerras de gangues, que crescem com o aumento dos índices de desemprego e falta de infraestrutura na periferia da cidade. Para os moradores de Chicago, cidade em que Obama começou sua carreira política, o então presidente tinha a responsabilidade de intervir. “Essa é uma condição horrível e nós merecemos algo melhor. Merecemos resgate e recuperação”, pediu o reverendo Jesse Jackson, líder proeminente na periferia de Chicago, em entrevista à NPR, rede pública de rádio dos EUA.
Ajudou a ditadura cubana
Em seus últimos momentos na presidência, Barack Obama determinou o fim da política “pés secos, pés molhados”, que garantia cidadania a todos imigrantes cubanos que pisassem em território americano. A mudança foi anunciada abruptamente, deixando sem asilo os migrantes que já estavam a caminho do país. “Aqui as pessoas estão arrasadas. A população está brava com Obama. O sonho americano acabou. Imagina o que isso significa aqui”, contou um cidadão cubano em entrevista ao jornal El País. Segundo ele, a medida coloca o país na pior situação desde o período de crise que sucedeu a queda da União Soviética. “Foi a pior coisa que aconteceu com os cubanos desde o Período Especial”, completou, se referindo à época em que o próprio governo cubano impôs restrições para o consumo e para a economia.
A defesa do legado presidencial
Ficou famosa a história de que Barack Obama andava sempre com um papel em que tinha anotado algumas de suas principais metas como presidente. E ficava de tempos em tempos analisando o que já tinha conseguido e o que faltava. Evidente que, na contabilidade dele, o governo teve mais sucesso do que seus opositores.
Em seu último discurso à frente da Presidência americana, na semana passada, Obama escolheu alguns poucos pontos para defender seu legado. Ao se despedir da função, disse que, oito anos atrás, se prometesse algumas metas – que segundo ele foram atingidas – diriam que ele estava prometendo demais.
A primeira parte do legado que Obama fez questão de defender foi o combate à recessão, iniciada após a crise de 2008. Quando se fala que o governo Obama aumentou a dívida pública, é preciso lembrar que foram gastos trilhões em dois pacotes de recuperação do país: um para salvar empresas e bancos que quebravam, outro para estimular a economia.
Obama assumiu logo depois da quebra do Lehman Brothers, quando estourou a bolha dos empréstimos imobiliários norte-americanos que, ficou evidente, vinham sendo feitos de maneira irresponsável. A política anticíclica adotada pelo governo democrata foi ousada. Só para salvar empresas como a GM, o governo investiu US$ 8 trilhões.
Na política internacional, Obama destacou a reaproximação com Cuba e o acordo nuclear com o Irã. Mas também citou o desmantelamento da Al-Qaeda, a rede terrorista responsável pelo principal atentado já realizado em território americano, em 11 de setembro de 2001. A captura e o assassinato de Osama Bin Laden, aliás, é um dos poucos temas em que republicanos e democratas se uniram.
O ex-presidente também ressaltou a vitória, do ponto de vista dos democratas, de dar seguro saúde para 20 milhões de americanos mais pobres. O Obamacare, como ficou conhecido o sistema, é criticado pelos republicanos pelo gasto que trouxe. Mas o programa teve um significado inclusivo relevante.
Por fim, Obama fez questão de falar de um tema que lhe é caro: a igualdade de tratamento para as minorias, que ele simbolizou na decisão do país de permitir o casamento entre homossexuais – uma decisão da Suprema Corte, mas de que o presidente se considera parcialmente responsável até pela indicação dos integrantes do tribunal.
Não se sabe o que ficou faltando riscar no papel de Obama. Se o que ele conseguiu fazer foi suficiente para colocá-lo em um bom lugar na história americana, só o tempo dirá.
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